Capítulo 23 / Voltando para casa

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Xandy preparou tudo para a nossa partida, depois que chegamos da viagem. Arthur e Helena namoraram muitas vezes, nesse passeio. E eu sei disso porque mamãe passava muitas horas trancada no quarto com Arthur, enquanto ficávamos no convés com vovó e vovô, Xandy e Raven. O apetite deles era voraz. Não queriam perder nenhum tempo que podiam ficar a sós.

E nós deixávamos esses amantes sossegados, por conta das maravilhas que Xandy nos mostrava. Até vovô ficou muito interessado quando ele nos revelava como era a vida em outros planetas. E se falássemos disso com as pessoas, elas diriam que somos malucos.

E, eu entendo agora que essa maluquez, vem do fato delas não conhecerem esse tipo de histórias e não conseguirem imaginar uma atividade criada pelos terráqueos em outros planetas. Ainda no século 2.318 permanecemos sozinhos no universo. Mas, acredito eu, que só por um tempo ainda.

Vovô disse que topava ir junto comigo a um planeta distante, ver como eles viviam. Eu queria saber o que uma menina de 5 anos faz para viver nesses lugares. Ela tem boneca? Pergunto eu ao Xandy.

− Claro que sim, mas é diferente das que eu vi com vocês. A de vocês é de um material que não fabricamos mais, porque eles eram muito poluentes. E usavam um tipo de matéria prima que hoje, lá no futuro, não utilizamos mais. Tudo lá é feito de fibras naturais. As bonecas são de pano, com carinhas, de porcelana. Quer ver? E ele nos mostrou o tipo de brinquedos que as crianças tinham. Eram coisas de se brincar ao ar livre. Diferente desse mundo de agora, que brincamos dentro de casa. Eu ia gostar muito.

Em nossa despedida, Xandy nos alertou desses riscos que corríamos ao transpor a barreira do tempo/espaço. Nossos corpos se desmaterializam numa espécie de nuvem, que faz a gente tremelicar e passar como se fosse por um buraco da minhoca, entre os tempos. E nosso coração tem que aguentar esse tranco. Mas, como Xandy, Raven e papai tinham vindo para este século, achamos que não corríamos riscos, mais do que eles.

Vovô se preocupava com mamãe. Mas, ela era independente e gostava dessas imponderações. Ela bem que tentou fazer Arthur ficar com a gente em nosso século. Mas, ele queria ela lá no futuro e a convenceu fazer essa viagem.

No dia da partida, tudo estava pronto. Papai, mamãe, eu e Susan, descemos a serra, junto com o vovô e vovó para pegar o barco. Xandy e Raven estavam esperando lá no porto. Prometemos que viríamos passar as férias com a vovó e o vovô. Mas, lá no futuro não estudamos como aqui fazemos. Não tem escola. Apenas, algumas semanas de reposições nas piscinas, são suficientes para colocar os hologramas. Contudo, marcamos um tempo para ficar com Dona Genovese e o Sr. Marchello. E assim, apesar da tristeza eles concordaram que fôssemos embora.

Na partida, os dois deixaram cair muitas lágrimas. E mamãe ficou segurando seu choro. Eu também não chorei. Suzan se derretia num mar de choradeiras, que dava dó. E papai comovido, também chorou. Xandy começou a cantar para espantar esse tempo de sofrimento da separação. O mundo do futuro não se conecta com tanta consternação. No meu século, a ansiedade e aflição faziam parte do modo de viver das pessoas. Vocês já não tem isso. Resolvem os conflitos muito mais fáceis do que nós e não prologam a dor. Ela vem e passa muito rápido para vocês. Vovó e vovô iriam ficar meses sozinhos. Mas, já estavam inventando uma viagem para fazer enquanto não voltávamos.

E Xandy rumou para alto mar, deixando no porto, Dona Genovese e um Sr. Marchello muitos machucados pela separação.

Mamãe feliz demais da conta, não se cabia numa emoção que a fazia tremer. Ela realmente queria muito viver com Arthur e entregava seu coração nas mãos desse homem inusitado que nos propunha o impossível de ser pensado. Atravessar o tempo, para um futuro onde a vida é muito mais tranquila e saudável.

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