Under the Stars

Preparativos

• f i f t e e n •

09h:00min p.m.

Meu quarto. Noite de Segunda-Feira.
Estou parada em frente ao espelho ao lado da porta branca de meu pequeno e empanturrado closet segurando um suéter em tom marfim à frente e deslizando meu olhar com a cabeça inclina pelo mesmo.
Não estava certa se concordar em ir àquela reunião fosse uma de minhas melhores escolhas. Eu nunca fui à festas quando estudava no antigo colégio, e não pelo motivo de não ser convidada, e sim, porque uma boa série, cobertores e uma noite fria eram as melhores companhias que poderia ter.
Logicamente, não ficava em plena paz - isso é um luxo que poucos conseguem ter quando se tem um irmão mais novo.

— O que está assistindo? — pergunta Mark surgindo por entre o negrume da sala, tendo o rosto iluminado pela TV ligada e segurando um saco de salgadinhos em uma mão e uma lata de refrigerante na outra.
— Série. — digo voltando minha atenção para a tela plana.
— Como você é especifica... — ele diz jogando-se no sofá ao meu lado, fazendo alguns salgadinhos pularem do saco e rolarem ao chão.
— Papai e mamãe...
— Já dormiram.
— E você não deveria fazer o mesmo? — pergunto arqueando uma sobrancelha e o olhando de relance. — Já passou do seu horário.
— Qual é, Kate Kat, horário para dormir é coisa de criança irresponsável — ele diz em um tom orgulhoso colocando um punhado de salgadinhos com os dedos já alaranjados na boca e tomando um gole do refrigerante em seguida. — E você não deveria estar bebendo alguma vodka em copinhos coloridos de plástico na festa da Brooke? Já está umas duas horas atrasada.
— Como... como sabe disso? — pergunto franzindo o cenho confusa, já que não havia dito à Mark ou à meus pais sobre a festa.
— Você precisa urgentemente colocar uma senha nesse seu celular, qualquer um pode ler suas mensagens.
— MARK! — grito incrédula levando uma almofada em sua direção para o acertar, mas o garoto coloca com uma certa agilidade o saco de salgadinhos na frente para defender-se, fazendo mais algumas bolinhas laranjas rolarem pelo sofá. — Não quero que fique lendo minhas mensagens! Isso é invasão de privacidade, mocinho!
— Hum — Mark da de ombros e me olha como se não estivesse ligando para o que dizia e vira o rosto em direção à TV, puxando a coberta que eu havia esticado para cobrir-me e enrolando-se na mesma. — Relaxa, eu não fiquei lendo todas as mensagens. Não estava muito afim de ver uma foto sua inapropriada para a minha idade, isso seria um trauma que jamais esqueceria — ele diz sem desviar o olhar à mim, e ao perceber que iria abrir a boca para falar algo em defesa própria, Mark estende algumas bolinhas  em minha direção e as coloca em minha mão. — Silêncio, essa é a melhor parte.

— Essa cor definitivamente não combina com você, Kate Kat. — diz uma voz infantil e debochada vinda atras de mim, fazendo-me afastar as lembranças do passado e voltar à realidade. — E isso se parece mais com um achado da Macy's em semana de liquidação.
— Mark... — digo sorrindo levemente e revirando os olhos, o olhando pelo reflexo no espelho apoiado com um dos ombros no batente da porta, os braços finos cruzados em frente ao peito e me encarando exibindo seus lábios tortos em uma careta descontente. — Eu não o acho tão ruim assim, foi a vovó que me deu no...
— No natal? — ele pergunta interrompendo-me e soltando uma breve risada voltando à sua postura normal para entrar no quarto. — Retiro o que disse, então foi feito à mão com um rolo de lã comprado em semana de liquidação em alguma loja de artesanato. Aquela uva passa velha é uma muquirana.
— Olha como você fala de nossa avó — digo o repreendendo, mas permitindo-me internamente em concordar com suas palavras. — Ela fez isso com o coração bondoso.
— Tão bondoso que não quis nem saber como ficamos depois do acidente.
— Okay, já chega. Vamos voltar para o assunto de antes. — não iria suportar se ficássemos falando sobre aquilo e peço na tentativa de encerrar aquele assunto.
— Para essa velharia? Não, você não vai com isso em uma festa lotada de adolescentes ricos que usam Chanel e Prada em um único look. — ele diz indo em direção ao meu closet e esforçando-se para afastar uma peça de roupa da outra.
— Como sabe tanto sobre moda tendo apenas doze anos? — pergunto sorrindo de lado ao o ver franzir o cenho por não gostar de minhas roupas enquanto deslizava os pequenos dedos por entre as peças. — Na sua idade eu usava roupas com estampas de unicórnios e flores e achava um máximo.
— Tenho pena de quem estava perto de você enquanto saía vestida como uma criança de rua.
— Mark Moore, não fale assim de minhas roupas! — digo recebendo um silêncio pela parte de Mark em seguida como resposta, e, depois de mais alguns segundos vasculhando o fundo do closet, desvia o olhar crítico à mim estendendo um vestido com decote leve, todo preto e com uma saia bailarina rendada em camadas terminando nos joelhos e deixando à mostra um pouco das costas na parte de trás.
— Esse foi o vestido que usei no funeral de nossos pais, Mark — digo engolindo em seco ao lembrar-me de vesti-lo em prantos e com um aperto no peito começando a dar presença. — Acho melhor...
— Desculpa, tinha esquecido — ele diz voltando o vestido para o lugar de antes e provavelmente desejando ter pego qualquer peça, exceto aquela. — Vou encontrar outra coisa.
— Eu posso ir com a jaqueta jeans, não deve ser uma festa como estamos imaginando que seja. Ashley disse que é apenas uma reunião pré-estudos. — digo e Mark, novamente esforçando-se para procurar algo no closet e mordendo seu lábio inferior, tira de lá e estende em minha direção um vestido justo todo bordado à paetês, preto e de alça única e transversal.
— Mark, não vou vestir isso, vou parecer uma dançarina de bordel. — digo arqueando as sobrancelhas e encarando o vestido.
— Katherine, vai ficar bem em você! Anda logo, escute o que eu estou te dizendo e veste para me mostrar depois — ele diz entregando-me e apontando para o banheiro ao lado. — Enquanto isso, vou queimar esse suéter...