Deslize

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• t h r e e •

— Pode me dizer o motivo? — pergunta Mark depois de passar algum tempo calado no banco do passageiro

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Pode me dizer o motivo? — pergunta Mark depois de passar algum tempo calado no banco do passageiro.
— O motivo de quê, Mark? — o questiono sem entender.
— O motivo de mudarmos de colégio, eu gostava do outro! — ele diz e para de encarar a janela ao seu lado e vira o rosto em minha direção. — Quero estudar onde estávamos, esse colégio novo deve ser um saco!
Suspiro parando o carro no sinal vermelho e desvio o olhar para o garoto.
— Mark, a tia May disse que nossos pais comentaram uma vez que queriam que estudássemos nesse colégio. Parece que disseram à ela que é um dos melhores do país.
— Não é o melhor do país quando não tenho meus amigos estudando nele — ele diz cruzando os braços finos em frente ao peito e encarando à frente. — Você vai ficar parada? Ficou verde!
Encaro o semáforo e acelero com o carro virando à direita.
— Você vai fazer novos amigos. E vou estudar no mesmo campus, só que vou estar no ensino médio enquanto você, no fundamental — digo e o olho antes de virar à esquerda. — E é melhor valorizar o lugar, nem todos conseguem uma bolsa como nós conseguimos.
— Deve ser porque é um colégio de pessoas ricas. — ele solta em meio a um suspiro.
— Mark, mamãe e papai querem que estejamos felizes por estudarmos em um campus que...
— Kate — diz Mark interrompendo-me e me encarando novamente. — Mamãe e papai não estão aqui...
Sinto como se um cubo de gelo estivesse escorregando por minha espinha e meu corpo se arrepia de imediato com um baque.
E-eu sei... eu só... — respiro fundo envolvendo com força o volante até perceber minhas juntas esbranquiçarem. — Às vezes eu esqueço.
Mark apoia sua mão - pálida como as do resto da família - na minha ao volante e relaxo com o toque.
— Não é só você que se esquece às vezes. Ainda espero mamãe ir no meu quarto todas as noites para me dar um beijo, como ela fazia com nós dois antes de dormirmos — diz ele retirando a mão e apoiando a cabeça no banco. — Mas ela não vai.
Sinto outro baque e forço para algumas lágrimas não escorrerem pelo meu rosto. Não gostava de chorar na frente do meu irmão, eu precisava ser o porto seguro dele daqui em diante. Ter uma imagem de uma pessoa forte, uma irmã forte.
Fico calada ainda dirigindo e percebo Mark me olhando sem dizer nada, mas deixando à mostra uma expressão questionadora.
— O quê? — pergunto à ele.
— Posso fazer uma pergunta?
— Pode.
Caso também aconteça algo comigo...
— Mark! — exclamo o interrompendo e ficando um pouco nervosa. — Nunca diga uma coisas dessas novamente! Não vai acontecer nada com você, okay?
Katherine, deixa eu falar!
Mark quase nunca me chamava de Katherine.
— Caso aconteça algo comigo — ele continua. — Promete que você não vai pensar em hipótese alguma em desistir?
— Desistir do quê? — pergunto o encarando por alguns segundos antes de perceber sua feição. — Mark...
— Eu sei que não é um assunto legal, mas eu preciso que me prometa.
Volto minha atenção no trânsito e suspiro lentamente.
— Para alguém com doze anos, você fala coisas que nem pessoas com a minha idade gostam de tocar no assunto... — digo e percebo os muros altos e o portão negro de ferro aberto do campus ao longe. — Tem alguma coisa acontecendo com você? Algo que está sentindo, ou percebendo que não está certo?
— Não. Não é nada — diz Mark comprimindo os lábios. — Eu só preciso ouvir que vai me prometer!
Um sentimento de preocupação começa a crescer em meu peito, mas o controlo.
Não deve ser nada, Katherine. Você que está ficando louca ou paranóica.
— Eu... eu prometo, Mark. — digo e balanço a cabeça negativamente. — Agora será que podemos sair desse fúnebre e tosco assunto e conversar sobre outra coisa? Olha lá, chegamos.
Aponto para o portão que agora estava à frente de nós e Mark respira fundo tamborilando os dedos nos livros em seu colo.
Outros carros estavam à nossa frente, também passando pelo portão que transmitia um ar de imponência e seguindo por uma estrada cercada de altos pinheiros.
Alguns alunos, que provavelmente moravam perto do campus, caminhavam ao lado de outros carregando livros e mochilas, rindo e outros sérios, numa longa calçada que levava até às instalações
— Não parecem diferentes dos alunos do outro colégio. — digo olhando pela janela sem tirar as mãos do volante.
— Claro, exceto pela parte em que são todos ricos e despreocupados. — diz Mark num tom austero, mas soltando uma risada em seguida.
Sorrio para ele e olho por através dos pinheiros ao meu lado. Não tão distante, um extenso campo de lacrosse com arquibancadas de concreto ocupava um bom espaço do terreno. Em alguns metros de distância da entrada do campo, quatro quadras de tênis em tamanhos reduzidos e uma principal, num tamanho exato, se estendiam cercadas por grades de ferro.
Desvio o olhar para a janela ao lado de Mark, e por trás dos pinheiros alinhados, cercada também por uma grade de ferro, uma quadra de basquete se mostrava pronta para o uso dos alunos.
Assobio voltando minha atenção à frente, e uma placa surge em meio à um palanque cercado com moitas e flores no centro de onde a estrada dividia-se em uma bifurcação.
Estacionamento exclusivo para estudantes e visitantes  — leio em voz alta e sigo para onde a placa apontava e também, para onde os outros carros estavam indo. — Que chique.
— Acha mesmo que vamos nos dar bem nesse colégio? — pergunta Mark.
— Bom... — respiro fundo entrando no estacionamento e começando a procurar por uma vaga. — Precisamos.

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