"para quem você liga as três da manhã quando o seu dia não está sendo bom?
Todas as pessoas deste mundo tendem a querer desabafar e gritar palavras aos ventos, palavras duras, que cortam. Apenas pelo conforto de serem ouvidas.
Carmen não, no entanto.
Carmen prendia os gritos, as lágrimas. Porque se acostumara a isso. Porque sabia, que se seu dia não estivesse bem, teria que seguir em frente, e fazer algo sobre isso. Porque ninguém faria nada por ela.
É tão triste o costume, não é? A rotina incessante do mesmo, sempre e sempre.
Porque não podia perder o emprego, porque não podia perder amizades, porque queria vínculos.Apenas uma alma solitária rodeada de pessoas.
Eu sei que nós nos acostumamos, mas não devíamos.
Não devíamos nos acostumar a ter todos os dias perguntas sem sentido ou escrúpulos. Não devíamos nos acostumar a não responder estas perguntas, apenas porque sabemos que iríamos ferir alguém neste processo. Por que tudo tem que ser sobre como não somos suficientes?
Me arde escrever tais palavras, mas prefiro que seja uma pessoa infeliz, sabendo a atual causa desta infame sociedade, que fechar os olhos e não enxergar nada além da minha vidinha perfeita.
Já pensou quantas empresas de cosméticos faliriam se aprendêssemos a nos amar como somos?
Porque todos nós pensamos em revolução e em sair nas ruas, mas a maior revolução que você pode fazer, é se amar. Triste, não?
Carmen não se amava como a amo. Borrando seu rosto perfeito por noites seguidas, tentando aprender a se maquiar, a ser exatamente aquilo que as pessoas esperavam dela. Um robô.
Suas falas já ensaiadas, estava pronta para tal papel. Sua vida, uma perfeita novela dos anos 90, misturando comédia e drama em uma proporção instigante.
Ela era a maior piada da cena.Carmen era a atração principal de um circo, daquelas que só de aparecer, as pessoas riam.
Por que todos aqueles olhares de julgamento?
Por que tantas risadas?
Por que o silêncio, Carmen?
Me entristeço a cada linha que escrevo sobre sua história. Como queria te tirar dessa rotina, Carmen. Como queria faze-la real.
Como queria ser a pessoa para quem você liga as três da manhã."
Narrador P.O.V
Havana, cuba. 2006.
sozinha, a garotinha se mantinha a todo momento passando as mãos em seus braços. Era uma tarde fria naquele estacionamento, e ela tentava se manter aquecida o bastante no ar congelante de Havana. Seu uniforme perfeitamente alinhado ao seu corpo, enquanto encarava uma bola de futebol que mantinha consigo a cada treino. Todos já haviam ido embora, ela também já deveria ter ido.
De longe avistou um carro chegando perto da mesma, logo se levantando e acenando ardualmente na tentativa de ser vista. O carro parou a poucos centímetros de seu corpo, a janela do passageiro se abaixando rudemente.
-eu já te vi, entre logo. - ele disse, a voz, rouca, fria. Ela já havia se acostumado.
Nada disse, entrando no carro que fedia a álcool e outras coisas que ela não sabia o que eram. Ele deu partida, se mantendo atento a estrada enquanto compartilhavam de um silêncio rotineiro.
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Escritora Errante
FanfictionEm que momento o amor nos aparece? Em que momento ele bate em nossa porta? Ele bate na porta? Não, ele não bate na porta. Ele tem poder o suficiente para que ele entre, bem debaixo de nossos narizes, no momento em que menos esperamos. clichê? O que...