#01 O Amanhecer

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A noite escura encobre a justiça, a violência mancha de sangue as ruas, gritos de socorro são ouvidos, as sirenes da polícia tentam gritar tão alto quanto a criminalidade. E a janela do quarto escuro de Scott são iluminadas pelo vermelho e azul consequente das guerras que ocorrem em quase todas as madrugadas entre a polícia e os marginais da cidade de Denvers.
Scott está tendo pesadelos, se contorcendo em sua cama, suando frio, as gotas escorrem em sua testa e seu corpo parecia em chamas, ele aperta o lençou, sente profundo desespero e então ele acorda assustado, com a respiração ofegante, seu corpo e sua cama estão molhados com o suor quente que saiu de seus poros como um veneno de cobra. Ele se senta em sua cama, estava apenas com uma calça de moletom, apoia seus cotovelos na sua perna e coloca a mão no rosto subindo para seus cabelos, ele ainda estava ofegante e com os olhos fechados ele procurava respirar cada vez mais lento.
Então ele abre os olhos e olha para sua janela que estava à sua frente, e escuta o som de um carro da polícia, e um clarão vermelho e depois azul invade o seu quarto. Ele continua freneticamente olhando para a janela, então ele se levanta, e pega o relógio que estava na cabeceira de sua cama ao lado de uma foto da sua mãe o segurando no colo quando ele tinha entre dois ou três anos de idade. O ponteiro marcava cinco e quarenta e três, então ele deixou o relógio e foi para o banheiro tomando cuidado para não acordar sua tia.
Clarice, a tia de Scott trabalhava numa lanchonete no centro de Denvers, ela acordava todos os dias às seis e quarenta da manhã e chegava em torno de seis e trinta da noite, o seu salário era medíocre e ela fazia de tudo pra dar uma boa vida para seu sobrinho que ela considerava como filho. Clarice cuida de Scott desde que ele tinha cinco anos, que foi quando sua mãe morreu num acidente de carro. Desde então ela tem lutado para criar o pequeno Scott em Denvers, uma cidade que desde sempre tem sido alvo de diversas gangues e facções que assolam os moradores dos bairros mais pobres onde se concentra a marginalização e criminalidade.
Scott liga o chuveiro, a água passa por seu corpo limpando sua alma deixando-a mais leve, o vapor sai por debaixo da porta do banheiro, enquanto isso aos poucos o dia vem dando suas primeiras pistas, a escuridão já não é mais plena. Ao chegar em seu quarto ele coloca uma calça de moletom, uma blusa e seus sapatos, ele olha pela janela e vê o dia nublado aos poucos clareando a rua, Scott então pega seu celular, coloca o fone de ouvido e sai, ele desce as escadas da pequena pensão onde eles moravam e vai pra fora, então começa a correr.
Ele passa pelas ruas 48, 53 e continua correndo, a cena é de subúrbios e varias pensões e casas da classe menos favorecida da população, ele chega até o centro, passa por dentro do parque, e vê a enorme diferença entre a chamada escória de Denvers e a parte importante da cidade. Ele chega no centro do parque, para em frente a estátua de um gavião que era o símbolo da cidade. E então ele dá meia volta e corre, dessa vez ele passa pela parte Leste da cidade, entra na área industrial, fábricas e mais fábricas, lugares onde os pobres são escravizados para que os ricos fiquem ainda mais ricos. Scott chega até o porto, os trabalhadores começam a chegar, ele sente o aroma salgado do mar, e vai até o pier, onde ele para e fica um tempo olhando para o oceano, as ondas batem na encosta do porto, mas Scott apenas fica ali, parado, pensando.
Ele pensa em tudo, na situação de Denvers, na sua tia, na sua mãe, no pai que ele jamais conheceu, pensava na sua namorada Margot, Scott pensava no que ele iria mesmo fazer quando terminasse a faculdade de engenharia, ele tinha dúvidas se realmente exerceria sua profissão. Então novamente ele dá meia volta e vai embora. Chegando em casa ele abre a porta e sua tia estava na cozinha fazendo o café da manhã ele passa direto - Quando você era mais novo não te ensinaram a dizer bom dia Scott? - Sua tia diz com tom de irônia - Desculpe, é que eu tive uma péssima professora - Ele responde irônicamente enquanto entra no banheiro. Sua tia dá um sorriso, e Scott liga o chuveiro e pergunta - você já não deveria ter ido trabalhar?
-Ainda são sete e quarenta e nove, dá tempo de tomarmos café juntos - ela responde e continua -Mas isso se você decidir não acabar com a água do mundo hoje - E Scott desliga o chuveiro, rapidamente se seca e saí. Enquanto ele coloca a roupa sua tia Clarice coloca os ovos mechidos nos pratos, então ele aparece na pequena cozinha e se senta na mesa enquanto coloca a blusa -Sexta feira Margot e eu vamos ao cinema ok? - ele pergunta - Você já tem 19 anos, não precisa mais ficar me pedindo permissão -Ela responde - Tô sabendo, e a propósito não estou pedindo permissão sua, estou apenas avisando, pra você não ficar preocupada pensando que alguma coisa aconteceu.
-Você tem razão, a cada dia que passa uma gangue nova aparece. Scott, pelo amor de Deus, tome muito cuidado, Deus sabe como eu rezo para que você volte para casa são e salvo -ela diz. Então Clarice pega na mão de Scott e diz- Scott, por favor, me prometa que vai parar de ir ao Beats - Então Scott solta a sua mão - Ah este assunto de novo, já conversamos sobre isso, o Henry é meu amigo e me ajuda muito, e além do mais eu não estou mais lutando, estou apenas ajudando a organizar as coisas por lá - ele diz com tom de raiva - Mesmo assim, eu não gosto desse Henry, e sem falar que Denvers está cada vez mais perigosa, e eu não quero você se metendo em encrencas, vai saber o que esse tal de Henry faz quando não está na academia - Clarice responde.
Henry é amigo de Scott, ele tem uma academia onde ensina artes marciais e outros tipos de lutas, Henry também é apostador em brigas de rua clandestinas, eventos da qual o próprio Scott já participou - Relaxa, eu sei me cuidar e prometo não me meter em nenhuma encrenca - Scott diz com intuito de acalmá-la - Tudo bem, já devo estar atrasada, mas antes vamos fazer uma oração para que um anjo da guarda nos proteja - ela diz mais aliviada.
Então Clarice pega novamente nas mãos do Scott, e ambos fecham os olhos e ela faz uma oração. Clarice come, levanta, beija a testa de Scott e sai deixando-o sozinho na cozinha, até que após alguns minutos ele escuta um barulho forte vindo da rua. Ele se levanta e vai de encontro a janela para ver de que se tratava, acontece que um carro que estava fugindo da polícia chocou-se com o poste de luz do outro lado da rua, os policiais logo chegam e ao sair do carro sacam suas armar e se aproximam devagar do carro, Scott ainda vendo da janela acompanha toda a situação. Ao se aproximar do carro os policiais vão gritando - sai logo daí - eles se posicionam um de cada lado, e tentam abrir a porta, mas a mesma estava trancada - ou você sai dessa droga de carro ou eu vou ser obrigado à te tirar daí - então a porta se abre.
Um homem branco, alto com o cabelo preto e um olhar maldoso sai do carro gargalhando e dizendo com um sotaque russo - ora, ora, ora o que temos aqui - os policiais enquadram ele jogando-o contra o carro, enquanto isso Scott que até então acompanhava toda a cena desiste de assistir, já convencido de que os policiais tomaram o controle da situação, entretanto enquanto um dos policiais colocava a algema no homem russo, o homem pergunta - algum dos dois por acaso sabem me dizer que dia é hoje? - então o outro policial responde - hoje é sete de junho seu idiota - e o homem sorriu de lado e disse - e vocês sabem o que significa?
Então o russo rapidamente pega o policial que tentava o prender e vira seu corpo jogando-o contra o vidro do parabrisa do carro e antes que o outro policial pudesse reagir ele puxa uma arma e atira na testa do policial deixando o carro da polícia que estava atrás do mesmo cheio de sangue que se aspergiu de sua cabeça no momento do tiro, ao ouvir isso imediatamente Scott volta sua atenção à janela e vê o policial caindo no chão com um buraco de dois milímetros em sua testa, e o homem russo conclui dando um tiro no outro policial que estava sobre o capo do carro enquanto olhava o que estava caido e diz - significa que hoje é dia de fuder com os filhos da puta dessa cidade - e ao dar alguns paços à frente ele se vira e olha para a janela do terceiro andar e encara nos olhos, Scott que estava perplexo com a situação, então o homem russo pisca com um olho e sai dali andando calmamente.
Scott rapidamente vai em direção à porta, desce as escada e sai para fora, ele vê os policiais baleados e sai adiante à rua, ele vê à alguns metros o homem russo andando normalmente - ei você, espere aí - e então Scott passa à perseguir o homem, que vira uma esquina à cerca de dois quarteirões dali, e Scott estava disparado atrás dele, ao chegar na esquina Scott vê o homem russo parado à um quarteirão olhando para ele - quem é você? - e o homem diz - sou seu pesadelo! - e um ônibus escolar para atrás dele e o sequestra, logo após Scott percebe que eram seus comparsas.
Scott, decepcionado consigo mesmo dá meia volta, e sai dali rumo à sua rua para chamar a polícia e a ambulância, ele vai pensando naquele homem, no jeito que ele olhava para Scott, ao chegar na rua de sua casa ele se depara com vários policiais e alguns repórteres próximos aos corpos. Ao caminhar rumo sua casa, Scott se depara com um dos policiais e o reconhece de uma vez que estava em uma luta organizada ilegal e os policiais invadiram enquadrando todos inclusive Scott que foi enquadrado por aquele policial em especial. No mesmo instante Scott coloca sua touca, mas sua tentativa de não ser se reconhecido é vã e o policial ao olhar para ele grita - ei você aí - então Scott aumenta o passo mas o policial o para, segura em seu braço e diz - ei eu me lembro de você, diz pra mim, você não sabe quem fez isso sabe? - Scott não diz nada apenas tira a mão do policial de seu braço e tenta sair mas o policial o segura novamente e fala - ei, espere aí ainda não terminei, se eu desconfiar que você tem algo haver com esse assassinato vou fazer com que você apodreça na prisão seu merdinha do subúrbio! - Scott mais uma vez retira a mão do policial de seu braço, olha nos olhos do policial e diz - não me toque novamente. - então ele entra para sua casa e o policial sem dizer nada apenas viu ele indo e colocou seu óculos escuro, voltando sua atenção para os corpos estirados no chão.
Scott entra em sua casa, tira a sua blusa, sua camisa, fecha as cortinas de seu quarto e deita em sua cama, ele pega seus fones de ouvido e os coloca, fecha os seus olhos e dorme.

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