A ideia de Mariana

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Em meio às risadas e abraços, que mais pareciam trocas de cores de tinta, Luccino e Otávio se olharam, ao mesmo tempo, cada um em seu lugar. Luccino abraçado em Mariana, enquanto Otávio cumprimentava Randolfo. O militar sorriu de canto de boca, um sorriso gentil e calmo, que foi retribuído pelo italiano. Ambos deram desculpas para os grupos em que estavam e saíram da multidão, se encontrando em um beco vazio, livres do olhar de gente maldosa.

- Que dia! - Luccino disse rindo, conforme se aproximava da parede de concreto, onde Otávio estava escorado.

- Aparentemente... - Otávio descruzou os braços, permitindo um contato maior entre eles. - Tudo é possível no Vale do Café. - Os olhos do major corriam pelo rosto de Luccino.

- Principalmente... o amor. - O mecânico inclinava seu corpo sobre o de Otávio, sem sequer se dar ao trabalho de disfarçar o olhar que lançava sobre os lábios do major.

Um sentimento forte os embriagava. E, em meio à tinta e suor que cobriam seus corpos, Otávio desviou o rosto como em um estalo de consciência.

- Luccino! - Ele gritou em um sussurro. - Não podemos ser vistos. - Ele segurou as mãos do amado, acariciando-as gentilmente e lançando-lhe um olhar melancólico. - Não aqui... amore mio.

O italiano respondeu com um sorriso triste, porém sincero. E acenou positivamente.

- Deveríamos ir para casa... nos limpar de toda essa tinta. - Ele riu enquanto observava suas próprias roupas, completamente coloridas.

Otávio parou por alguns segundos, encarando as mãos de Luccino nas suas, com um sorriso nada contido, como se estivesse perdido em seus pensamentos.

- Te vejo amanhã. - Ele disse, finalmente, levantando o rosto para focar nos olhos do outro.

- Até amanhã. - O mecânico sussurrou por entre seu sorriso. - Amore mio.

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Luccino largou a moto de Mariana, que estava consertando na tentativa de se distrair da ansiedade. O relógio em seu pulso marcava vinte e uma horas. As estrelas já enchiam o céu e nada de Otávio. Luccino pensou em várias possibilidades, o major poderia estar resolvendo algum problema grave no quartel. Talvez, algum carregamento de suprimentos ou armamento tivesse chegado e ele ficou organizando tudo com os soldados, já que não era do feitio de Otávio apenas comandar sem ajudar seus homens. Ou ainda, Otávio já terminara seu expediente, mas estava tão cansado que sequer foi capaz de caminhar até a oficina.

Seja lá o que tenha obrigado o major a faltar o encontro que ele mesmo havia marcado, Luccino precisava fechar a oficina e ir para casa. Mariana e Brandão deveriam estar preocupados com sua demorada, não era certo fazer isso com seus amigos. E ele poderia conversar com Otávio no outro dia.

Um tanto frustrado, Luccino soltou um suspiro longo e começou a organizar a oficina.

A poucos metros de distância, um militar apertou o passo ao ver as luzes do local serem apagadas.

- Luccino! – Otávio exclamou em um tom que não era nem um grito, e nem um chamado baixo. Ele correu até o mecânico, que estava ao lado do portão, pronto para fecha-lo.

Luccino franziu o cenho ao perceber que Otávio realmente veio.

- Luccino, eu sinto muito. – O major começou, um pouco sem fôlego e com uma voz que claramente demonstrava culpa. – Eu não imaginei que fosse levar tanto tempo.

Pra vida toda, amore mioOnde histórias criam vida. Descubra agora