Sobre a noite passada e as próximas

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Luccino acordou com o sol já brilhando no céu há algum tempo. Por mais que estivesse acostumado a acordar cedo para trabalhar, tinha de admitir que, depois da noite de ontem, precisava de um descanso.

O italiano se revirou na cama, voltando-se para o lado em que Otávio dormira, mas seu braço sentiu apenas o lençol. Parte dele sabia que seu marido não estaria mais lá, mas ele não teve como conter aquele sopro bobo de esperança misturada com saudade. Ele puxou o travesseiro para si, numa tentativa bem sucedida de sentir o cheiro dos cabelos do amado.

- Bom dia para você também, major. – A brincadeira saiu em um sussurro enquanto ele abraçava o travesseiro contra seu peito.

E, após permanecer ali por algum tempo, encarando o teto com um sorriso bobo nos lábios, resolveu se levantar. O mecânico percorreu o quarto com os olhos e não encontrou qualquer sinal da bagunça da noite passada, o uniforme de Otávio não estava lá e suas roupas, antes jogadas ao chão com total descuido, repousavam dobradas metodicamente na escrivaninha. Só então, ele se deu conta de que estava despido. E, com uma rapidez considerável vestiu suas ceroulas. Mesmo estando em casa, ele queria manter um pouco de pudor.

Luccino deixou o resto da roupa para trás, já que não iria de terno para a oficina, e decidiu conhecer o apartamento. Ele não sabia se aquele era o seu ou o de Otávio, mas isso pouco importava. Ao chegar à sala de estar, que dividia espaço com a mesa de jantar, encontrou um papel lhe esperando sobre a toalha rosa.


Amore mio,

Eu fiz omelete, está no prato ao lado do fogão, espero que goste. Bom café da manhã.

Se olhar ao lado do abajur, vai encontrar uma cortina. Atrás dela, tem uma passagem para o seu quarto. Brandão, Randolfo, Ernesto e Edmundo me ajudaram a construí-la ao longo da semana passada. Suas roupas já estão no armário, tentei dispô-las da forma mais organizada possível.

Lembre-se de sair de casa pela sua porta, por uma questão de segurança.

Tenha um bom dia.

Com todo o amor do mundo,

Seu marido que o estima muito

Otávio Mastronelli Pricelli.


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Otávio passou sua manhã como qualquer outra no quartel, exceto pelo sorriso bobo que ele precisava se lembrar de reprimir a cada minuto. Até mesmo os exercícios físicos não foram capazes de tirá-lo de seu rosto, e sua cabeça estava em outro lugar, bem distante dos mantimentos que agora carregava. Ele não havia trocado uma palavra com o coronel ou com Randolfo, mas ambos entendiam bem o porquê. E, como o major não causou nenhum problema em seus serviços, Brandão resolveu deixá-lo em seus pensamentos. Por sua vez, o capitão achou graça do estado do amigo e preferiu ficar por perto, caso Otávio precisasse de ajuda com suas tarefas ou, até mesmo, com seus devaneios.

O horário do almoço chegou normalmente, e o militar decidiu comer algo na casa de chá, pois sentia que precisava andar por algum outro lugar, mas chegando ao portão, se deparou com um furacão rosa lhe esperando.

- Tatá! Aí está você! Temos muito que conversar! – Lídia tinha uma animação ainda maior do que nos dias normais.

- Temos? – O militar questionou com uma expressão de desentendimento total estampada em seu rosto.

Pra vida toda, amore mioOnde histórias criam vida. Descubra agora