O encontro

172 14 104
                                    


O sol estava começando a se pôr quando Luccino e Otávio avistaram a placa da cidadezinha que procuravam. São João Marcos, assim como Ouro verde, também tinha sua economia baseada nas plantações de café, apesar de não ter o tamanho do Vale.

Luccino passara o dia dirigindo e a viagem se tornou insuportavelmente quieta após a conversa que tiveram, ele não teria a ousadia de importunar Otávio com mais perguntas e não havia o que dizer sobre aquela situação. Ambos concordaram sem palavras que o melhor seria seguir antes que perdessem tempo demais. As poucas pausas que fizeram foram para comer os lanches que Dona Nicoletta havia preparado e lhes deu com todo o carinho, repetindo diversas vezes que os dois não poderiam ficar de barriga vazia.

Porém, ao avistar a placa de sua cidade natal, o militar praticamente pulou do banco do carro, apontando nervosamente para a estrada pela qual o italiano deveria seguir. Luccino achou graça da reação repentina do noivo, mas conteve a risada, apenas assentindo com um sorriso.

O trajeto era curto e não demorou muito até que chegassem na via principal da cidadezinha. Eles começaram a procurar por qualquer coisa que se assemelhasse a uma pensão ou hotel e, após alguns minutos, viram uma pequena placa feita à mão, ao lado de uma porta: Pensão da Dona Luzia. O lugar não parecia ser grande, mas dava sinais de limpeza.

O italiano estacionou o carro na frente do estabelecimento e se dirigiu à recepção, enquanto o militar pegava a pequena mala que trouxeram.

- Boa noite. – Uma senhorinha bastante simpática lhe cumprimentou com um largo sorriso. Luccino tinha certeza que se não fosse pela idade, aquela saudação seria ainda mais animada. – O senhor deseja um quartinho?

- Exatamente. – Ele olhou para a porta, a qual Otávio já se aproximava. – Um quarto para dois.

- Ah, rapazes... – Ela pareceu um tanto desanimada. – Vocês vão ter que me desculpar, mas todos os quartos com duas camas de solteiro já estão ocupados, vão ter que ficar em um com cama de casal.

O major sentiu seu corpo inteiro vibrar com aquela informação, mas precisava se conter. Então, apenas manteve a expressão séria que possuía no rosto.

- Isso não será um problema. – O mecânico mostrou seu sorriso doce para a senhora. – Vamos nos acomodar bem.

Após acertarem o valor da estadia para aquela noite e se certificarem de que era seguro deixar o carro de Brandão ali, eles subiram paro o quarto. Era simples, uma cama com lençóis limpos e bem arrumados, uma penteadeira com um espelho pequeno e um armário com alguns cabides. Uma porta do outro lado do cômodo levava a um banheiro com uma tina, que tinha espaço suficiente para duas pessoas.

A mala ficou aberta em cima da cama, aguardando o casal retornar do banho. Conforme a água enchia a tina de madeira, Luccino começou a se despir, com uma naturalidade que o militar ainda estranhava.

- Vai ficar parado me olhando, major? – O italiano brincou enquanto pendurava sua blusa em um agarrador na parede.

- Ah, desculpe! – Ele respondeu em um tom nervoso que já havia se tornado familiar. Então, passou a tirar seu terno, cuidando para não ser pego espiando enquanto o outro entrava na banheira.

- Gelada... – O mecânico soltou um suspiro de alívio. – A melhor forma de limpar os pensamentos.

- O que... – Otávio estava nu e não queria permanecer muito tempo sob o olhar do noivo, por isso, praticamente correu para entrar na água, sem se importar com a temperatura, mas puxando o ar com força por entre seus dentes quando se viu submerso até o peitoral. – O que eu lhe disse antes o deixou assustado? – Perguntou por fim, temendo que Luccino queria esquecer as coisas horríveis que ouvira.

Pra vida toda, amore mioOnde histórias criam vida. Descubra agora