02 - Grace

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   Todo o meu corpo tremia quando apertei os botões iluminados do elevador espelhado com as mãos cuidadosamente aquecidas pelas minhas recém adquiridas luvas de pele de carneiro. Os termômetros da rua marcavam 4 graus Celsius e Paris estava sob uma constante e carregada névoa esbranquiçada que facilmente se agarrava aos vidros das vitrines e condensava ali mesmo, fazendo grossas e pesadas gotas de água deslizarem monótonas pela superfície lisa.

- Bom dia. - Cumprimentei a moça que entrou depois de mim, uma alegre e simpática asiática.

- Bom dia. - Ela sacudiu a neve dos cabelos lisos e os flocos que caíram no chão logo derreteram em pequenas poças de água suja.

Seguimos juntas até o vigésimo quarto andar do grande prédio envidraçado, mas ao contrário de mim, a garota não desceu e seguiu na caixa de metal.

- Lilian Zahar. - Digo à recepcionista daquele andar.

A garota mal desvia o olhar da tela do Macbook a sua frente e diz:

- Ela está em reunião.

Ah, pronto.

- Eu tenho um horário marcado.

- Nome?

- Grace Curie.

Isso com certeza faz com que ela me olhe.

- Ah! Só um segundo, Srta. Curie. - Ela pega um telefone e o leva até a orelha direita. - Senhora... ela chegou. Sim, vou dizer. - Ela devolve o telefone para o gancho e me olha com um sorriso educado, como se não tivesse ignorado minha presença durante todo o tempo. - Ela vai atendê-la agora. Pediu que esperasse um segundo.

O que aconteceu com a reunião?

- Tudo bem. - Apoio o cotovelo no balcão só de provocação e abro os stories mais barulhentos que achei no Instagram, inclusive um do Justin Bieber pulando de paraquedas no Grand Canyon.

-  [...] também estive preocupada... certo... farei de tudo... - Ouço uma voz familiar e me viro para a porta da sala principal de todo aquele andar. Três pessoas saíram por ela, dois homem engravatados e a magnífica e alta Lilian Zahar entre eles. - Entro em contato em breve, Sr. Kovawiski.

Ela aceitou o aperto de mão dos dois homens e os dispensou rapidamente, como se ansiasse em se ver livre dos dois.

Talvez estivesse mesmo, pensei quando vi seu olhar para mim.

Ela mal esperou os engravatados descerem no elevador para caminhar em minha direção com toda aquela imponência maravilhosamente esculpida em seus 1, 75m. Um belo sorriso estampava seu rosto maduro e ele logo foi espelhado no meu.

Lilian Zahar, grande nome da indústria da moda, sempre fora uma referência para mim. Além de ser orgulhosamente ativista feminista, Lilian também é lésbica assumida, o que me fez despertar um maior interesse por ela.

Não que algum dia eu imaginasse que a poderosa mulher me chamaria para sair. E que eu iria aceitar. Mas vamos aos fatos: ela é, uau, gostosa. Isso para não dizer coisas piores.

Conheci Lilian pessoalmente quando fazia um casting em Nova York para a NYFW, mas nunca chegamos a um diálogo com mais de duas frases completas. Não até esbarrarmos, por coincidência, na agência quando fui tirar minhas polaroides com Hernando. Eu vestia um mínimo biquíni preto e ela... bem, ela não tirava os olhos famintos de cima de mim.

E como já fazia tempo que ninguém me olhava com aqueles olhos... desde de... Não quero pensar nisso.

Uma coisa foi levando a outra.

BAZAAR // season 02Onde histórias criam vida. Descubra agora