04 - Grace

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- O que aconteceu?

Pisquei alguns segundos até conseguir focar totalmente no rosto bonito a minha frente.

Droga, por quanto tempo eu fiquei fora do ar navegando por intensos olhos castanhos?

- Nada. Eu... - Percebi que ainda amo incompreensivelmente Olivia Hendrix. - Não sei dizer. - Desisti de finjir poder explicar.

- Você viajou um pouco. - Felizmente não havia julgamento em sua voz, apenas um sorrisinho zombeteiro.

- Viajei. - Concordei com certa relutância, levando a xícara de café pela metade até a boca para tentar disfarçar o rubor. - Desculpa, Lilian.

- Não tem nada. - Ela também bebeu do seu próprio café. - Isso me faz pensar... você tem alguém?

Opa.

Alerta.

Assunto delicado.

- Alguém? - Me fiz de desentendida.

- Namorada, namorado. Ou melhor, você teve alguém? Deveria perguntar no passado, não é, já que você aceitou sair comigo. - Ela sorri com a circunstância, mas eu estava tão nervosa que tudo que consigui fazer foi ficar estática pra não acabar falando merda. - Não devia ter perguntado, né? - Ela disse depois que fiquei um tempo consideravelmente longo em silêncio. - Cedo demais.

- Não! - De propósito, segurrei sua mão sobre a mesa para ofuscar um pouco da minha esquisitice. Acabei agradecida pelo seu calor, depois de um tempo. - Você pode me perguntar o que quiser. E, sim, eu já tive alguém.

- Legal.

- Mas ela é meio... hetero. E as coisas não deram muito certo. - Juro que não foi de minha total intenção torcer o nariz.

- Sei bem. - Ela suspirou e sei que estava se lembrando da ex esposa. - Muitas pessoas não estão preparadas para abandonar o privilégio heteronormativo.

- Oh, sim. - Mordi a torrada, que infelizmente se mostrava contendo os dois últimos pedaços. - E você? Teve mais alguém?

- Fiquei com Angel por muito tempo. - Ela disse ao balançar a cabeça. - Uns ou outros casos antes dela, coisa de adolescente. Beijos e mãos.

- E depois? - Mordi os lábios ao sondar.

- Você... - Lilian sorriu e eu sorri de volta.

- E homens?

- Nenhum. - Ri da sua cara enojada. - Você?

- Não gosto muito da coisa. - Também torci o nariz.

Bebi o último gole do café e apoei a xícara na mesa. O olhar de Lilian sobrevoou seu conteúdo inexistente e se voltou para mim cheio de expectativa.

- Vai querer mais alguma coisa?

O brilho da gordura em meu prato e dedos fez minha consciência pesar.

- Não, obrigada. Chega de colesterol por hoje.

- Então... - Ela mordeu o lábio inferior, ponderando. Mas os olhos ainda estavam famintos, queimavam minha pele e faziam meu sangue esquentar.

- Para aonde vamos agora? - Resolvi, por fim, perguntar.

Fiquei satisfeita quando a boca de Lilian se abriu.

- Meu hotel... é bem... confortável. - O levíssimo rubor em sua pele alva não passou despercebido por mim.

- Confortável... - Sorri com a palavra. - Tem Netflix?

BAZAAR // season 02Onde histórias criam vida. Descubra agora