Capítulo 3.

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Uma coisa que eu não entendo mesmo é como o basquete consegue ser tão importante a ponto de reservarem um dia só para um campeonato. Não sou um cara que curto muito basquete, ou qualquer outro esporte, mas o que me faz vir até aqui? Buffy. Seria a primeira vez que ela iria jogar junto do time masculino e eu não perderia isso por nada.

O jogo estava prestes a começar e para me diferenciar de todos que estavam torcendo, eu tinha trazido megafones para mim, Andi, seus pais e Jonah.

- Uau, Cyrus, isso foi genial. - Jonah disse.

- Quero que a Buffy saiba que estou muito feliz por ela, que todos nós estamos! - Respondi.

- Sim... Ei, eu vou usar isso para chamar atenção do T.J! - Andi exclamou.

- E... Por que? - Perguntei, sem entender. 
- Para que ele passe a bola pra Buffy, dârr! - Ela me respondeu, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

- Eu acho que isso não vai ser necessário. - Eu disse e logo olhei para T.J que se encontrava no canto da quadra, observando o jogo. Ele não estava de uniforme e então acho que ele não ia jogar, mas por quê? Ele parecia triste, chateado... Ou algo assim, estava diferente.

Semana passada, eu tinha convidado ele para a minha festa de aniversário, coisa que a tempo atrás eu não faria. Lógico que eu tinha perguntado a Buffy se por ela estava tudo bem já que ambos não estavam se dando muito bem, mas ela parecia não ter se importado, então eu o convidei e, para minha surpresa, ele tinha aceitado e parecia ter ficado muito contente, o que me surpreendeu... De um modo bom.

- Eu volto daqui a pouco... - Eu disse a Andi e Jonah e fui em direção a T.J.

Foi um pouco difícil me locomover pelas arquibancadas, mas a cada momento que eu me aproximava dele um sentimento percorria por mim, um sentimento que eu não sabia explicar.

- Você não vai jogar? - Eu perguntei quando me aproximei dele.

Ele me olhou, agora parecia zangado.

- Você não deixa passar nada hein? - Ele disse e voltou a sua atenção ao jogo.

Por essa resposta eu não esperava.

- Eu não vim como um saco de pancadas... Só queria ver se estava bem.

Ele olhou para mim novamente, fixando em meus olhos. Aquele sentimento que vinha comigo de alguma forma ascendeu novamente e eu não sabia o motivo.

- Que tal... Você me deixar em paz? - Ele disse e simplesmente saiu pela porta do ginásio.

Buffy era minha melhor amiga e ela poderia ficar brava comigo, mas eu não pensei duas vezes. Segui T.J para fora do ginásio.


Achei que ele tinha ido embora, mas quando passei pela porta eu o vi em frente a máquina de lanches, então me aproximei:

- Comendo seus sentimentos? Eu faço isso também. - Eu disse encarando a máquina. Percebi um leve sorriso se formando no rosto de T.J.

Ele pegou alguns salgadinhos e sentou-se em frente a uma mesa que estava por ali. Eu fiz o mesmo, ficando em sua frente.

- Acha que eles ganharão sem mim? - T.J perguntou repentinamente. Havia um tom de preocupação em sua voz.

- Eu não sei nem contra quem eles estão jogando. - Respondi.

- Os Reptors... Eu deveria estar nesse jogo! - Ele exclamou.

- E por que você não está? - Perguntei.

- Porque eu vou reprovar em matemática... Eles não vão me deixar jogar basquete porque eu não sei resolver umas equações estúpidas! Como essas coisas estão relacionadas?! - Ele disse.

- Talvez precise de um tutor diferente. - Sugeri.

- Acho que eu preciso de um cérebro diferente. - Ele disse, me deixando sem entender.

- Mas o que tem de errado com o seu? - Perguntei.

- Ele... Tem um defeito... Pode ser que eu tenha uma dislexia em aprender matemática. - Ele confessou.

- Discalculia? - Eu perguntei, ele fez que sim com a cabeça.

- Foi a Buffy que descobriu isso. Ela tava me enchendo para falar com o diretor Coleman, estava sempre atrás de mim falando isso. - Ele disse.

- Mas isso é bem comum, não vale a pena trocar seu cérebro. - Eu disse, tentando confortá-lo.

- Cara, é uma... - Ele parou assim que a porta abriu e dois alunos passaram conversando entre si. - ... Dificuldade de aprendizado. - Ele continuou. - Eu não quero sair por aí anunciando isso.

- Cara, isso é um clichê superestimado. Não tem nada de errado com você. - Tentei deixá-lo confortável o máximo possível sobre o assunto. - E o seu professor não pode te reprovar por ter isso. - Complementei.

Ele refletiu por um momento, parecia ter entendido.

- Ele não pode me reprovar... - Ele disse, concordando comigo.

- Você poderia estar jogando basquete, tipo, agora mesmo. - Eu disse.

- E a Buffy estava certa o tempo inteiro... Pelo menos dessa vez ela realmente estava com razão. - Ele disse. - Isso é o que ela realmente gosta de ouvir.

- Ela vai me matar se descobrir que eu te disse que "você está certa" é o oque ela ama ouvir... - Eu disse, pensando em como ela iria ficar brava comigo. Às vezes, ou quase sempre, ela consegue ser bem fria e durona.

- Ah, não se preocupa, ela não vai descobrir. E... Ela poderia ter razão, mas foi você quem me ajudou realmente. - Ele disse, me fazendo sorrir. O sentimento tinha voltado, agora mais forte ainda.

- Salgadinhos? - Ele disse, segurando um.

- Claro. - Eu respondi e ele me entregou.

Poderia ter sido ruim, mas ficamos juntos comendo e conversando sobre como lidaríamos com sua situação. Até me ofereci para ajudá-lo em vez da Buffy, algo que ele aceitou sem nem pensar. Foi uma tarde boa.

Meu Abrigo - A Tyrus StoryOnde histórias criam vida. Descubra agora