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HARRY

— Você não estava totalmente errada — eu disse, depois que ela me explicou o que havia acontecido com Liam.

— Mas é claro que não! Eu estava limpando, fazendo meu trabalho, é claro que eu não estava errada! — Ela concordou, me fazendo rir. — Mas eu não deveria ter tratado ele daquele jeito, principalmente porque ele era um visitante.

Assenti.

— E mesmo sabendo disso, você quase me bateu na parte da tarde.

Ela ficou em silêncio, e eu quase senti a vergonha exalando pelos poros dela. Gargalhei alto, fazendo ela dar um pulinho enquanto caminhávamos.

— Achei que você já tinha me perdoado.

— Estou brincando com você, boba.

Assumi que havíamos chegado no Jingle's quando ouvi o sininho da porta tocar e senti o calor do pequeno restaurante.

— Olá, b... — uma garçonete começou a saudar, mas não terminou. — É o Ha-har-ha...

Ha-ha-ha? O que foi? Moça? Você está bem? Moça! Ai, meu Deus! — Luna murmurou, soltando meu braço.

— O que foi? Luna, o que aconteceu? — perguntei, ficando preocupado.

Ela não respondeu de primeira, e eu senti o pânico começar a tomar conta de mim.

— A garçonete desmaiou.

Minha boca ficou aberta por alguns minutos. Como assim, meu Deus?!

— Alguém pode me ajudar aqui?!

— Eu posso, é só... me dizer o que fazer.

— Aqui, estenda seus braços — Luna me pediu, depois de alguns segundos. — Agora, eu vou colocar ela aí, e você vai carregá-la. Tudo bem?

Fiz o que ela mandou e assenti. No mesmo instante, senti um emaranhado de braços e cabelos nas mãos, então me ajeitei e ergui ela nos braços, estilo noiva. Melhor jeito de aparecer em público pela primeira vez depois de três anos, Harry.

— Tá legal, agora pode seguir em frente — Luna guiou, levemente ofegante. — Agora vire para a esquerda, tem um pequeno sofá onde você pode colocar ela.

Assenti. Sua voz estava sempre perto, então assumi que ela estava andando ao meu lado. Estiquei a perna levemente, sentindo o tecido macio do sofá, então deitei a moça lá. Ergui minhas mãos levemente, procurando por Luna, então a mão dela encontrou a minha, e eu relaxei.

— Tudo bem, já está tudo bem. Ela vai acordar daqui a pouco — Luna sussurrou e me tranquilizou.

Um homem veio até nós, nos pedindo mil perdões e dizendo que ela era uma das melhores funcionárias dele, e que ele não sabia o que havia acontecido, então disse que a refeição seria por conta da casa.

— Claro que é por conta da casa, a mulher desmaiou em cima de mim, caralho — Luna murmurou pra si mesma, enquanto nos sentávamos.

Eu me sentei e ouvi o barulho do couro.

— Será que você pode se sentar do meu lado? — pedi, quando não senti ela perto de mim.

— Oh, sim. Claro, posso sim.

Ela parecia meio abalada com a situação, e eu me perguntava o porquê. Senti o couro se afundar ao meu lado, e logo senti a perna dela tocar a minha. Ela parecia bem tensa, então ergui a mão devagar, tocando seu ombro. Respirei fundo, tomei coragem, então passei meu braço por seus ombros, puxando ela pra um abraço aconchegante. Seus ombros tensos logo relaxaram, e ela se aninhou ao meu peito com um suspiro trêmulo.

— Isso não deveria ter te assustado tanto — sussurrei, com o queixo em sua cabeça.

Seu cabelo, ao mesmo tempo em que era macio, era crespo, o que me fez pensar que ela seria negra. Tentei não pensar muito em seus traços antes de tocá-la, para ter certeza. Não tenho padrões de beleza estabelecidos, então ela já é linda, independente de como eu a imagine ou de como ela seja.

Eu só queria poder vê-la, lamentei mentalmente.

— Eu sei, é que... — a voz dela saiu abafada, e ela suspirou. — Letty costumava ter convulsões, desde que nossos pais nos deixaram. Essas convulsões não tinham precedentes, elas só... aconteciam. Por várias vezes eu achei que ela morreria em meus braços, mas então ela voltava ao normal. Acho que a garçonete ter desmaiado só me lembrou de como tudo era.

— Ela não tem mais convulsões?

— Não, graças a Deus. E a uma boyband britânica aí.

Espera, o que?

— Como assim? — perguntei cuidadosamente.

— Bem, uma vez ela ouviu uma música sobre "salvar você essa noite", ou algo assim. Depois disso, ela começou a ouvir as outras músicas, e isso meio que tranquilizou ela e a ajudou a superar o lance com nossos pais, sabe? O amor pela banda, e tudo — ela já parecia mais relaxada e alegre enquanto falava, mas mesmo assim ainda estava em meus braços.

Salvar você esta noite? Save you tonight... oh, meu Deus.

— Uhh... que bom que ela não tem mais convulsões. Quantos anos ela tem mesmo?

— Dezessete.

Assenti e dei um beijo na cabeça dela.

— Com licença? — ouvi uma voz masculina chamar, então Luna saiu do meu abraço. — Vocês já querem pedir?

— Uhh, sim. Vamos querer... um combo de sushi, com dezesseis unidades; hm... dois tacos mexicanos com guacamole e chilli, e... pra beber, alguma sugestão Harry?

Fiquei surpreso. Ela realmente se lembrou de tudo o que eu disse a ela que gostava mas que não comia havia muito tempo.

— Uhh... o que você acha de uma citrus?

Passamos a noite toda conversando sobre coisas descontraídas, de vez em quando alguma história da infância, de vez em quando alguns vexames da Letty ou da Gemma. Eu gosto de conversar com Luna, de estar com ela. Ela não se importa em me ajudar quando eu preciso e não me trata como se eu fosse um deus, mas sim como uma pessoa normal (apesar da cegueira).

Depois que comemos (bastante, por sinal), resolvemos voltar pra minha casa. Os pedidos tinham chegado rápido, então não tínhamos demorado muito tempo ali no restaurante. A moça, depois que acordou, veio nos pedir perdão pessoalmente e, quando Luna foi ao banheiro lavar as mãos, ela veio pedir para tirar foto comigo. Luna chegou quando estávamos acabando de tirar, então acho que ela não deve ter visto.

— Então, o que acha de um filme agora?

Ela beijou minha bochecha.

— Parece maravilhoso, Harry.

A caminhada de volta para o condomínio foi muito rápida, enquanto conversávamos uma coisa aqui e ali. Ao entrarmos, eu tirei meu tênis.

— Acho que vou trocar de roupa. Você está bem em suas roupas? Ou quer trocar por algo mais confortável? — perguntei, enquanto encolhia minha bengala.

— Nope. Estou bem — ouvi ela se jogar no sofá. — Se precisar de ajuda com as roupas pode me chamar.

— Então tá, eu já volto. Se quiser ir ligando a tevê e escolhendo o filme, fique à vontade.

Andei até meu quarto e abri minha gaveta de roupas. Tirei o tênis mas continuei de meias, troquei minha calça por uma de moletom e continuei com minha camiseta branca, tirei a bandana e baguncei meu cabelo. Estava meio frio, então peguei um cobertor que estava dobrado em cima da minha cama, levando ele pra sala.

— Luna, eu peguei um cobertor para...

Parei de falar quando ouvi um som conhecido.

— You don't understand, you don't understand, what you do to me when you hold his hand — minha própria voz, acompanhada de uma platéia, cantou pela televisão e eu estremeci levemente. — We were meant to be but a twist of fate made it so you had to walk away.

— Luna? — chamei baixinho, me aproximando do sofá.

— Harry, aquele... aquele é você?

Good Years || Harry StylesOnde histórias criam vida. Descubra agora