12

806 67 18
                                    

LUNA

— Então...

— Então... — repeti.

Louis foi embora, disse que voltava mais tarde, e nos deixou aqui nesse clima estranho. Suspirei.

— Olha, me desculpa — eu disse rápido. — Eu não deveria ter te pressionado, foi errado da minha parte. Eu me sinto tão estúpida! Minha irmã tem fotos suas pela casa toda e mesmo assim não te reconheci antes. Então, quando te vi naquele show, acho que fiquei tão... sei lá. Chocada e... maravilhada! Eu só... não sei. Você está tão diferente, e talvez... talvez eu tenha pensado que poderia... — eu comecei a falar rápido, gaguejando nas palavras, e suspirei. — Me desculpa.

Harry estava parado, ouvindo.

— Eu é que tenho que pedir desculpas — ele disse baixo. — Eu só... eu não sou o mesmo que eu era naquela época, ok? Eu não enxergo mais, não faço mais shows, eu não faço mais música. Aqueles foram meus anos bons, que não vão mais voltar, e pra mim é muito difícil aceitar isso. Música era minha vida e, do nada, eu simplesmente... mudei. — Harry bagunçou os cabelos, totalmente frustrado.

— Mas não tem que ser assim, Harry...

— Ah, não?! — ele riu, sarcástico. — Vai me dizer que tudo pode ser diferente? Que tudo pode voltar a ser como era? Oh, por favor, Luna. Não seja iludida assim.

— É claro que eu não acho isso, Harry — cruzei meus braços, ignorando a ofensa. — Eu estou falando que é você quem faz a sua vida. Você perdeu a visão, que era algo muito importante, eu entendo, mas você não pode...

— Oh, você entende? — Harry perguntou, sarcástico. Eu não gostei desse lado dele. — Como você entende? Por um acaso você também é cega? Oh, não, deixa eu adivinhar: você era famosa e da noite para o dia perdeu tudo?

— Harry, eu vou te interromper por aqui, antes que você seja ainda mais idiota — eu disse alto, interrompendo sua fala. — Não vivi isso tudo que você viveu, não. Eu não fiquei cega, muito menos famosa e perdi tudo. Não foi isso que aconteceu. Eu não tive o privilégio de ver o mundo como você viu, Harry. Eu fui abandonada pelos meus pais junto com a minha irmã mais nova quando tinha treze anos. Perdi minha infância e minha adolescência porque tive que começar a trabalhar e a cuidar dela, já que nossa nova família só nos dava um lugar pra morar e nada mais. Hoje moramos num apartamento bom e estudamos, porque nós fizemos acontecer — eu falei firmemente. — Não estou me fazendo de vítima aqui, mas quero que você entenda: o fato de meus olhos serem bons não torna minha vida mais fácil, assim como o fato de você ter ficado cego não significa que sua vida acabou. Você define isso.

Harry ficou em silêncio por um longo tempo.

— Me desculpa, eu fui um babaca de novo — ele suspirou, passando a mão pelos cabelos. — É só que... e se eu agora eu for alguém que eu não quero por perto? Eu sinto como se estivesse caindo. — Ele murmurou com sua voz trêmula. — Mas... você tem razão. Eu... eu ainda não superei o que aconteceu, e eu preciso fazer isso. Só... me dê mais tempo.

— Ninguém está te pressionando, Harry — andei até ele, me sentando ao seu lado. — Todo mundo tem seu tempo. Mas saiba que você ainda é amado, ainda tem fãs e, com certeza, talento. — coloquei minha mão no ombro dele.

Ele ficou totalmente em silêncio, e eu comecei a ficar com medo de tê-lo pressionado demais. Tudo o que eu queria era que ele entendesse que, mesmo agora ele sendo cego, a vida ainda poderia ser colorida.

— Hm... será que... eu posso... tocar seu rosto? — Harry perguntou, depois de alguns segundos, me deixando surpresa pela súbita mudança de assunto.

— Oh — franzi a testa. — Hm... claro. O que devo fazer?

— Okay — ele pareceu mais animado. — Só fique parada e sem expressão facial. Coloque minha mão em sua cabeça, e deixe que eu faça o resto.

Obedeci, levando a mão dele até o topo da minha cabeça, e fechei meus olhos ao seu toque suave. Harry desceu seus dedos pela minha testa, traçando minhas sobrancelhas, olhos e nariz, depois meu queixo e, por último, meus lábios.

— Linda... — ele sussurrou, acariciando minha bochecha. Senti meu rosto esquentar com o elogio e sorri levemente. — Você se parece com a Rihanna.

Gargalhei, segurando a mão dele na minha.

— Oh, eu queria — balancei a cabeça.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, eu ainda estava segurando a mão dele.

— Então... estamos bem? — Harry perguntou, meio nervoso.

— Acho que sim — sorri, brincando com os dedos dele. — Só... dê uma chance pra sua nova vida, ok? Sei que não é como você gostaria de estar, mas não é a pior situação do mundo.

Harry assentiu silenciosamente.

— E o que vamos fazer agora?

Olhei para o relógio no meu pulso, lembrando que ainda estava em horário de trabalho.

— Na verdade, preciso voltar ao trabalho. Já é quase hora do chá da tarde, e vou ficar na cantina hoje — expliquei, sem vontade de levantar.

— Hm... acho que vou passar por lá pra tomar um suco — ele sorriu de lado, me fazendo rir.

— Ok. Eu não tenho nenhum trabalho pra você estragar hoje, mas acho que posso te servir um suco, sim — ri, fazendo ele rir também.

Ficamos em silêncio novamente, e eu podia até ouvir as engrenagens funcionando na cabeça dele.

— Luna?

— Hm?

— Como seria um mundo sem Harry Styles? — ele perguntou, mordendo o canto da boca.

— Como seria um mundo sem Harry Styles? — ponderei, refletindo sua pergunta. Levei a mão dele até minha bochecha de novo, carinhosamente. —  Definitivamente, seria um mundo onde eu não poderia viver.

Harry sorriu levemente, me fazendo querer abraçá-lo. E foi o que fiz. Abracei Harry com todo o carinho, como se pudesse protegê-lo de toda e qualquer catástrofe. Eu o conheço há pouco tempo, mas ele é importante pra mim e eu sinto essa urgência em ajudá-lo, não sei porquê.

— Te vejo mais tarde então? — perguntei, quando separamos o abraço.

— Claro. Você pode vir aqui e a gente pode arrumar algo pra fazer — ele deu de ombros e eu assenti.

— Okay. Vou tentar sair do serviço o mais cedo que conseguir, então passo aqui. — Me levantei, sentindo meu coração se apertar em deixá-lo aqui. — Te vejo mais tarde, então.

— Okay — ele sorriu levemente.

Tudo o que eu quero para Harry é que ele perceba que a vida dele é e será aquilo que ele fizer dela. Se ele ficar sofrendo sobre algo que aconteceu, então a vida dele realmente acabou aqui. Mas se ele decidir que não, então esse é só o começo pra ele. Não é fácil, eu sei, mas também não é impossível.

Good Years || Harry StylesOnde histórias criam vida. Descubra agora