Sofia

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"Nada está certo. Nada está certo quando você se vai. Perdendo minha respiração. Perdendo meu direito de estar errado. Estou morrendo de medo. Estou morrendo de não ser forte." - Who I Am, Nick Jonas.

Escrevi esse trecho da música no meu Facebook no dia que você se foi. 

*****

O cheiro era amargo. Dos medicamentos da noite anterior, quando estava em meu colo, enrolada em sua manta vermelha. Não estava no ar em meu quarto, mas pareciam impregnados em meu olfato cada vez que eu tomava uma respiração. A luz acertou meus olhos enquanto eu me sentava confusa. Mamãe estava na minha frente.

Olhos preocupados. Desesperados. Haviam lágrimas ali, meus olhos vaguearam no quarto procurando qualquer coisa fora do lugar.

Ela sabe?

Estava tudo perfeitamente arrumado. A olhei novamente, buscando algo em seu olhar. Estavam normais. Era ela ali, era mamãe. Não a outra dentro de si.

"Você precisa vê-la" - ela disse baixo, sua voz saiu rouca, falha.

Como se fosse difícil pronunciar aquelas palavras.

E eu simplesmente soube. O gelado abaixo dos meus pés me arrepiou. Meus chinelos não estavam onde deveriam. Peguei outros, correndo para fora.

Eu tremia. As pernas não agiam como deveriam. Três cômodos. A garagem. Não era tão longe. Mas naquele momento eram quilômetros, era atravessar o deserto do Saara em uma tempestade de areia. Meus pés estavam firmes no concreto, mas afundavam na areia quente.

A porta abriu, vi vermelho. Não era sangue.

Era a manta.

A manta da vovó enrolada delicadamente no corpo peludo pequeno. O mesmo que segurei em meus braços na noite anterior.

Não me movi. Não escutei. Não respirei. Apenas olhei.

O corpo parado. 

Dois passos.

Por favor respire.

Um passo.

Por favor respire.

Dois passos.

Um corpo parado.

Por favor.

Mas já não havia respiração.

Meu pulmão ardeu, o ar amargo, quase o sentia em meus lábios, azedo, já me dois respirar. Ardor, minha garganta arde, queima, machuca!

Porra! Isso machuca!

Me curvo. Lágrimas, escorrem do meu rosto. Dor, se afunda em minha arma.

"Não! Não! Não!" - ouso gritar.

Mas nada irá mudar.

"Está tudo bem" - ela me diz, os braços quentes me abraçando.

Os aceito exausta, trêmula, machucada. Choro em seu peito. Choro muito em seu peito.

Vejo o restante em borrões vermelhos, da cor da sua manta. Braços firmes te envolvem.

"Vou leva-la" - ele diz.

Sinto vontade de gritar. Porque ela já não estava mais ali.

A manta cai, me abaixo para pegar. Braços firmes se mantém em meus ombros.

"Deixe aí" - ela diz baixo, também dolorida.

Eu deixo, vejo a manta se juntar aos outros pertences, ao travesseiro antigo, ao pote de água, ao pote rasgado, aos brinquedos. Sinto um carinho em minha perna, olho para baixo.

Sorrio fraco para ele.

Sinto muito. Quero dizer. Não digo. Mas sinto que ele entende. Ele anda devagar, as patas pequenas. Cheira a manta vermelha, solta um pequeno latido e se deita ali.

Sob a manta dela.

Respiro fundo ainda dolorida, me abaixo, minhas mãos percorrem o pelo macio. O envolvo no restante da manta, o pego no colo.

O levo dali.

*****

E eu sei, sei que estava sofrendo Sô, sei que sua dor parou e você foi para aquele lindo paraíso onde estão todos os melhores cachorros do mundo. Mas eu tinha quinze anos e você era minha melhor amiga. Então doeu. Mesmo sabendo que você estava num lugar melhor. Nada estava certo. E eu estava com medo. Mas ei, Bob cuidou de mim ok? Ele ainda é um folgado, mas nós dois sentimos sua falta.

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⏰ Última atualização: Jan 11, 2019 ⏰

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