Capítulo V - Um toque de morte

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"Gatos são criaturas fascinantes não são?"

O senhor apoiado de bigode, chapéu e sorriso simpático fala repentinamente com a menina que ficava sentada de braços cruzados nas escadas de um prédio a observar os gatos de rua brincando no beco ao lado derrubando latas de lixo e fazendo barulho suficiente para incomodar os vizinhos em mais algum tempo em manhã nublada com poucos raios de luz.

"Não gosto de animais!" Grosseiramente a menina se vira para o outro lado assustando o senhor que só queria fazer amizade com a menina que usava um vestidinho preto sobre uma blusa de lã vermelha com mangas compridas e rasgadas nas mãos, lápis no olho, cabelo curto preto com uma mexa vermelha, tênis de cores diferentes e meias listradas em preto e branco.

O velho não se abalou com a indiferença, lembrou de sua neta que tinha mais ou menos a mesma idade da menina, uns quatorze a quinze anos, e que também está na fase "rebelde" e vive emburrada vestindo roupas exóticas como que em um protesto contra tudo e todos.

"Não é o que seus olhos dizem, parece que gosta de animais". Ele continuou a sorrir e colocou a mão no bolso de seu jaleco como quem procura alguma coisa.

"Se enganou vovô". A menina olhou de rabo de olho curiosa com o que ele ia tirar dos bolsos, pensou em balas ou doces e que ele poderia ser um velho de segundas intenções, então, se levantou e ia embora para seu apartamento sem dizer nada para o velho.

"Veja!" O velho colocou algo em sua boca e começou a soprar. Imediatamente os gatos pararam e ergueram suas orelhas atentas a algo que ninguém mais além deles percebiam, com olhos arregalados olharam para o velho.

A menina parou e ficou observando os gatos que andaram até o velho e começaram a ródia-lo e a fazer carinho em suas pernas. Ele sorriu mais uma vez e com a outra mão retirou do outro bolso o que parecia ser ração, agachou-se e começou a alimentar todos os gatos.

"Como fez isso? Um apito para gatos como aqueles de cachorro"? A menina se aproximou curiosa.

"Sim, mas esse é especial, você nunca vai encontrar um desses, vê? Eles já são meus amigos!" Ele sorriu enquanto acariciava um dos gatos, especificamente o mais bonito, um branco levemente sujo que parecia ser de raça e não de rua, cujo pelo era grande e fofo.

"Sei... você só chamou a atenção deles com esse apito e deu comida. Assim até eu ganho a amizade desses bichos interesseiros". A menina soltou um sorriso cínico, mas ainda sim um belo sorriso.

"Há há há! Menina esperta. Mas pense, se eu fosse um perigo eles não viriam até mim". O velho sorria com o ceticismo da menina.

"E por que anda com comida de gato nos bolsos? Coisa de maluco". A menina sorria vendo os gatos se enrolar nas pernas do velho, sua mão parecia querer se esticar e pegar algum deles, mas ela se continha.

"Não sou maluco, meu nome é Julius, Sou um veterinário aposentado e agora dono de uma "Pet-shop", adoro animais! Um dia venha até minha loja, fica no quarteirão a seguir, é a única. Quem sabe você não queira comprar um bichinho, a propósito, qual é o seu nome?" Ele olhou para a criança, já estava feliz em ter arrancado ao menos um sorriso dela e não se importaria caso ela não quisesse se apresentar.

"Hellen... Obrigado, não posso ter animais de estimação... quer dizer... não gosto de animais de estimação". Ela olhou triste para o lado.

"Regras do apartamento ou seus pais não a deixam ter um bichinho de estimação? Vamos toque nele, veja como seu pelo é macio, muito gostoso". O senhor empurra o gato branco até a menina.

"Já disse, não gosto! Não... não quero por a mão neles...".

"Vamos, vai gostar!" O senhor esticou a mão e pegou na mão da garota para puxá-la até o gato.

"Não! Não me toque!" Ela grita tentando tirar a mão do senhor que segura firme.

"Calma eu não vou te machucar! Só... só... oh meu deus!... o que está acontecendo?"

O velho sentiu-se fraco. Uma tonteira ofuscou sua vista. As imagens se embaralhavam, seu coração lentamente parava de bater, a vida escorria através de seu gemido, sua face gorda ficava seca e ele ia caindo sem ar ao chão com seus cabelos, ainda se mantendo agarrado ao braço da menina que assustada tentava se libertar.

"Eu disse que não posso ter esses bichos, disse para não me tocar! Não posso tocar ninguém!" A menina começava a chorar, e quando as pessoas se aproximavam para dar socorro ao velho. Ela saiu correndo pela rua a fora, um homem tentou segura-la, mas ela o empurrou jogando-o ao chão.

"Porque comigo? Porque justo comigo? Herança maldita!" Chorando ela corria como quem não tem para onde ir.

Entre o céu e o inferno - A gênese do fimWhere stories live. Discover now