Capítulo XVIII - Trabalho noturno

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"O que temos aqui?"

A voz grave meio roca chamou a atenção dos guardas que continham a aglomeração de pedestres diante de um acidente. A chuva fraca não diminuía os ânimos curiosos. Alguns se equilibravam na ponta dos pés, para ver o que a fila de policiais escondia.

"Detetive Thomas! Que surpresa enviarem o senhor. Geralmente não..."

Antes que o policial completasse a frase o homem mal humorado de meia idade avançou ignorando sua falação. Olhou para a cena com um olhar frio de quem já viu muitas coisas bizarras ao ponto de sua expressão não se abalar. Enfiou a mão no bolso do casaco de couro para pegar um cigarro.

"Bem detetive, ao que parece ela se matou. As testemunhas disseram que ela saiu do carro desesperada e se jogou na frente do carro que passava em alta velocidade". Disse o policial que esticava o isqueiro debaixo do guarda-chuva de Thomas para acender-lhe o cigarro.

"E quem estava com ela?"

"Ninguém. Ela estava sozinha".

Thomas agachou-se, deu um trago forte e começou a olhar a bolsa da mulher, Folheava os documentos como se olhasse um bolo de fotos.

"Esse carro zero é o dela?". Perguntou o detetive para o policial enquanto caminhava pisando nas poças de água escura. Tudo está tão sujo... Ele pensava secretamente olhando para as pessoas que se molhavam na chuva fria para ver aquela tragédia. Uma jovem tão linda caída sobre o próprio sangue que ficava mais escuro com a sujeira da rua.

"É sim". Respondeu o policial ajeitando o cabelo que escorria em sua face.

"Ela não estava sozinha..." Afirmou o detetive.

"Como?"

"Ela não dirige". Thomas revirou os documentos do carro em busca da habilitação da moça e encontrou um cartão de estacionamento em nome de "Ichigo Mitshurara".

"Talvez o namorado. Vai ver ele terminou e ela ficou doida, se matou na frente dele. Assustado ele fugiu".

"Posso inventar muitas histórias também, mas só depois de alguma investigação. Ache o endereço do "japa", eu mesmo quero interrogá-lo".

"Sim senhor!"

Thomas olhou para a jovem sem vida, Uma pena, filhos não deveriam morrer antes dos pais. Pensou observando o quanto era bonita, mesmo ali naquela situação. Lembrou-se da filha que perdeu quando viu o desespero dos pais da moça que acabavam de chegar. Andou até sair da cena do acidente, atravessou a rua debaixo da chuva que aumentava e olhou as casas e edifícios em volta. Seu olhar perspicaz perscrutava o infinito até perceber o velho cinema, Sabia que havia algo naquela rua e aquele era o melhor lugar de acordo com sua dedução.

"Não está tão abandonado quanto parece não é mesmo?". Ele disse para si mesmo ao perceber que depois das tabuas que bloqueavam sua entrada o caminho era limpo sem a grama que brotava entre as pedras da calçada devido ao abandono.

"Thomas!"

O detetive se assustou com o grito de seu nome e quando ia tocar na porta do teatro, olhou para trás. Viu o jovem detetive Nicolas passando pelas tábuas com cuidado para não sujar sua roupa bege com a umidade da velha madeira.

"Como me achou aqui?" O velho detetive perguntou com uma expressão aborrecida com a falta de discrição do seu mais novo parceiro.

Perguntei em que direção você tinha ido para os guardas, daí foi só usar um pouco do bom e velho instinto de detetive. Disse o jovem com um leve sorriso na boca gravada na face com barba por fazer, Seus cabelos eram meio loiros, mas por estarem molhados com a chuva ficavam escuros como seus olhos, Thomas percebeu a mancha de catchup na gravada desarrumada.

Entre o céu e o inferno - A gênese do fimWhere stories live. Discover now