A noite

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Ju entra no carro, fechando a porta em seguida. Ela estava deslumbrante. Durante quase todo o caminho não conversamos, apenas trocamos algumas palavras referentes as músicas que tocavam no carro. Algumas a Ju dizia "essa eu gosto" e outras ela perguntava se podia trocar. Óbvio que eu dizia que sim.
A tensão nesse "primeiro encontro" era tanta, que a falante Ju estava calada e eu podia sentir seu olhar desviar do meu.
Não entendia muito bem o por que de tanta timidez de ambas as partes se já havíamos nos falado nas gravações, mas acho que devia ser pelo grau desse encontro, embora estejamos saindo como amigos.
Eu realmente não quero precionar a Ju, mas eu queria ser mais que amigo. Não sei muito sobre o antigo relacionamento dela, sabia que o ex a tinha traído, embora não soubesse a forma, então estava decido deixar levar, se ela me desse uma chance eu ia ficar muito feliz, caso contrário, ficaria feliz sendo só seu amigo também. Ela era demais.

Chegamos ao restaurante e eu estaciono. Desço, e abro a porta da Ju. Estendo a mão pra ela enquanto ela sai do carro, e não posso negar meu nervosismo. Caminhamos até o restaurante, minhas mãos estão em sua cintura e o silêncio permanece entre nós.

Escolhemos a mesa e eu puxo a cadeira pra ela sentar e logo contorno a mesa e me sento na cadeira a frente. O garçom pergunta sobre os nossos pedidos e nós o fazemos. O garçom se afasta e eu vejo que a Ju está meio desconfortável, então tento puxar um assunto.

-Então, demorei muito pra ir te buscar? -perguntei me referindo ao tempo que levei até a casa dela.
-Humm... Não muito. Foi até bom, na verdade. Geralmente eu me atraso em questão de hora, então deu tempo de ficar pronta. Só sou pontual com o trabalho. -ela responde rápido.
-E eu pensei que estava te deixando esperar...
-Bem... Não...
-Que bom então, Ju. Mas vem cá, cê ficou meio sem graça com o que as meninas falaram mais cedo hoje no camarim né? -pergunto pra ter assunto. Vejo suas bochechas corarem.
-Sim, mas eu posso te garantir que não estava falando de você, estava brincando com elas sobre a Marocas, e fiz um comentário sobre o Samuca. Apesar de que não posso negar que você é bonito mas... -ela fala sem parar, parecendo nervosa. Eu a interrompo.
-Ei, ei... Calma, eu sei. Tava só perguntando. -eu tento acalmá-la.
-Tá... -ela diz aliviada.
-Mas, sabia cê fica bonitinha assim, nervosa e falando rápido?
-Nicolas, tá me deixando sem graça. -ela fala olhando pras mãos.
-Tá. Desculpa, Ju. -eu peço.
-Tudo bem, não foi nada. -ela fala com um sorriso. Bom, já temos um avanço. Sorrio de volta.
-Cê tem irmãos? -pergunto pra novamente puxar um assunto e não ficar esse silêncio que agora paira sobre nós.
-Não, sou filha única. Apesar de amar crianças. E você?
-Tenho 3 irmãs. A Giulia, e a Nina por parte de pai e a Fefeca por parte de mãe. Elas são um terror. -digo lembrando das minhas irmãs.
-Deve ser legal né? Viver assim rodeado de crianças, ainda mais que você é o único filho homem... -ela comenta.
-Legal? Imagina quando as três começarem a namorar? Vou pirar. Imagina só, ter três cunhados...
-É, pensando por esse lado... -ela concorda.

Ficamos conversando sobre nossas vidas até nossa comida chegar, e quando chega comemos em silêncio. Dessa vez, a "vergonha" sumiu, e a Ju fica cada vez mais solta e brincalhona.

Terminamos de comer e ficamos ainda alí, conversando. Conversamos sobre praticamente tudo, e nesse momento sentia que conhecia muito bem a Ju, e talvez ela a mim. Conto a ela sobre os meus sonhos e ela os seus. Digo que minha estação favorita é o verão, e ela diz que tem uma certa indecisão sobre o verão e o inverno, que apesar de amar nadar, sair pela natureza, ela também ama um friozinho pra ficar em casa vendo um filme. Falei a ela sobre as minhas manias, e ela achou um máximo quando disse que somava os números das placas no trânsito. Principalmente quando disse que ela era a única que sabia. Contei que era viciado em "roer unhas" e ela me disse que isso não era bom, embora eu ja saiba. Ju fica pasma quando digo que não gosto de batata frita, mas eu não a julgo. Ela me fala do seu filme favorito e não me surpreendo quando ela diz que "O casamento do meu melhor amigo" era incrível. Conversamos até perdermos o horário, então ela pergunta se podemos ir embora.

Assim que pagamos a conta, a conduzo até o estacionamento com a mão na sua cintura. Abro novamente a porta do carro, ela entra e eu fecho a porta. Dou a volta no carro e entro. Ligo o som e dou a partida. No caminho, ela se solta bastante a ponto de cantar algumas músicas baixinho.
Ela até que cantava bem. Eu estava ficando cada vez mais bobo por ela, não havia como negar.

-Nicolas, qual seu cantor favorito? -me pergunta ela, me fazendo perceber que ainda não tinha feito essa pergunta a ela.
-Humm... Seu Jorge. E qual o seu?
-Com toda certeza do mundo... Lulu Santos. Gosto muito de MPB.
-MPB é sensacional. E qual sua música favorita? -pergunto pra Ju.
-Difícil escolher, mas acho que "tempos modernos" marcou minha vida. -ela diz.
-Sem dúvidas.
-E a sua favorita?
-Qualquer uma do Seu Jorge com a Ana Carolina.
-Hummm... -ela fala fazendo um certo "beicinho".
Estamos chegando na casa da Ju, e não posso negar minha tristeza por essa noite estar chegado ao fim.
Chegamos em seu prédio e eu fico com o coração na mão. Paro o carro e desço pra abrir a porta pra ela.
-Tá entregue, dona Ju. -Falo estendendo a mão pra ela.
-Muito obrigado, senhor Nicolas. -ela me responde com um puta sorriso.
-Não posso negar que agora eu to um pouco triste. -digo.
-E eu poderia me atrever a perguntar o por quê?
-Bom, a noite tá acabando.
-E isso significa...? -ela pergunta sorrindo.
-Que não vou mais te ver. -arrisco dizer.
-E por esse motivo cê tá triste?
-Sim, exatamente por esse motivo.
Ela se inclina em minha direção, ficando com a boca em minha orelha e diz.
-Então vou ter que dizer... Também estou triste por não te ver mais esta noite. -ela diz fazendo meu corpo todo arrepiar. Ela se afasta. Ju acabou comigo com essa afirmação.
-Para. Tá acabando comigo.
Ela da de ombros.
-Bom, preciso ir. Tá tarde. -ela diz.
-Tudo bem. -me inclino pra beijar suas bochechas. -Boa noite Ju! Durma bem.
-Boa noite pra você também, Nicolas. -ela me beija no rosto e sai.

Essa noite foi, de longe, a melhor que eu já tive.
Fico parado, escorado no carro, observando a Ju entrar no prédio. Quando ela entra, eu vou embora.

Quando chego em casa, pego o celular e mando uma mensagem pra Ju.
"Essa foi, de longe, a melhor noite que já tive. Me diverti muito. Já to com saudades. ;))"





Quando a chuva tem que cair... Ela cai!Onde histórias criam vida. Descubra agora