O PASSADO

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DAY

Day segue sentada na sacada observando a cidade enquanto toca seu violão em um tom extremamente triste, refletindo o que ela ouve por dentro, os pensamentos são tão violentos que ela engasga os acordes vez ou outra.

Não quero pensar... Não quero pensar... — repete a si mesma tentando fugir da sua própria cabeça.

As lembranças da sua infância martelam no fundo do seu cérebro.

Day teve uma infância difícil, era muito introspectiva e tinha problemas para socializar, até mesmo na escola quando ela era obrigada a isso. Só aos doze anos ela conseguiu sua primeira amiga: Bia.

Bia era diferente dela, uma menina super comunicativa, engraçada, e teve que forçar muito a barra pra conseguir abrir um espaço no muro que Day tinha construído para se proteger.

Juntas elas aprenderam muitas coisas sobre a vida e sobre elas mesmas, a forma de ver o mundo e como se portar diante dele. Foi a melhor época da vida de Dayane. Ela não se lembrava de ter sido tão feliz.


FLASHBACK

Day está sentada na sala de aula completamente dispersa quando uma menina entra na sala cumprimentando a professora e o resto da sala. A morena ergue as sobrancelhas sem ter ideia do motivo. A menina que acabara de chegar repara, olha pra Day e sorri simpática.
Dayane, envergonhada, prontamente abaixa sua cabeça e encara seu caderno, batendo o lápis na mesa algumas vezes sem jeito.

Bia pede pra sentar na frente de dela, na cadeira que ela sempre faz questão de ocupar com sua mochila justamente para que ninguém a incomode, mas Bia sorri tão abertamente pra ela  que ela não tem coragem de negar, apenas tira a mochila do caminho da garota.

Começou com uma caneta, um oi aqui e outro ali, depois surgiram alguns comentários sobre a aula, todos eles muito engraçados, era difícil pra Day não rir, mesmo ela tentando muito não se abrir daquela forma. Aos poucos, sem nem ao menos ela notar, ela já era uma outra pessoa com Bia. Uma pessoa que ela só conseguia ser com ela.

Aos 17 anos Bia arrumou um namorado e Day não gostava nada dele. Ela não sabia direito o motivo, ela só não ia com a cara feia dele mesmo. 

As brigas começaram.

Um dia, no meio de uma delas Day a chama de idiota e diz que fulano — como ela gostava de chamar Caio — só estava com ela porque queria comê-la. 

Bia dá um tapa na cara de Dayane, que sai do quarto de Bia com os olhos vermelhos.

No dia seguinte Day está em seu quarto quando a porta se escancara e ela vê uma Bia completamente descontrolada se jogando em cima dela na cama aplicando golpes com as mãos direto em seu peito enquanto chora.

— Por que você está fazendo isso comigo, Dayane?! — diz indignada enquanto Day apenas tenta se defender dos tapas segurando suas mãos, sem muito sucesso — me responde! POR QUE?! 

Day, num rompante, segura Bia pelos ombros num chacoalhão, olha nos seus olhos e diz: 

— Porque você merece alguém melhor do que aquele fulano de merda — dispara sem pensar.

— Mas o que ele fez pra você odiar tanto ele assim? — ela pergunta inocente e Dayane revira os olhos. 

— Você merece alguém melhor, só isso — respira fundo e tenta se recompor.

Bia se levanta um pouco, sentando de frente no colo da morena, seus olhos estão cerrados, ela respira fundo e parece estar fazendo força para confessar alguma coisa. 

— Alguém como você, Dayane? — diz num tom de desespero ainda de olhos fechados sem coragem de encarar a outra.

Dayane fica branca como se tivesse tomado um soco na boca do estômago.
Silêncio.

Bia continua:

— Alguém como você que não enxerga um palmo na frente do teu nariz? Que tem medo de tudo? Que não tem coragem de seguir seu coração? Que mente pra si mesma o tempo todo? — Bia perde a calma, abre os olhos e continua dois tons mais altos — ALGUÉM QUE FAZ DE TUDO PRA ME MANTER LONGE? QUE NÃO TEM A MORAL DE DIZER NA MINHA CARA QUE TEM CIÚMES? — Day não consegue se mover, ela nunca esteve sob tanta pressão em toda sua vida e continua simplesmente muda — Dayane, seja mulher uma vez na puta da sua vida pra assumir o que você sente por mim — Bia tenta, mas Day insiste em permanecer em silêncio — Dayane, eu tô te dando a chance de arrumar essa bagunça, basta eu ouvir da tua boca pra tudo se ajeitar, mas eu não posso passar a minha vida inteira esperando que você crie coragem pra dizer que também me quer!

Day sente muitas coisas, mas o maior sentimento agora que a engole inteira é o medo de perder Bia. É a última coisa que ela quer. Mas então por que ela não consegue dizer? Ela não sabe. Apenas se mantém com a boca fechada engasgada com todo aquele amor.

Bia insiste.

— Day, por favor... — seus olhos estão vidrados esperando que Dayane levante a cabeça e diga o que ela esperou todos esses anos pra ouvir mas nada acontece — Não me deixe ir embora, Day, porque eu não vou voltar. Eu não suporto mais passar meus dias esperando por você. Não me deixa ir embora... — ela engasga na última frase e chora.

Dayane permanece em silêncio com o cabelo tampando quase todo seu rosto enquanto olha fixamente pro colchão. 

Bia, derrotada, tenta se levantar do colo de dela, mas Day a segura firme. Ainda olhando pra baixo, num murmúrio ela diz:

— Quero você...

Bia não tem certeza se ouviu direito. 

— O que você disse? — pergunta com receio.

Day tenta novamente, agora olhando diretamente pra garota em seu colo.  

— Eu quero você, Bianca. 

Bia se assusta e fica em silêncio sem conseguir piscar. Por mais que ela desejasse ouvir isso, no fundo ela esperava que Day fosse continuar sendo covarde pra vida toda. 

As duas estão tentando digerir o que está acontecendo enquanto tentam desacelerar os batimentos em silêncio completo.

Bia volta a chorar e a única coisa que ela consegue dizer é: 

— O que eu faço com Caio? 

Day a olha incrédula, movida pelo ciúme, ela agarra na cintura da menor e a puxa pra um beijo. 

O primeiro beijo das duas não foi como nenhuma delas sonhou, ele é extremamente desesperado e quente, e logo Bia já não se lembrava mais quem era Caio. Nada mais importava quando as roupas já estavam espalhadas pelo chão. Ela só queria estar ali sentindo Day dentro dela.

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