—Bom, tudo começou quando eu tinha seis anos. – Lauren começou a falar. – Nós éramos a família perfeita! A melhor família do bairro! – suspirou. – Até que minha mãe descobriu que meu pai estava traindo ela. Daí começou as brigas, todo dia meu pai chegava embriagado, eu juro que via um homem ensanguentado e com machucados, de blusa vermelha e calça preta, tudo rasgado, eu juro que via esse homem ao lado do meu pai, ele o acompanhava, eu dizia isso mas achavam que eu estava tendo alucinações por conta das brigas deles. Minha mãe culpou meu pai por eu ter os pesadelos com o homem que o acompanhava, e meu pai me culpava por minha mãe ter o mandado para fora de casa. – parou para tomar ar. – Depois que meu pai foi embora com a amante, minha mãe teve que começar a trabalhar, meus irmãos estudavam pela manhã, minha mãe saia as 05:10am e meus irmãos as 06:30am, eu ficava dormindo sozinha até às 10:00am, quando a babá chegava e me arrumava para me levar á escola. Minha tia e meus primos moravam no andar de cima da casa, minha vó no de baixo, então não tinha perigo alguém de fora entrar. Mas é porque ninguém iria imaginar que o monstro já estava lá dentro, convivendo com eles. Um dia, me lembro que eram sempre nas sextas feiras, eu contei, foram oito vezes, oito malditas vezes! – Lauren contava e eu ouvia tudo atentamente. – U-um dia, um homem entrou em casa, eu acordei com o barulho, eu ouvi passos, eu fiquei forçando meus olhos para não abrir, mas o homem começou a passar a mão no meu corpo, até na minha parte íntima, e começou a doer, foi aí que eu abri os olhos... – suspirou. – Era meu tio... E-eu queria gritar, mas, ele tampou minha boca com a mão e disse que se eu gritasse, ele iria me bater e ia matar a minha mãe. Então eu não gritei, eu senti uma dor horrível, era como se ele tivesse me rasgado, doía muito, sangrou também, ele fazia isso com gosto, seu sorriso ficava estampado em seu rosto, sua voz gemendo de prazer... Eu me lembro de tudo, depois, nas outras sete vezes, eu não fazia nada, ficava apenas parada... – lágrimas desciam por seu rosto. – Eu não conseguia sentir nada além de seu corpo batendo contra o meu, o som alto que transmitia... – ela parou de falar e se pôs a chorar.
—Ei calma. – a abracei. – Não precisa continuar, tá bom? Eu estou com você. – fiz carinho em seu rosto.
—Eu penso, se eu nunca tivesse sentado no colo dele, ou aparecido de calcinha perto dele, talvez ele não teria me roubado o que eu nunca dar à alguém. – ela disse entre o abraço.
—Não, não, não, você não tem culpa Lauren. Ele é um monstro, o errado é ele. – olhei em seus olhos. – Eu estou com você, e nunca mais ele vai encostar em você. Eu nunca vou deixar alguém te machucar. – falei com toda a sinceridade.
—Você é tão boa. – ela sorriu e me deu um selinho. – Eu preciso continuar, comecei e quero terminar, vai me aliviar muito.
—Tudo bem, eu vou te ouvir. – permaneci abraçada à ela.
—Bom. – suspirou. – Ele só parou com os abusos, depois que ele abriu um bar em outro estado, no interior. Então ele foi embora. Foi embora mas deixou suas marcas em meu corpo. – outra lágrima desceu por seu rosto. – Quando eu pensei que tudo dê ruim comigo tivesse acabado, minha mãe começou a me espancar, todo dia eu apanhava, ela chegava estressada do trabalho e descontava seu ódio em mim, e o ódio pelo meu pai também. Com dez anos, eu comecei a me cortar, eu vi uma garota fazendo isso na tv, eu pensei "nossa, isso vai aliviar minha dor." E então eu comecei, até hoje eu não paro. Eu consegui esconder até os doze anos. Minha mãe parou de me bater quando nos mudamos para cá, ficamos uns dois meses como uma ótima família, mas ela continuou com os problemas do serviço dela e voltou a me bater, eu aguentei até os treze, foi quando eu revidei, eu não bati nela é claro, mas eu a empurrei para longe de mim, ela ficou mais brava ainda, mas saiu depois de me bater, na segunda ela veio de novo, e subiu em cima de mim, ela me machucou muito aquele dia, ela tinha tacado o celular dela na minha cabeça, umas três vezes, então começou a sangrar, foi aí que eu dei uma pesada nela, ela saiu de cima de mim, eu a empurrei para fora do meu quarto e tranquei a porta. – parou para retomar o fôlego. – Depois ela veio com o mesmo papinho de sempre, me pediu desculpas e me deu dinheiro, eu aceitei, poxa ela é minha mãe. Bom, ela parou de me agredir fisicamente, mas me agredia verbalmente e psicologicamente, ela me humilhava, ela não me dava amor, apenas palavras ruins, a última vez que ela me disse "eu te amo" antes de tudo isso, foi quando eu tinha cinco anos. Hoje em dia ela se controla para não me humilhar tanto, ela continua sendo ruim, mas eu não dou tanta importância, mesmo com as minhas tentativas de suicídio, ela não parou.
—Quantas vezes tentou suicídio? – perguntei curiosa.
—Quatro. – abri minha boca. – A primeira vez que eu pensei em suicídio, eu tinha dez anos, eu estava tão cansada de apanhar todo dia, eu mandei uma mensagem para minha amiga, eu mandei um "Vou me matar." E fui para a cozinha, peguei a faca e fiquei a analisando, até que ela respondeu um "Pq?" E eu parei para responder ela, eu lembro até hoje da minha desculpa para desconversar: "Amanhã é segunda e tem aula ):"
Depois que eu mandei a mensagem, minha mãe chegou e eu guardei a faca.—Caralho, sua vida é muito difícil, mas saiba que eu estou com você, para o que der e vier. – segurei suas mãos. – Eu estou com você, vou te ajudar em tudo o que eu puder, e o que eu não puder, vou dar um jeito de poder.
—Você é incrível Camila. – ela sorriu.
—Ah, eu tento, sabe?
—Assim como está tentando fazer graça para quebrar o climão. – fiquei boquiaberta.
—Espertinha! – dei um beijinho em seu rosto.
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Sol & Lua | CAMREN
Romance"Hoje minha vizinha tentou se suicidar, não entendo o porquê, ela é tão linda... Bom, eu já havia notado que sua vida parecia ser difícil, mas nunca disse nada, faz tanto tempo que apenas a observo passar pela rua, mas nunca tive coragem de trocar u...