8- Daniel

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O manto da noite envolveu o dia... A lua brilhava alta... Era hora da caça.

Os três trajavam roupas de camuflagem. O Ogro levava uma espingarda nas costas e um revólver calibre .38 de um lado da cintura e um facão do outro. Estavam saindo de casa quando Ele entregou um canivete a Nicolas e outro a Daniel.

"Não vai nos dar uma arma pra carregarmos?" perguntou Nicolas. O pai riu.

"Tá maluco, moleque! Acha que eu sou doido? E se você disparar essa arma e acertar alguém?" O Porco levava um grande cigarro na boca e não precisava tirá-lo para produzir o barulho nojento que era sua gargalhada. "Talvez depois de hoje você ganhe uma."

Encontraram Luiz e o filho no lugar marcado; um grande carvalho ao pé da serra, próximo do grande barranco onde ele sabia que Nicolas gostava de ir, enquanto ele, Daniel, que fora lá apenas algumas vezes, sentia medo. O filho de Luiz, Alex, tinha seus 15 anos. Era um garoto encorpado: levava uma faca na cintura e uma espingarda nas costas. Daniel, assim como o irmão, não gostava dele, e ao que tudo indicava o sentimento era recíproco.

Os dois adultos iam mais a frente, conversavam sobre mulheres e bebidas. Daniel e o irmão iam atrás, calados. Os olhos e os ouvidos atentos a movimentos desconhecidos e aos menores barulhos da mata. Alex tentava acompanhar o pai, mas por estarem em uma trilha estreita era obrigado a ir um pouco atrás, porém na frente dos meninos. De vez em quando lançava olhares para trás e fazia careta pra eles, se acha o adulto. Os pais pararam. Luiz fez sinal para que o filho se aproximasse. Daniel se esforçou para ver o que havia à frente: era um coelho. Um pequeno bichinho peludo que parecia assustado, encolhido em meio às folhas.

Alex tirou a espingarda velha das costas, armou e apontou para o animalzinho peludo. Luiz observava aparentando orgulho do filho. Alex parecia ansioso e em nenhum momento hesitante. Daniel tapou os ouvidos, o pai olhou para ele e balançou a cabeça. O tiro de Alex acertou o chão próximo ao coelho, porém parte do chumbo acertou o flanco do animal, impedindo o de correr. Ao se aproximarem ouviram os barulhos que o animal fazia demonstrando eximia agonia.

"Termine de mata-lo, Daniel." O Bêbado disse de repente encarando-o. Daniel ignorou por um momento como se não fosse com ele. Não queria fazer aquilo. "Tá surdo, moleque?!" O Bêbado aproximou-se dele. Daniel não conseguia ver alternativa, estava com muito medo. Nesses breves segundos de extremo pânico se pegou pensando o que o coelho estava fazendo antes daquele momento...

Será que tinha família?...

Daniel aproximou-se do animal e pegou o pequeno canivete que o pai dera...

Será que tinha família?

Levantou o coelho pelas orelhas...

Será que maltratava sua esposa coelhinha?

Colocou o canivete no pescoço do coelho e deixou que a lâmina corresse... Mas naquele momento não era mais o coelho... Era o Ogro.

O tênue brilho da inocênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora