O manto da noite envolveu o dia... A lua brilhava alta... Era hora da caça.
Os três trajavam roupas de camuflagem. O Ogro levava uma espingarda nas costas e um revólver calibre .38 de um lado da cintura e um facão do outro. Estavam saindo de casa quando Ele entregou um canivete a Nicolas e outro a Daniel.
"Não vai nos dar uma arma pra carregarmos?" perguntou Nicolas. O pai riu.
"Tá maluco, moleque! Acha que eu sou doido? E se você disparar essa arma e acertar alguém?" O Porco levava um grande cigarro na boca e não precisava tirá-lo para produzir o barulho nojento que era sua gargalhada. "Talvez depois de hoje você ganhe uma."
Encontraram Luiz e o filho no lugar marcado; um grande carvalho ao pé da serra, próximo do grande barranco onde ele sabia que Nicolas gostava de ir, enquanto ele, Daniel, que fora lá apenas algumas vezes, sentia medo. O filho de Luiz, Alex, tinha seus 15 anos. Era um garoto encorpado: levava uma faca na cintura e uma espingarda nas costas. Daniel, assim como o irmão, não gostava dele, e ao que tudo indicava o sentimento era recíproco.
Os dois adultos iam mais a frente, conversavam sobre mulheres e bebidas. Daniel e o irmão iam atrás, calados. Os olhos e os ouvidos atentos a movimentos desconhecidos e aos menores barulhos da mata. Alex tentava acompanhar o pai, mas por estarem em uma trilha estreita era obrigado a ir um pouco atrás, porém na frente dos meninos. De vez em quando lançava olhares para trás e fazia careta pra eles, se acha o adulto. Os pais pararam. Luiz fez sinal para que o filho se aproximasse. Daniel se esforçou para ver o que havia à frente: era um coelho. Um pequeno bichinho peludo que parecia assustado, encolhido em meio às folhas.
Alex tirou a espingarda velha das costas, armou e apontou para o animalzinho peludo. Luiz observava aparentando orgulho do filho. Alex parecia ansioso e em nenhum momento hesitante. Daniel tapou os ouvidos, o pai olhou para ele e balançou a cabeça. O tiro de Alex acertou o chão próximo ao coelho, porém parte do chumbo acertou o flanco do animal, impedindo o de correr. Ao se aproximarem ouviram os barulhos que o animal fazia demonstrando eximia agonia.
"Termine de mata-lo, Daniel." O Bêbado disse de repente encarando-o. Daniel ignorou por um momento como se não fosse com ele. Não queria fazer aquilo. "Tá surdo, moleque?!" O Bêbado aproximou-se dele. Daniel não conseguia ver alternativa, estava com muito medo. Nesses breves segundos de extremo pânico se pegou pensando o que o coelho estava fazendo antes daquele momento...
Será que tinha família?...
Daniel aproximou-se do animal e pegou o pequeno canivete que o pai dera...
Será que tinha família?
Levantou o coelho pelas orelhas...
Será que maltratava sua esposa coelhinha?
Colocou o canivete no pescoço do coelho e deixou que a lâmina corresse... Mas naquele momento não era mais o coelho... Era o Ogro.
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O tênue brilho da inocência
Mystery / ThrillerUma casa afastada da cidade. Um homem drogado e violento. Uma mulher passiva viciada em calmantes. Um filho que não enxerga saída para libertar sua mãe a não ser matando o pai. E outro perdido no meio disso tudo. Acompanhe o resultado dessa história...