7- Nicolas

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"Uma caçada?!"

"É, mulher, por que essa surpresa? Nicolas já tem 13 anos e nem ao menos sabe atirar, parece uma bicha de tão desajeitado que é. Não quero que meus cumpadis fiquem comentando." O Ogro falava com a boca cheia espirrando migalhas por toda a mesa. "Cumpadi Luiz nos chamou pra ir hoje à noite. E Daniel vai junto, não vou deixar que ele fique igual esse aí."

A mãe ficou tensa por um tempo, até levantar da mesa encher um copo de água e tomar dois comprimidos de uma cartela que ficava em cima do armário. Quando sentou de volta já parecia mais relaxada. Nicolas a via tomando aquele remédio pelo menos umas quatro vezes ao dia, eram tranquilizantes que haviam lhe sido prescritos, mas com certeza não era pra ser tomado daquela maneira.

A ideia de passar a noite no mato com o Trasgo, Luiz, e seu filho idiota, não agradava nem um pouco Nicolas, porém não havia como escapar.

Ao terminarem o almoço, o Bicho foi para o quarto se deitar como de costume. Nicolas saiu e foi se sentar em um galho da velha jabuticabeira. Tentou evitar, mas não conseguiu, lá de cima seus olhos foram direto até uma pequena cruzinha fincada distante da casa. Sob aquela cruz feita de dois gravetos tortos, e amarrados com cipós, jazia o corpo da pequena Emile. Ele não lembrava muito da irmã. Emile nascera um ano depois de Daniel e morrera poucas semanas depois. Após a morte dela, a mãe viveu um período extremamente delicado, foi atingida por uma depressão profunda e foi aí que o marido a levou a seu amigo médico que lhe receitou os calmantes que ela tanto tomava.

E se uma arma disparasse acidentalmente na cabeça do Ogro explodindo aqueles miolos nojentos?

Essa pergunta deu um novo rumo ao fluxo de pensamentos de Nicolas.

O tênue brilho da inocênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora