06 | أنا أكرهك

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Ah, eu devo ter ficado louco de novo.

Acontece.

Francisco estava, ainda, no quarto de Johan, o observando falar com a irmã na sala.

— Eu juro que ele não vai descobrir nada — Johan disse, em um tom baixo de voz.

— E você teve mesmo que chamar ele pra cá? — a irmã disse. — Isso é arriscado, eu já cansei de te avisar. Vamos logo voltar pra Alemanha antes que fique perigoso.

Na mesma hora, Francisco voltou ao quarto. Fechou a porta.

Somente ficou observando àquela velha foto da infância de Johan. O reconheceu na mesma hora: tratava-se do exato, mesmo garoto que ele havia conhecido durante sua infância. Diversos pensamentos rodaram à sua cabeça, especialmente após haver ouvido aquelas palavras.

Pensou ter ficado louco de vez.

Percorreu o quarto. Diversas vezes. Andou encarando o chão, e andou mais rápido ainda graças àquele misto de sensações que estava sentindo. Ódio. Rancor. Quer dizer, sentia uma extrema raiva, acima de tudo.

"Johan", aquelas palavras invadiram sua mente. Johan. Johan, Johan, Johan. Não poderia acreditar no que estava acontecendo. Deixou de encarar o chão para encarar o teto, sentindo-se tonto.

Uma extrema fúria o consumiu.

— O que significa isso? Descobrir o quê? O que eu não posso descobrir? — dizia para si, perdendo totalmente o controle de sua própria voz. O espaço, ao seu redor, tampouco parecia o mesmo. — O quê? O que eu não posso descobrir? Descobrir o quê? — repetia, em um vício.

Perturbação das emoções. Parecia um verdadeiro delírio: não sabia o que sentir; sabia que estava com ódio, mas também sabia que havia conversado com Johan aquele tempo todo e que realmente gostava dele.

Delírio. Sim, aquela perturbação intrínseca em sua fala, em seus pensamentos, aquela vontade por repetir tudo; aquele, era um sintoma clássico de delírio. Aquele misto de sentimentos que sentia em seu peito, mas não sabia acontecer; aquilo, sim, era delírio.

E o espaço. O espaço que viu, quando deixou de encarar o chão para encarar o teto, aquele espaço parecia modificado. Sentia-se tonto; não uma tontura comum, mas uma tontura perigosa. Não reconheceu o espaço em que se encontrava: o via rodando, o via menor do que o normal, o via maior do que o normal. Poderia até mesmo estar no orfanato e não saberia distinguir.

Andou, desordenado. Não sabia se estava pisando no chão, mas estava caminhando. Bateu na cama por não a ter visto muito bem.

Letargia. Estupor, paralisia. Ficou parado por um tempo e, ainda assim, via o quarto ao seu redor, nem um pouco parado. Uma falta de ar. Sentiu estar perdendo seu ar.

Johan adentrou seu quarto, com um copo d'água e um sorriso carismático.

— Francisco? — disse, o vendo andar pelo quarto. — Eu trouxe sua água.

Alucinações. Ouvia um ruído agudo em sua mente e sequer percebeu que Johan havia adentrado o quarto. Andou, desordenado, mais um pouco, inclusive fazendo maneirismos com as mãos e feições em seu rosto que Johan julgou como sendo estranhas. Sequer sentiu que os estava fazendo.

— Francisco? — Johan perguntou, mais uma vez, com um semblante sério.

Francisco, por fim, o encarou. Paralisado, novamente, mas o encarou.

— O que significa isso? — perguntou. Foi até ele, mas Johan distanciou-se para colocar o copo d'água na cabeceira.

Por fim, voltou a olhá-lo. Colocou suas mãos no ombro de Francisco.

O Mentiroso (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora