Capítulo 20 : Cavalheiros brutos e conversas no frio

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— Acho que hoje você tem mais uma conquista para se gabar com seus amigos.

Posso ver suas sobrancelhas escuras se unirem levemente em confusão e por fim seu rosto revelar surpresa.

— Conquista ? — Ele repete com um pouco de estranheza evidente em sua voz.

Escondo minha mãos dentro de meu moletom as bolinhas, antes que ar condicionado que está competindo com o polo norte as congele tal como está fazendo as minhas bochechas e volto meu olhar no vidro que mostra as luzes reluzentes de fora.

— Você realmente pensa assim ? — Aquilo sai num tom baixo mas pela minha audição aguçada consigo ouvir.

— Talvez — Sou sincera.

Posso sentir seu olhar intrigante cair em mim por alguns segundos, a medida que seus olhos correm por meu rosto e seus olhos encontram os meus uma sensação electrizante é deixada em mim.

É estranho ter ele olhando só para mim mesmo depois de tudo que aconteceu, ainda não posso ignorar o facto de eu não saber nada sobre ele além de seu nome o que o torna quase um estranho.

Mas ainda tem uma pergunta que me faço no meio de tudo isso. Será que eu realmente quero saber mais dele ?

— Eu apenas estou sendo aquilo que as pessoas chamam de um cavalheiro — Sua cabeça cai para o lado e seus cabelos enrolados da frente o seguem batendo sua testa.

— Um cavalheiro que agride alguém ? — Um sorriso irônico nasce em seus lábios.

Observo sua mão enroscada no curativo fixa no volante claro assim como os assentos e meus olhos curiosos sobem querendo ver vais mais dele.

Correndo por seu braço um tanto musculoso coberto pela jaqueta de couro, aquilo é algo que parece naturalmente combinar com ele.

— As vezes eu posso ser um cavalheiro um pouco adverso.

— Um cavalheiro bruto — corrijo e volto meu olhar para o vidro revelando prédios mais altos que os outros.

É só uma questão de minutos até ele parar no prédio todo vidrado que minha mãe escolheu para chamar de casa.

E agora vendo essa situação com mais atenção, percebo que não falei para ele meu endereço, mas misteriosamente isso é algo que ele parece saber bem.

— Mas de algo tenho certeza, senhor cavalheiro bruto — posso ver nele um sorrisinho surgir no canto — Sua namorada — O sorriso desaparece — Não gostaria nada de saber que me deu uma carona.

Ele passa a mão nos cabelos escuros na pouca luz os deixando ainda mais desgrenhados de forma perfeita e suspira parecendo incomodado.

— Aqui o senhor cavalheiro não tem namorada. Nunca teve. Nunca vai ter!

— Mas como assim ? E a Poppy ela e você...

— Eu não sou tão burro ao ponto de me envolver seriamente com ela — Ele ri como se aquilo fosse uma piada. — Ela pode achar também que temos algo mais isso nunca vai acontecer.

— Você deveria dizer para ela, acho errado você deixar ela acreditar em algo que não é verdade.

— Acho desnecessário explicar algo tão óbvio — Ele para no sinal vermelho aproveitando a pausa para me olhar — Mas porquê tanto interesse no assunto ?

— Não é interesse apenas curiosidade.

Analiso seus ombros encolherem no assento, ele não parece muito confortável com essa conversa.

A felicidade dentro parece acender ao saber, que eu, Alissa Beasley, estava deixando Dylan Parker constrangido, parece que agora o jogo finalmente virou

— Você por vezes consegue ser muito curiosa Beasley — sussurrou ele, sem me encarar — Sabe, quando eu dou carona para outras garotas, que são bem poucas — Ele acrescenta.

Algo me diz que essa última parte é mentira.

— Elas normalmente fazem a conversar toda ser um flerte e ao menos elogiam meu carro. Elas não ficam me interrogando ou são "curiosas"

— Nem pensar que irei fazer a primeira opção mas eu posso elogiar o seu carro, se isso te deixa mais feliz — aviso e acaricio o tecido azul da minha mochila na tentativa de uma distração

O sinal abre e me viro o flagrando me observando, mas logo volta a atenção para a estrada, posso sentir minhas bochechas que antes eram geladas queimarem.

— Tenta a segunda opção. Já que não vai rolar à primeira — Ele sorri e me olha de canto antes de acrescentar — Infelizmente.

— Bom analisando bem foi uma escolha ambiciosa mas interessante — Comento acabando com o silêncio.

Fico pensativa e viajo até a oficina de meu pai quando ele avaliava os carros 

— O primeiro modelo a quebrar a barreira das trezentas milhas por hora.

Eu estava me sentindo uma tola por isso mas sigo em frente sentindo o olhar aumentar

— O que mais me chama a atenção é o motor impressionante — Falo com sinceridade — 100cv a mais que o Chiron normal, o que não é pouco Super Sport concede melhorias aerodinâmicas e, também, na relação de marchas o que é bastante eficiente.

Me voltando um pouco para ele posso notar um pouco de surpresa pelos seus lábios um tanto entre abertos e para piorar não posso negar que ele é bonito e atraente quando é pego de surpresa.

— Resumindo ele é o mais rápido, mais interessante mais perigoso — Digo confiante ao ver ele sorrir — Mais riscos são uma coisa que sempre devemos

— Enfrentar na estrada — Ele completa ao mesmo tempo que eu diminuindo a velocidade.

Seu maxilar fica firme tenso e os olhos perdem o brilho, não sei se disse algo errado mas vindo de mim que na maioria das vezes falo besteira é bem provável.

— Meu pai costumava dizer o mesmo — comenta.

[...]

— Sua casa é a próxima, certo? — perguntou ele, calmamente. 

— Sim. — Digo enquanto o carro parece abrandar mais.

Com certeza se esse cenário todo se passa-se em Riverwood a carona não passaria tão despercebida assim porquê em uma cidade de apenas 1487 habitantes sempre teria um ser inconveniente para espalhar o boato.

Espero que isso não aconteça aqui. Não quero ter nenhum envolvimento com alguém como o Dylan. Sei muito bem que tipo de atenção indesejada isso me traria. 

— Como você sabe onde eu moro? — pergunto por fim, Dylan coçou a nuca antes de responder

— Eu acho que você não ia querer saber — começou, deixando-me curiosa. —  Acredita.

Seus olhos castanhos caíram sobre os meus e ele umedece os lábios de forma lenta fazendo algo dentro de mim se revirar num giro de trezentos e sessenta, era estranho ver ele olhando apenas para mim, só para mim.

O carro para, me viro para ver minha casa. Voltei minha atenção para o Dylan, que tirará as mãos do volante e me observava parecendo quer dizer alguma coisa.

Ele se aproxima olhando para mim me permitindo sentir o cheiro fresco de seu perfume e entre abre os lábios liberado o cheiro de menta que se mistura de forma viciante com o do perfume.

Antes que sua voz grossa chegasse aos meus ouvidos os aquecendo de forma tão desejada, sou rápida agradeço pela carona e com o sorriso mais convincente para não ser grossa saiu do carro.  

Enquanto caminho para dentro do prédio escuto o ronco do motor e os pinéus sobre o asfalto se distanciar.

Essa foi uma das noites mais estranhas da minha vida. O elevador rápido me traz logo para meu andar. Entro em casa e fui recebida por ambiente escuro, e um tanto melancólico.

Com minha mãe no meio dele ?
Algo está está errado.

Perfect collision [Degustação]Onde histórias criam vida. Descubra agora