Samantha
Manila
Filipinas
16 anos
O caminho entre o aeroporto e nossa nova casa foi relativamente tranquilo. A música eletrônica tocava baixinho ao fundo, enquanto eu concentrava toda a minha atenção num best seller que comprei antes de sairmos do Chile, na pequena livraria do centro da cidade, que vendia um ótimo chocolate quente: doce e viciante.
Meus pais prestavam atenção ao caminho. Assuntos como trabalho, transferência e compras eram falados, porém, o foco era a estrada pavimentada cheia de árvores. Henry olhava a paisagem pela janela distraidamente, já Benjamin, dormia pesado no banco traseiro.
Havíamos acabado de chegar na estrada, então, mesmo com o chip de internet, as antenas telefônicas não alcançavam sinal, - nenhuma novidade – me fazendo abrir a galeria, mostrando todas as fotos tiradas no avião. Por exemplo, mares, desertos, fazendas e neve, uma mais bonita que a outra, - sorte por ter localizador, posso anotar tudo depois – arrancando alguns sorrisos tímidos.
- Crianças, colocaram os cintos? – Meu pai pergunta olhando o Waze.
- Sim, pai. Estou com fome, sobrou comida? – Perguntei incerta.
- No primeiro restaurante que avistarmos, paramos querida – minha mãe afirma vidrada em sua revista de sapatos. – Mais uns minutos e extinguimos a fome.
- Posso ouvir um buraco se formando dentro do meu estômago, que fome – Henry dramatiza, reviro os olhos. – Bem capaz de eu comer um boi.
- Fica quieto aí, tem gente tentando dormir – Benjamin reclama coçando os olhos. – Valeu por me acordar, agora nem sei se volto para o sono.
- Você dormiu o voo inteiro, fiz nada, isso é seu corpo te falando para levantar – Henry ri. – Daqui a pouco chegamos ao restaurante.
- Tranquilo. Boa noite que eu vou dormir. Beijo para quem fica. – Benjamin recoloca os fones, virando para o lado e ajeitando o capuz.
- Pai, - chamo – quanto tempo até nossa casa?
- Se tudo for de acordo com os conformes, daqui umas três horas, sem contar o restaurante – ele responde e eu afundo no banco. – É só curtir a paisagem – posso notar seus olhos cansados pelo retrovisor.
- Ok, vou tentar. – Falo e ele assente. – Posso deitar no seu colo? – Dirijo-me ao Henry, que apenas balança a cabeça em positivo.
Sinto seus dedos passarem pelos meus cabelos e sentindo o carinho, descanso as pálpebras por alguns minutos. Lembranças me atingem e imagens de países que já moramos.
Na Austrália, a primeira vez que pude ver e tocar um canguru. Fernando de Noronha quando pude nadar com filhotes de tartaruga. Nos Estados Unidos, encostando numa jibóia amarela pintada. Em Cancún, nadando com os golfinhos nariz de garrafa. Ou então na África, no safári onde pudemos avistar bem de pertinho leões, girafas, elefantes e rinocerontes.
Sou desperta dos pensamentos assim que o motor desliga. Fomos em direção ao restaurante e sentamos de frente para nossos pais.
- Benjamin, já falei mil vezes que você tem que pedir coisas mais saudáveis! – Mamãe repreende ao ouvi-lo pedir hambúrguer com fritas. – Parece que não cresce nunca! – Há tristeza em sua voz.
- Mãe, eu não vou pedir uma comida típica por ser tudo bem estranho, então, antes prefiro conhecer meu terreno.
- Você anda jogando videogame demais – ela diz e meu irmão emburra. – Não faz essa cara, Benjamin Hertz Evans!

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Recomeço
Fiksi RemajaTempo. Tudo aquilo que eu pedia era tempo. Para mim, tudo girava em torno dele. Uma das pessoas mais importantes da minha vida foi tirada de mim, sem mais nem menos. A dor é feita para ser sentida, mas quando vem com tudo, é terrivelmente assustad...