Pov Daniel
Hoje foi real ou um sonho? E se foi um sonho, ainda estou vivendo dentro dele?
Estou com medo de a qualquer momento escutar meu despertador tocar e ter que acordar para ir trabalhar.
Bom, acabei de me queimar esquentando água para fazer um chá, e isso doeu muito. Definitivamente, não estou sonhando. Porém, isso não impede de que o que aconteceu a tarde tenha sido tudo uma ilusão criada pela minha mente. Preciso confirmar se foi real, mas primeiro tenho que cuidar desse machucado antes que vire uma bolha.
Passei uma pomada pelo local, peguei minha caneca com o chá e fui até a mesa. Coloquei-a ali e apanhei meu caderno. Esse é o bem mais precioso que tenho na vida. Com receio, abri na página e está aqui o desenho que fiz daquele rapaz hoje.
Ok, eu realmente o vi e o desenhei, mas a parte que conversamos a tarde inteira e ele ter pedido meu número deve ter sido uma ilusão criada pela minha cabeça. Bebi um pouco do chá, quase queimando minha língua e boca, e voltei a caneca para onde estava. Peguei meu caderno novamente e abri na última folha, que está rasgada. Foi real. Eu conversei com aquele homem e passei meu telefone pra ele. Sem perceber, acabei sorrindo.
Lembrei-me do seu nome: Elídio... Um tanto quanto esquisito, mas único. Combina com ele.
Desde que o vi no metrô, não saiu dos meus pensamentos. Nunca acreditei em amor a primeira vista, porém assim que coloquei meus olhos nele, senti algo diferente. Ele estava sentado, completamente molhado e olhando para o nada. Parecia estar pensando. Provavelmente fiquei encarando-o, e só percebi isso da pior forma possível: ele se levantou e veio andando na minha direção, nervoso. Ainda bem que as portas do vagão abriram-se bem naquela hora, pois tive a certeza de que ele ia me xingar e talvez me bater.
Saí correndo para o meu trabalho e durante todo o dia, ele não saiu da minha cabeça. Assim que cheguei em casa, peguei meu caderno para desenhá-lo, antes que esquecesse de algum detalhe. Entretanto, acho que seria impossível esquecer da sua imagem.
Nesse caderno, desenho momentos que vejo e nunca quero esquecer. É meu cantinho onde posso ser eu mesmo e fazer o que mais amo no mundo: desenhar. Sou apaixonado por arte, mas deixei esse sonho de lado. Meus pais sempre disseram que isso não dá dinheiro, que eu iria passar fome e nunca me apoiaram; Então, eles pagaram minha faculdade de contabilidade. Sou feliz trabalhando com isso? Não, mas é o que me dá dinheiro para viver sozinho, sem precisar da ajuda deles.
Voltando. Lembro-me que sentei na minha escrivaninha, com uma xícara de chá ao lado e o caderno em cima dela. Tinha nitidamente a imagem dele na minha mente. Comecei a desenhá-lo, tentando reproduzir o máximo de detalhes possíveis. Seu cabelo preto, olhos castanhos escuros... bom, na verdade, não tive tanta certeza quanto a cor dos olhos, mas imaginei ser assim. Tinha os lábios pequenos e estava todo molhado, tanto suas roupas, quanto sua bolsa. Um detalhe que foi impossível esquecer foram os tênis diferentes um do outro.
Lembro-me que fiquei no mínimo 2 horas desenhando-o, e não costumo demorar tanto tempo assim; são raras as vezes que isso acontece. Mas por algum motivo, queria que aquele desenho ficasse perfeito. Foi a primeira vez que o vi e a cidade é pequena, pensei até que fosse um turista... Mas por que alguém passaria férias aqui? Não tem muita coisa para fazer, a cidade é bem tranquila comparada a outras. E esse foi um dos motivos que me fez querer morar aqui.
Não gosto muito de festas com música alta. Prefiro ficar em casa, bebendo um chá ou até mesmo vinho. Contudo, as vezes saio de casa, indo para um restaurante, uma lanchonete, o cinema ou meu lugar favorito: o parque. É o lugar onde mais tenho inspiração para desenhar.
Enfim, voltando ao dia de hoje. Ainda não acredito que encontrei aquele cara. Pelo tempo que conversamos, e olha que não foi pouco, percebi que além de muito bonito, é inteligente e engraçado. Tive a impressão de que é muito feliz e tem muitos amigos, sendo totalmente o meu oposto. E também é um homem de muita atitude, pois em apenas minutos de conversa, me deu um selinho.
No final, pediu meu número. Ok, isso significa que gostou de mim? Bom, ele não parece ser do tipo que se apaixona fácil. Elídio me pareceu ser brincalhão, atirado e irônico. Enquanto eu sou envergonhado e fico vermelho facilmente.
Sou bastante tímido, portanto não sei de onde saiu coragem para pedir aquele abraço na hora da despedida. Meu coração estava completamente acelerado, e o dele não estava diferente do meu. E tenho certeza que aquele abraço foi longo demais.
Ainda não consegui esquecer a vergonha que passei chamando-o de "Lili", porém o mesmo pareceu não se incomodar com o 'apelido'.
Como eu disse no começo, nunca acreditei em amor a primeira vista, mas parece que o tal cupido resolveu ferrar a minha vida. Não tive sorte em relacionamentos, então não devo ficar muito animado; Certeza que não daremos certo.
Meu Deus! Pra quem não acredita em amor a primeira vista, veja onde estou: fazendo planos com um desconhecido que nem sei se realmente gostou de mim e vai me mandar uma mensagem. Muito obrigado por isso, senhor cupido. Não posso e não quero ter esperanças. Não posso e não quero me iludir.
Terminei de beber meu chá e estou pronto para dormir. É um pouco cedo, mas amanhã é segunda-feira, e tenho que trabalhar.
Chequei meu celular pela última vez antes de deitar e não tinha nenhuma mensagem nova. Suspirei chateado. Muito obrigado, Sr. cupido, agora vou ficar sofrendo por ele sabe-se lá quanto tempo.
Conferi se o alarme estava ativado e na hora certa; e coloquei o celular no criado-mudo. Deitei na cama e fiquei rolando de um lado pro outro, até finalmente dormir.
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Recomeço?
Fanfiction( Concluída ) Elídio é um professor de matemática que fechou-se para o mundo, desistindo do amor. Porém, depois de cinco anos, parece que o universo quis pregar uma peça nele, fazendo ele conhecer Daniel, um homem que trabalha em um escritório, mas...