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Pov Elídio

Caminhamos em silêncio até minha casa. Assustei quando Daniel pegou na minha mão, mas ao mesmo tempo, gostei.

( ... )

Chegamos e perguntei se queria alguma coisa. Ele pediu um copo d'água. Falei que podia sentar-se no sofá e fui na cozinha. Enrolei alguns minutos antes de voltar a sala.

Sei que falei para Daniel que estou pronto para contar, porém uma parte minha não quer reviver isso, ainda doí. Mas por outro lado, não posso e não quero esconder isso dele para sempre, ainda mais se vamos levar essa relação pra frente. "Droga, Elídio! Por que você tinha que ter falado com ele no shopping aquele dia?! E que relação?! Falo isso como se ele fosse querer algo sério comigo... Eu sou complicado, Daniel não merece problemas... Talvez ele nem queira mais falar comigo depois disso..." pensei, ficando nervoso.

Percebi que estava demorando demais, então peguei a água e voltei a sala.

─ Aqui. – sentei-me no sofá ao lado de Daniel, entregando o copo a ele.

─ Obrigado. – respondeu. Bebeu um pouco e colocou o copo na mesinha de centro. – Olha, não se sinta obrigado a nada... Não precisamos falar disso.

Respirei fundo.

─ Não, eu preciso falar. Só não sei por onde começar... – falei, soltando uma risada nervosa.

─ Começa do começo. Sem pressa, vai no seu tempo. – disse calmamente, segurando minha mão.

Fechei meus olhos, respirando fundo novamente. Abri meu olhos e decidi começar.

─ Aconteceu há cindo anos... – Daniel parecia prestar bastante atenção. – Eu estava namorando um cara. Completamos três anos de namoro e eu resolvi pedi-lo em casamento. – pausei, não quero chorar e parecer um idiota. – Andy nunca gostou dele, sempre me alertou, mas eu estava tão cego, que ignorei tudo.

Daniel percebeu meu nervosismo, então pegou o copo d'água e me entregou. Bebi um pouco, colocando-o de volta na mesa.

─ Tudo estava ótimo. Consegui juntar dinheiro para comprar a aliança mais bonita e cara da loja. Era a que ele queria. – respirei fundo. – Comprei ela e também um buquê de rosas. Voltei mais cedo do trabalho naquele dia e... – minha voz travou, estava sentindo que ia começar a chorar. Daniel apertou mais forte minha mão. - ... quando entrei no nosso quarto, ele estava na cama com um cara. Na NOSSA CAMA! – praticamente gritei a última parte, soltando a mão de Daniel. – Saí correndo de casa e passei a noite fora. No dia seguinte, voltei lá e sabe o que ele me disse? QUE ME TRAIU DURANTE NOSSO NAMORO INTEIRO! Foi em motéis, e até mesmo na nossa casa! – minha voz alternava entre baixa e alta, e por mais que eu tenha tentado segurar, senti lágrimas descendo pelas minhas bochechas, porém continuei. – Eu fiquei tão, tão... Minha única reação foi dar um soco nele, que desmaiou no chão. Saí de casa sem nada. Devolvi as alianças, pegando o dinheiro de volta, e saí sem rumo. – tentei enxugar minhas lágrimas, que insistiam em descer. – Chorei muito e prometi que nunca mais me aproximaria de ninguém. E consegui manter isso intacto, até que depois de cinco anos, VOCÊ APARECEU! – exclamei, chorando mais.

Coloquei as duas mãos no meu rosto, na tentativa de parar de chorar, ou que pelo menos Daniel não me visse. Ele deve estar me achando um idiota. Foi uma péssima ideia ter contado isso.

Não conseguia parar de chorar. Por que deixei alguém se aproximar de mim? Isso não podia ter acontecido. Eu não devia ter conversado com Daniel aquele dia, não devia ter me aproximado dele.

Senti Daniel levantando do sofá. "Ele vai embora, percebeu que eu sou um problema", pensei. Mas ao invés disso, ele sentou-se novamente, bem perto de mim. Pegou minhas duas mãos, tirando-as de meu rosto.

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