quatro

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Pov Elídio

17:30h. Meus alunos já foram embora. Guardei minhas pastas na minha bolsa. Acho que está meio cedo, afinal ele só vai sair do trabalho ás 18:00h. Antes de sair, fui ao banheiro. Me olhei no espelho, e estou bonito. Não quero ficar nervoso, isso aqui não é um encontro... São só dois amigos que vão se conhecer um pouco mais.

Joguei um pouco de água no rosto e conferi o desodorante. Ótimo, estou cheiroso. Ajeitei meu cabelo, saí do banheiro e fui para fora do prédio, sentando-me no mesmo banco onde almocei, esperando o tempo passar.

Olhei as horas no meu celular, e marcava exatas 18:00h. Decidi ir para a sorveteria esperá-lo. Em passos lentos, cheguei e fiquei na frente dela. Observei a decoração de dentro através das janelas, e parece ser muito aconchegante, o lugar perfeito para um encontro...

Encostei na parede, perto da porta. Não posso ficar nervoso e nem voltar a ser aquele Elídio sentimental... Foi por conta desse meu jeito que tive meu coração quebrado, então preciso sempre ter um pé atrás, para minha própria segurança.

Após um tempo, peguei meu celular. São 18:20h, ou seja, ele está no horário. Estou impaciente, e isso não é um bom sinal. Não posso estar gostando dele, só o vi uma vez, quer dizer, duas vezes, se contar o dia do metrô... Fiquei olhando ao redor, e de longe vi Daniel andando na minha direção. Ok, estou nervoso. Merda.

Continuei encostado na parede, vendo-o se aproximar. Acho que vi um sorriso no seu rosto. Quando percebi que faltava somente ele atravessar a rua, me desencostei da parede e só agora notei que não sei o que fazer quando ele chegar. Dou um abraço? Aperto sua mão? Não faço nada, só o chamo para entrar?

Sem perceber, Daniel estava a alguns passos de distância. Me controlei para não ser um idiota e nem ficar nervoso demais. Me acalmei na hora certa, pois ele chegou.

─ É, oi... Tudo bem? – perguntou, claramente nervoso. Pelo menos não sou o único que está assim.

─ Oi, estou bem e você? Obrigado por ter aceitado meu convite. – falei.

─ Estou bem também. Ah, que isso, é um prazer estar aqui. – falou, sorrindo levemente.

─ Bom, vamos entrar? – perguntei meio sem jeito.

Ele concordou e então entramos. Tem uma quantidade razoável de pessoas, e a maioria está acompanhada... É, parece que é aqui que as pessoas costumam se encontrar.

Fomos ao balcão onde estavam todos os sabores de sorvetes e cada um fez seu potinho. Passamos pelas coberturas e fomos pagar. Eu estava certo de que iria pagar por tudo, mas para minha surpresa, ele não me deixou fazer isso. Cada um pagou pelo seu. Ok, esse homem não existe. Daniel é uma ilusão criada pela minha cabeça.

Após o pagamento, fomos até uma mesa, sentando frente a frente. Coloquei minha bolsa na cadeira ao lado e começamos a comer. Trocamos algumas palavras; Ele parece nervoso. Reparei mais nele, e como é bonito. De cara, percebi que tem uma mania de mexer no cabelo, arrumando-o. Seus óculos combinam perfeitamente com seu rosto; está usando uma camisa social e gravata, indicando que acabou de sair do trabalho. Sem perceber, acabei encarando-o por bastante tempo, só voltando a realidade um tempo depois. Por sorte, Daniel não percebeu que eu estava quase babando por ele.

Daniel parece ser bem tímido para puxar assunto, então eu tive que fazer isso. Fiz algumas perguntas básicas, nada pessoal demais. Com o passar do tempo, e sem perceber, nós mudávamos de assunto muito rápido e sem forçar nada. Vez ou outra, ríamos de algo engraçado. Não sei o que está acontecendo comigo, porque até o jeito como ele ri é fofo.

Acabamos nosso sorvete, porém continuamos na mesa, conversando. Estou me perguntando qual o problema dele; Não é possível que esse ser humano exista. Ainda tenho minhas dúvidas se não o criei na minha mente e estou conversando com uma cadeira vazia na minha frente... Mas ele pagou pelo sorvete, então não é uma ilusão. Talvez ele seja mesmo um assassino, ladrão de órgãos?... Não, ele é fofo demais pra isso, não imagino ele matando pessoas.

Depois de muita conversa, percebemos que estava escurecendo, então achamos melhor irmos embora. Peguei minha bolsa e jogamos nossos potes na lixeira; e só agora percebi que éramos os únicos ali, pois todos já tinham ido embora.

Saímos e ficamos perto da porta. Como ele é tímido, preciso tomar iniciativa de me despedir e talvez... abraçá-lo? Ontem, no shopping, foi ele que pediu o abraço, então agora seria minha vez. E também preciso falar sobre domingo. Anderson quer conhecê-lo.

─ Obrigado por ter vindo. – falei.

─ Ah, eu que agradeço pelo convite... Obrigado. – respondeu, desviando o olhar para baixo por alguns segundos.

─ Olha, um amigo vem me visitar esse final de semana... O que acha de domingo nós sairmos juntos? – perguntei, tentando não parecer nervoso.

─ Eu adoraria! – respondeu animado demais, e logo em seguida ficou levemente vermelho. – Ah, quer dizer, vai ser legal... – tentou consertar sua fala, sendo menos animado, o que me fez rir. Acho que ele gostou de mim, do contrário por que teria uma reação como essa?

─ Então... Vamos trocar algumas mensagens e nos vemos domingo. Te passo algumas informações quando estiver mais perto. – falei, contendo um sorriso. Não posso dar muitas brechas pra ele.

─ Tudo bem... E mais uma vez, obrigado por hoje. Me diverti muito. – falou, deixando um sorriso escapar.

─ Ah, que isso... Eu te falei que se me desse seu número, eu ia te deixar feliz sempre. – Merda, por que falei isso? Bom, pelo menos nem tive tempo de ficar nervoso, porque ele ficou corado assim que me ouviu. Definitivamente, esse cara é muito fofo.

Nos despedimos, e percebi que ele não ia pedir um abraço, mas eu quero isso. Antes que Daniel virasse e fosse embora, revolvi falar.

─ É, Dani... Que tal um abraço de despedida? – perguntei.

─ A-ah, claro. – respondeu timidamente.

Me aproximei, abraçando-o. Encostei minha cabeça próxima do seu pescoço, e ele está muito cheiroso. Sentia seu coração acelerado. Passei minhas mãos pelas suas costas rapidamente e nos soltei.

─ Até domingo. – falei.

─ Até. – respondeu e seguiu seu caminho, enquanto fiz o mesmo.

Estou animado para contar tudo ao Andy quando chegar em casa.

Pov Daniel

Meu Deus. Foi melhor do que pensei. Conversamos muito, e pude conhecer um pouco mais sobre ele. É professor de matemática e dá aulas na faculdade perto de onde nos encontramos. Confesso, Elídio não tem muita cara de quem entende de números.

Enfim, foi tão bom! Faz tempo que não me sinto feliz assim; e pra melhorar, temos outro encontro marcado. Não sei se devo chamar de encontro, mas o que seria? E ele quer me apresentar pra um amigo! Isso significa que gostou de mim?

E hoje não poderia ter terminado melhor. Eu queria abraçá-lo, mas como pedi isso ontem, achei melhor ficar quieto hoje. Porém, quando Elídio pediu um abraço, meu coração disparou. E apesar de ter saído do trabalho, ele estava muito cheiroso, e modéstia a parte, eu também.

Agora estou em casa, na minha escrivaninha, fazendo um desenho sobre hoje.

Elídio disse que vamos manter contato e domingo vou sair com ele e seu amigo. Estou nervoso, mas acredito que vai ser bom... Eu espero.

Recomeço?Onde histórias criam vida. Descubra agora