parte VII

643 129 40
                                    

A primeira coisa que minha mãe e Heejin perceberam foi a cor dos meus olhos. Eu pedi aos céus para que elas não percebessem, mas foi o mesmo que desejar uma enorme faixa presa ao meu pescoço anunciando a mudança.

Não quis contar absolutamente nada porque precisava ficar sozinha. Tive de me trancar no quarto para ter o mínimo de paz. Pela primeira vez em minha vida estava feliz por ninguém estar ao meu redor. Me olhar no espelho e ver, pela primeira vez, meus olhos totalmente castanhos era sensacional. Tocar a minha boca e saber que Sooyoung a havia beijado era... Eu não sei explicar.

Nunca imaginei que pudesse me apaixonar tão rápido e, bem, isso aconteceu. Talvez por ser algo traçado, porém não pensei que seria dessa forma. Doía o peito só de lembrar que ela não estava ali comigo e isso me fazia sorrir e sonhar na próxima vez que nós nos veríamos.

Sentia-me como uma fora da lei porque sentia uma forte adrenalina. Sentia medo de descobrirem que estou apaixonada por uma mulher, por uma princesa do reino inimigo ao meu, e por gostar de sentir isso todos os dias, do nascer ao pôr-do-sol.

O meu caderno desgastado e velho me encarava sorridente tanto quanto eu e me convidava a escrever. Eu tinha de fazer aquilo, eu precisava.

Sentir saudade de você dói
eu podia estar morta
não precisaria virar noites imaginando a próxima vez que vamos nos ver
não me olharia no espelho e veria que a boca ali encontrada foi agraciada pela sua
não teria de aturar todo esse caos mental
mas sabe qual a desvantagem se eu estivesse morta?
eu não teria a oportunidade de matar a minha saudade e te ver novamente
então entre ser uma suicida ou uma homicida
bem, sabe a minha escolha.

Após escrever, fui até as janelas e as fechei para impedir que a neve entrasse. A porta recebeu três batidas e eu permiti que Heejin entrasse. Retirei a coroa e a deixei sobre a mesa de cabeceira, olhando para a porta e levando um susto por ela estar acompanhada.

Acompanhada por Sooyoung.

Heejin sorriu para mim e fechou a porta logo depois, me deixando extasiada por tê-la ali. Eu não fazia ideia de como falar com Sooyoung, do que falar ou fazer. Esperei que ela começasse. Não começou. Ficaríamos a noite toda nos encarando, iluminadas pela lamparina e pela lareira em meu cômodo.

— Foi errado eu vir aqui?!

— Foi perigoso — murmurei.

— É que eu não paro de pensar em ti — em suma, fiquei feliz por não ser a única com devaneios intensos por minha outra metade. — Sua voz recitando poesias não me deixou dormir.

— Então você atravessou o bosque e veio até aqui. Isso é loucura!

— Estou me acostumando a gostar da ideia de ser louca por você.

Sooyoung se aproximou, desabotoando o manto que cobria a partir de seus ombros e fez suas roupas caírem pelo chão. Apertei os lençóis de algodão abaixo de mim, vidrada em cada uma de suas peças se dissipando de seu corpo esguio. Pararam em minha frente, ela e sua nudez, me despertando coisas que eu só havia lido em livros de romance.

Eu a trouxe para mim, abraçando-a e deitando minha cabeça em seu peito para ouvir seu coração. Disparava mais que o meu. Seu corpo sobre o meu, nuinho em pelo, aquecia-se por estar em volta ao meu, eu queria descobrir mais sobre ela, eu queria torná-la só minha e quando seus lábios se entreabriram, eu a escutei com atenção:

— Posso te pedir uma coisa?!

— De certo que sim.

— Ama-me, Jiwoo.

winter things ✦ chuuvesOnde histórias criam vida. Descubra agora