Chapter II

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Tempo que por aí passas,

É incrível que quando a dor é nos apunhalada nas costas, transforma-se no pior tormento e mágoa alguma vez sentida. A mentira pode tornar-se a nossa melhor amiga nas piores situações, aí mais tarde a verdade se torna o nosso pior inimigo, obrigando-nos a passar pelo momentâneo e horripilante mal das situações.

O humano tem a magnífica e surpreendente maneira de pensar, mas quando usa outro em prol da sua benéfica vontade faz-nos querer horrorizar, e às vezes repugnar-nos. Como cruéis, nós humanos, podemos ser. Magoar o outro e fazê-lo sofrer para que nos possamos sentir melhor. Dificilmente o seu perdão será concedido. No fundo, este pode tornar-se o nosso lema de vida. Para um ser feliz o outro tem de sacrificar a sua felicidade, apenas por um mero sorriso e perdida dedicação.

O arrependimento, e todas as outras lembranças, como se alguma vez a confiança tornaria e o perdão os reconciliasse. As antigas memórias que se resguardam no canto das tormentas e somente aparecem no nevoeiro condómino das nossas raras almas. Jamais nos passaria pela cabeça, eventualmente, perdoarmos-nos e ao outro.

Nem tu, o próprio tempo consegue. No final de contas és tu quem nos leva deste mundo, devolvendo-nos o tão ansiado sabor da real liberdade.

Mas agora eu interrogo-te, oh tempo.
Para quê a mísera preocupação? Até o mínimo pensamento dado se pode tornar na culpa e consumir-nos por dentro domando o indomável ego interior.
Para quê as lágrimas a seu respeito?
Sempre vale a pena perder a nossa dignidade?

Já nem nos reconhecemos por entre os destroços perdidos do tempo, acabando por perdoar.
Como podemos perdoar os outros se não nos perdoamos a nós mesmos antes?

Ao longo de toda a nossa vida passamos por tanto. Circunstâncias insignificantes que se rubricam na sua maioria em nós e que mais tarde nos fazem implorar por um retorno ao passado ou até mesmo um pequeno esquecimento.

Hoje em dia, e também há muito, que nós sabemos que isso é impossível ser-nos concedido por ti, oh tempo. Umas respostas, de vez em quando também nos fariam falta. As questões podem ser também uma motivação empreendedora, mas para que esse isco continue e tu também continues ao longo do falado tempo, respostas aceitam-se.

Escapar e arrependermo-nos do problema, infelizmente não o resolverá, apenas se transformará na sua pior faceta, para quando voltar a ser desenterrado corroer ainda mais por dentro.

Enfrentá-lo seria o ideal para cada um, mas ao mesmo tempo iria ser extremamente difícil e doloroso. Atrasá-lo vai fazer com que os problemas do 'Ontem' se transformem nos de 'Hoje' e nos de 'Amanhã'.

Se é este o estilo de vida que sempre nos desejaste, então é aquilo que permanecerá delineado no destino de cada um até ao teu fim.

Peço-te agora, tempo, dá alegria e alimenta-te antes da tristeza e sofrimento que tantos consome e aniquila. Uma vida é uma dádiva. Se nos é dada não quer dizer que seja de mão beijada, mas ao menos merece ser vivida.

Tua Serva.

Cartas para o TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora