Chapter IV

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Precioso Tempo,

De que existes? Para que me chamas? Porque é que insistes na infelicidade que ama?

Temo pelo futuro descrito. Será em vão? Ou serás antes o presente de uma eterna ilusão?

Não consigo conformar-me com o amanhecer pela manhã. Não consigo olhar os olhos dos alguéns ingénuos, consumidos pela vida, uma vez e outra desaparecida. Não consigo escalar as altas montanhas nem as escassas nuvens do céu. Não faço a menor ideia de como olhar um espelho. Faço eu parte deste duelo?

Um duelo ambicionante entre mim e a pátria. Um desejo constante de sorrir.

As lágrimas que escondo, as esperanças enternecidas, as providências de uma possível vida, uma alegria agora desvanecida. Serei capaz de combater nesta luta impossível? De em sonhos vencer e pesadelos morrer? Eu amaria viver o dia. Viver a noite. Quem me dera beijar os teus pés e tornar-me no orgulho que és.

Sou incapaz de me autojustificar. Sou incapaz da força emergir. As águas continuam cantando, e as rolas passeando, pelas árvores ambíguas, mas superiores no saber. As estrelas continuam brilhando nos céus e alcançando o tempo, um tempo sem fim, viajantes e feiticeiras do vento. Eu desejava uma estrela ser. Ter uma vida até morrer, e após isso a minha luz ainda se ver. Pelo espaço flutuante rumoroso e tenebroso.

Serei uma alma perdida? Que com perguntas se justifica? Quão entediada sou, pela procura do teu saber?

Às vezes sinto uma tremenda vontade e satisfação em pensar, o quão glamoroso seria adormecer pela noite dentro e depois, oh tempo, depois nunca mais acordar. Fugir das lembranças da vida e das suas infelicidades. Das ruelas por todos esquecidas e falsas amizades.

A minha vida deu e dá tantas voltas ao mundo, navegando mapas e planisférios, imemoriáveis a ti, tempo. Lugares inesquecíveis, para sempre. Um verdadeiro mundo, um sonho tornado realidade. Inalcançável, para dizer a verdade. Longínquo das grandes capacidades imaginativas. Remotos de mim e de todo o Ser Humano.

A autenticidade de mim, sendo um ser, aplica-se às leis humanas? Ou serão as tuas que regulam todo o planeta?

Será que importa um sorriso? Um olhar? Uma mão aconchegante no teu lugar?

Não sei de nada. Nem sei se o próprio nada existe. De momento, é só ele que me assiste. Mantenho a calma e vejo se a minha alma lhe resiste.

Não consigo viver assim! Presa num mundo idealizado pelos compradores de ouro e marfim! Não consigo no espelho olhar e a elas me comparar. O quão perfeitas aparentam, o quão felizes assentam nos vestidos de princesa. Não consigo caminhar, sobre as calçadas te tentar alcançar. Prender-me pela chuva do dia e tentar voar. Tentar voar pela infelicidade e o horror, e amar. Tenho medo de ao chão me agarrar, e este desabar. Dos pilares da vida cair, e perder o combate com a cabeça fria. Um jogo difícil. Difícil de ganhar.

Estou perdida. Será fácil de te encontrar? Nos cantos e recantos do mundo te procuro. Só sabes realmente por quem choro rios de saudade, de esperança e eterna ambiguidade. Só tu conheces a minha morte de verdade. Dificilmente a alguém concederia essa realidade, ofuscada mas verdade.

Eu tenho saudade.

Eu quero viver, mas é tão difícil como ínfima é a verdade.
Serei a única? O único entrave? Eu te peço, salva-me desta impiedade.

Da tua,
Serva.

Cartas para o TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora