Capítulo 6

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- Pode me deixar nessa rua. - mostrei o nome da rua que Douglas tinha me mandado para Hugo. Ele apenas concordou e parou o carro em um estacionamento na entrada do morro. - Me deixa lá primeiro, não quero ir andando.

- E você acha que o carro entra na rua que o seu amigo mora? - Ele olhou para minha cara cruzando os braços.

- É...

- Vem, nós vamos de moto.

- Mas e quando eu quiser andar pelo morro? 

- Você tem duas pernas para isso. - ele falou subindo na moto e me dando o capacete, revirei os olhos e me recusei a subir na moto. - Tá bom, eu te ensino a andar de moto. - abri um sorriso e subi na garupa. 

Pela hora o morro já estava cheio, todos os moradores que trabalharam o dia inteiro estavam chegando e pelo barulho hoje teria baile. Tentava gravar cada rua, as pessoas davam espaço quando viam quem estava na moto e Hugo passava rápido pelas estreitas ruas, paramos em frente a uma casa bem humilde, era bem pequena e uma pintura bem simples. Desci da moto e parei em frente a casa do Douglas, não dava para acreditar que mesmo com nada ele me deu tudo o que tinha, eu era apenas uma estranha para ele e todas suas economias foram para ajudar minha mãe.

- Vai ficar parada aí ou vai entrar? - Hugo me tirou dos meus pensamentos.

- Obrigada pela carona. - ele concordou com a cabeça e eu entreguei o capacete a ele.

Parei em frente a porta, dava para escutar o funk super alto vindo de dentro da casa. Bati na porta, mas ninguém veio me atender, tentei apertar a campainha e escutei a música abaixar e passos se aproximarem da porta. Não consegui segurar o riso quando a porta foi aberta, Douglas estava com uma peruca e um vestido limpando a casa. 

- Para de rir, desgraça. - ele falou me puxando para entrar. - Pensei que era minha vizinha reclamando da música alta.

- Você está lindo assim. - falei rindo cada vez mais.

- Palhaça, se veio aqui para falar mal de mim a porta para rua está aberta. Na verdade, o que você está fazendo aqui Carla? - era tão bom escutar meu nome verdadeiro.

- Vim te levar para morar comigo. 

- Se for um lugar pior do que esse nem me chama. - se soubesse.

- Vamos combinar uma coisa, você vem comigo e se gostar fica por lá, se não pode voltar para essa casa. - falei me sentando no sofá.

- Sai daí que eu to terminando de limpar esse sofá. - ele me puxou pelo braço e ficou pensativo pela proposta. - está bem, eu vou, hoje vou levar algumas roupas, mas se for uma casinha de passarinho eu já vou pegando minhas coisas e indo embora.

- Tranquilo, você que decide. - Douglas foi arrumar uma bolsa para dormir lá em casa, enquanto isso eu olhava cada canto de sua casa. Ele tinha várias fotos com amigos e algumas com irmãos que eu reconheci por se parecerem, mas o mais estranho é que ele tinha uma única foto com os pais.

- Eles não me aceitaram quando eu me assumi gay, me expulsaram de casa, meus irmãos que de vez em quando vem me ver, sou muito grato à eles, me ajudaram com um pouco de dinheiro quando eu não tinha nada. Eu morava em Minas, aí resolvi pegar um ônibus para o Rio, queria reconstruir minha vida, apagar meu passado, mas era impossível, tive vários pesadelos dos meus pais me expulsando de casa à pauladas. - ele limpou uma lágrima que escorria pelo seu rosto. Conseguia ver como aquilo doía nele, mas só de pensar em ser expulso de casa por ser quem você realmente é, me fazia entender seu sofrimento. - Depois de cinco anos eu consegui me sustentar normalmente e aí voltei a ver meus irmãos, mas eles tem que vir para cá escondidos, meus pais não querem que eles me vejam. - corri para abraça-lo e ele correspondeu se afundando no meu pescoço e caindo em lágrimas.

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⏰ Last updated: Feb 06, 2019 ⏰

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Love of BloodWhere stories live. Discover now