Redenção

Capítulo 18: Confissão

Após alguns minutos jogada no chão aos prantos no abraço de Aaron, minhas lágrimas finalmente se esgotaram. Aaron se levantou e foi até a cozinha, encontrando o único pote de chá de camomila no armário, e o esquentando para mim. Eu apenas encostei minha cabeça no sofá que estava já em pé em seu lugar, logo atrás de mim, esperando o chá.

Eu não queria conversar, não queria ouvir nenhuma palavra sobre o assunto que me machucara durante toda a minha viagem. Eu só queria descansar, e Aaron percebeu isso.

_ Aqui está... Vai te acalmar. - Aaron me entregou a xícara que estava em sua mão, e ficou em pé olhando ao redor, se decidindo se ia embora ou se ficava ali comigo.

_ Tudo bem se eu dormir no seu apartamento? - indaguei, fazendo Aaron me olhar surpreso imediatamente. - _ Minha casa esta virada de cabeça para baixo, e eu estou exausta. - suspirei, me entregando ao cansaço. O orgulho me dizia para não fazer isso, que ele não merecia minha companhia. Mas eu não estava com cabeça, ou forças, para manter meu orgulho.

_ Sem problemas. - Aaron enfiou suas mãos em seus bolsos, tentando não transparecer sua alegria em ouvir aquela pergunta.

Caminhamos juntos até o elevador, após eu ter trancado a porta da minha casa. Ficamos em silencio o caminho todo, Aaron estava decidido a me dar espaço, sem perguntas, sem forçar a barra, apenas me acompanhou até seu apartamento, me oferecendo sua cama e um copo de vodka com suco de pêssego.

_ Se eu beber hoje, não vou conseguir ir trabalhar amanhã. - eu disse, já sentindo meus olhos pesados por causa do cansaço e do choro.

_ Eu liberei uma folga de dois dias para você e Leon. - Aaron deu de ombros, insistindo para que eu pegasse o copo, enquanto dava um gole do seu Old Parr.

_ Ah sim. - suspirei, aceitando o copo de sua mão, porém não bebi, apenas o encarei em minha mão.

Caminhei em silêncio até sua sacada, observando o sol se pondo. Era uma das minhas horas favoritas para se estar ali. Porém minha cabeça estava um turbilhão de pensamentos, não conseguia me focar em apenas um.

_ Nós namoramos por quatro meses. - Aaron se aproximou de mim, segurando a garrafa do seu whisky, e enchendo até o topo seu copo. - _ Não nos dávamos muito bem, ela exigia uma atenção que eu não podia dar. Não sei ao certo porque durou tanto tempo.

Aaron me encarou, percebendo que estava ouvindo-o, quieta, porém atenta. Eu precisava ouvir, precisava saber da boca dele.

_ Jane me fez prometer que não iria te contar, por isso não contei. - Aaron suspirou, era nítido em sua expressão a decepção consigo mesmo por não ter me contado. - _ Ela gostou de você no momento em que te viu, assim como eu. E ela disse não queria estragar uma possível amizade, quando contei que já tinha te conhecido na noite anterior a sua chegada no complexo.

_ Entendo. - desviei meu olhar quando Aaron me encarou com expressão de arrependimento. Encarei o céu colorido a minha frente, tentando conter o mix de sentimentos dentro de mim.

_ Enfim... - Aaron deu um gole de seu copo, de uma vez só, se sentando no chão de sua sacada. - _ Depois de meses, discutindo por falta de tempo um para o outro, reclamando de ciúmes, exigindo atenção que nunca foi dada... Eu finalmente decidi terminar. Eu não aguentava mais aquela cobrança de atenção, ela sabia o quanto o trabalho é importante para mim. E eu dei a desculpa que estava terminando com ela por causa da promoção... Mas no fundo, eu acredito que ela saiba o real motivo.

_ Acredito que ela saiba sim, e por isso tentou me alertar. - suspirei, sentando ao seu lado, dando um gole da vodka que Aaron tinha feito para mim.

_ Só que com você é diferente... É o contrario! - Aaron pousou sua cabeça no batente da porta de vidro da sacada, com o olhar distante na paisagem a nossa frente. - _ Sou eu que fico mendigando atenção. - ele soltou uma risada irônica de si mesmo, uma risada de dor.

_ Sou tão inalcançável assim para você? - indaguei, tentando não parecer que estava dando esperanças para um futuro relacionamento entre nós dois, porém eu precisava saber a resposta daquela pergunta.

_ Sim, e não... - Aaron suspirou, virando seu olhar para mim. - _... Acho que sou eu que a torno inalcançável! Sou eu que te afasto, me tornando duas pessoas em situações diferentes... Sou eu que te faço fugir. - eu pude perceber lágrimas surgindo nos olhos de Aaron, e eu não sabia se era por causa da sua dor ou por causa do álcool.

Eu não sabia o que dizer depois daquilo. Queria afirmar que ele estava certo, que ele era um babaca por ter me enganado sobre Jane, por ter me feito de besta no trabalho e ter me seduzido em sua casa. Porém eu não conseguia, a empatia pela sua dor, era maior. Ele havia me abraçado e me confortado quando eu estava desolada, eu não podia apenas acusa-lo e ridicularizar-lo quando era ele que estava precisando de conforto.

Assim que me aproximei de Aaron, cercando-o com meus braços, sua cabeça pendeu em direção ao meu ombro, me fazendo perceber que ele havia caído no sono, enquanto eu e decidia se o confortava ou não.

Sorri ao lembrar de nossa primeira noite, quando fui eu que caí bêbada em seu ombro. Tentei acorda-lo, o suficiente para me ajudar a se levantar, enquanto o direcionava até seu quarto.

Pousei seu corpo em sua cama, buscando uma camisa mais confortável para ele dormir, enquanto imaginava se ele não iria acordar durante a minha tentativa de troca de roupa. Seria constrangedor se isso acontecesse.

_ Eu não mereço a sua ajuda... - ouvi Aaron balbuciar na cama, me vendo procurar uma roupa confortável para si. -_ ... Muito menos a sua presença aqui.

_ Eu concordo. - dei de ombros, me sentando ao seu lado na cama, encarando seus olhos sonolentos. - _ Porém eu me apaixonei por você, e não consigo mais ficar longe apenas observando.