Capítulo 22: Coração frio

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Minha alta do hospital só foi dada após uma semana. Assim que sai do hospital, Jane ofereceu sua casa para eu ficar, enquanto me recuperava totalmente.

_ Não posso ficar fugindo Jane. — suspirei, assim que entrei em seu carro.

_ Você não está fugindo, só esta se recuperando de um tiro! — Jane exclamou, porém, eu sabia que ela não se referia ao meu ferimento, e sim, a Aaron.

_ Preciso pegar minhas coisas na casa dele. — observei Jane engatar a ré, tirando seu carro do estacionamento, enquanto minha cabeça reproduzia tudo o que havia acontecido no dia em que Aaron foi embora do hospital. — _ Isso se ele não tiver jogado tudo pela janela. — sorri.

_ Ele não faria isso. — Jane deu de ombros.

_ Eu sei. — meu suspiro fez Jane se preocupar em colocar sua mão sobre meu joelho, tentando me consolar.


_ Quer que eu vou com você? — ela indagou, assim que estacionou na frente do meu apartamento.

_ Não, é melhor não. — eu a respondi assim que desci do carro, pegando as chaves na minha bolsa, com a minha mão livre, já que a outra estava presa á uma tipoia.

Assim que cheguei ao meu apartamento, percebi que estava tudo no lugar. Meus móveis haviam sido substituídos por novos, e estavam em seus devidos lugares. Quando entrei em meu quarto, reparei que minha mala havia voltado para seu lugar. Aaron tinha devolvido minhas coisas, antes mesmo de eu ir atrás delas.

Deitei em minha cama, pensando se deveria me sentir aliviada, pois, não teria que encarar Aaron depois de nossa última conversa, ou se me sentia decepcionada, pois, eu queria vê-lo novamente.

_ Depois eu que sou a fugitiva do nosso relacionamento. — sorri sozinha, ironicamente.

_ Alguém te contou o contrário sobre isso? — assim que ouvi sua voz, dei um pulo. Aaron estava parado com os braços cruzados, encostado no batente da porta do meu quarto, me encarando sem nenhuma expressão em seu rosto.

_ Aaron? — indaguei confusa, segurando meu braço ao sentir a pontada de dor devido ao movimento brusco que fiz ao me levantar. — _ O que esta fazendo aqui?

_ Devolvendo as suas coisas. — sua falta de expressão foi embora, assim que percebeu a minha cara de dor. — _ Você está bem?

_ Sim... Só foi uma pontada de dor. — sorri sem jeito, ao me levantar. — _ Obrigada por ter trazido minhas coisas.

_ Imaginei que você fosse precisar de suas calcinhas. — ele deu de ombros, sorrindo ao perceber que havia arrancado um sorriso meu.

_ Obrigada, vou precisar mesmo! — sorri ao me aproximar de Aaron, encostando meu ombro que não estava machucado no batente da porta em que ele estava encostado.

_ Bom, acho melhor eu ir. — Aaron desencostou do batente assim que nossos ombros se tocaram. — _ Já que a dona da casa, já chegou.

_ Porquê? Você aproveitou a casa vazia para fazer farra? — indaguei com tom de brincadeira, tentando me agarrar ao antigo Aaron, a qual me apaixonei no momento em que o vi na boate.

_ Sim! — ele sorriu enquanto caminhava de costas em direção a porta de entrada. — _ Inclusive, tive que remobiliar a casa, já que a última festa destruiu tudo.

_ Você não precisava ter feito isso. — eu disse ao encara-lo com cara de culpa. Ele realmente não precisava ter feito aquilo.

_ Precisava sim... — mesmo que ele já estava a metros de distância de mim, eu pude ouvir seu suspiro. — _... Você correu risco de vida por minha causa.

_ Não foi por sua causa... - caminhei em direção a Aaron, percebendo que ele estava tentando se desviar do assunto. — ... Eu que escolhi estar ao seu lado em todos aqueles momentos.

_ Ainda assim não deixou de correr risco por estar ao meu lado. — Aaron deu de ombros, já se virando para alcançar a maçaneta da porta.

_ Aaron, fica. — segurei em sua mão sobre a maçaneta, percebendo sua hesitação em se virar, ao sentir nossos corpos tão próximos um do outro. — _ Vamos conversar.

_ Não temos nada para conversar Serena. — seu tom frio fez meu coração parar. Senti o nó já se formando em minha garganta, não conseguindo entender o porque ele havia se tornado tão frio. Porém, eu sabia exatamente o que ele iria me dizer, se pudesse ler minha mente.

_ Não vou te forçar a ficar... — comecei a ditar ao soltar sua mão e me distanciar, ainda observando suas costas viradas para mim. — _ ... Eu só queria a sua companhia.

_ Isso dói mais do que você me pedir para discutirmos a nossa relação. — Aaron por fim disse, abrindo a porta, e me deixando plantada em minha sala vazia, encarando o lugar onde ele havia acabado de deixar.

Eu não o culpo. Sendo sincera comigo mesma, eu sabia que o problema da nossa relação era que eu havia fugido dela desde o início, desde o momento em que fugi de sua casa assim que acordei algemada em sua cama. Custava ter esperado ele sair do banheiro, e perguntar o que havia acontecido? Custava ter falado que seu jeito arrogante no trabalho me machucava muito? Ou que eu não queria namorar um cara que em casa era de um jeito, e no trabalho de outro? Ou melhor, custava eu ter sido sincera com ele, desde o início?

Sim, custava... A vergonha na cara, e o orgulho enfiado na bunda.

_ Preciso encher a cara! — exclamei para mim mesma, ao enxugar minhas lágrimas.


Depois de finalmente tomar um banho digno de quem havia acabado de sair do hospital, me vesti com uma blusa branca ciganinha, para disfarçar o imenso curativo do furo da bala, que graças a Deus havia apenas passado de raspão na carne, não afetando nenhum ligamento ou osso. Coloquei um jeans de cós alto, dobrando a barra até a parte inferior da minha panturrilha, calcei uma bota de cano médio de couro, e coloquei minha jaqueta preta, por cima do meu ombro, disfarçando a tipoia.

Atravessei a rua do meu apartamento, caminhando em direção ao bar onde tudo começou, tendo plena consciência de que aquilo ia dar merda.

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