Capítulo 3: Afinal, quem ele pensa que é?

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Assim que cheguei no terraço, finalmente soltei o ar que eu estava segurando desde o momento em que Aaron saiu daquela copa.

Sem perceber eu estava rindo. Como aquilo podia ter acontecido? De toda a população de Nova York, porque eu tinha que ter dormido justamente com o meu chefe? Poderia ser qualquer um. Qual era a probalidade de ser justamente ele?

_ Está sozinha? - ouvi uma suave voz logo atrás de mim. A mesma voz que eu ouvirá há poucos minutos atrás, porém em outro tom.

_ Não mais. - soltei, tentando não parecer chateada com o que havia acabado de acontecer, mas ao mesmo tempo não querendo soltar brecha para uma possível conversa sobre a noite passada.

_ Me desculpa pela forma que agi agora a pouco... - Aron começou a ditar, enquanto instintivamente eu me virei em sua direção indignada.

_ Pela forma que agiu? - indaguei. -_ Aron... Desculpa, tenente Scott! - eu me corrigi, enfatizando a importância de chamá-lo daquela forma.

_ Não... - Aron começou, coçando a cabeça sem jeito. -_ ... Não precisa me chamar assim quando estivermos sozinhos.

_ Ah não? - meu sangue fervia, eu não sabia o que estava acontecendo mais. Como alguém, em questão de minutos, poderia mudar tanto? De extremamente arrogante, para carinhosamente gentil? -_ Então quando estamos sozinhos, você se chama Aron... No escritório, é tenente Scott... algum outro nome que eu devo evitar na frente do papa?

_ Serena... Por favor... - Aron me olhava de forma tão gentil, como se seus olhos pudessem ser capazes de pedir perdão. Mas eu estava muito atordoada para ser levada pelo seu olhar. - _ ... Eu não posso impor disciplina igualitária em meus subordinados, se você é a única que eu trato de forma diferente.

_ Então é isso... - respirei fundo. Porque fazer uma tempestade em um copo d'água, se as coisas eram bem mais cristalinas do que aquilo que parecia? Aron se tornara um amigo/transa de uma noite só. Ponto. -_ ... Agora que você esclareceu tudo, pode ficar tranquilo. Não haverá mais equívocos entre nós dois.

_ Você não entendeu... - Aron suspirou. -_... Eu gosto de você, não quero me afastar de você logo agora que te conheci. Porém, apenas aqui na empresa... Teremos que ser profissionais.

_ Então você quer que eu seja profissional? - indaguei com uma de minhas sobrancelhas erguidas.

_ Isso! - Aron abriu um sorriso de alívio por finalmente ser entendido.

_ Você vai me ver ser profissional! - eu disse ao encarar sua expressão de alívio se misturando novamente com aquela expressão de "não faça isso" que ele estava desde que chegara no terraço para conversar comigo.

Aron abriu sua boca para dizer mais alguma coisa, porém eu o deixei falando sozinho. Passei por ele, evitando sua mão que tentara me impedir de deixá-lo, enquanto pisava firme, decidida que agora era guerra.



Jane me agarrou pelo braço, assim que passei por sua mesa.

_ Está tudo bem? - ela indagou, porém já com uma pergunta óbvia engasgando em sua garganta. Eu mal havia conhecido ela, e já sentia como se fôssemos melhores amigas de infância.

_ Você viu ele subindo? - perguntei, já observando a resposta rápida com o aceno de cabeça de Jane, que sim.

_ Ele falou mais alguma coisa? -  em poucos minutos, percebi que Jane conseguia arrancar de qualquer um o que ela queria, se não fosse por persuasão, era por insistência.

_ Nada... Ele só não imaginava que fosse ter alguém no terraço. - dei de ombros, tentando ir para a minha sala, porém Jane me puxou novamente, me impedindo.

_ Conta outra... - Jane bufou. -_ ... Ele nunca vai no terraço!

_ Ok, ok... ele só pediu desculpas pela péssima recepção. - ignorei o olhar de desconfiada de Jane, me livrando de suas mãos, e me direcionando a minha sala, com ela me seguindo. Ela não ia desistir fácil.

_ Tenente Scott... Pedindo desculpas? - senti Jane sorrindo ironicamente nas minhas costas. - _ Rena, se você tem a intenção de mentir, escolha bem seu território!

_ Rena? - indaguei, arrepiando ao ouvir o apelido carinhoso que era usado por minha mãe, enquanto estava viva.

_ É um apelido... - Jane sorriu, se sentando sobre minha mesa assim que chegamos em minha sala. -_ ... Isso significa que, por mais mentirosa que você seja, eu gosto de você! E vamos sair hoje à noite.

_ Sair? - olhei pra Jane confusa, enquanto eu me sentava diante do meu computador.

_ Sim! - Jane exclamou eufórica. -_ Sua festa de boas-vindas! Eu e Leon vamos te buscar as dez.

_ Me buscar em casa? - indaguei enquanto Jane acenava com a cabeça que sim. -_ Mas eu nem disse para vocês onde eu moro.

_ Minha linda, nós trabalhamos no FBI! - Jane deu uma piscada de olho para mim, e ambas caímos na risada.


Era loucura pensar que eu já estava começando à acostumar a me arrumar para a vida noturna em Nova York, sendo que era apenas a minha segunda noite na cidade, e eu já estava pronta para mais uma dose de Gim Tônica com os meus mais novos amigos e colegas de trabalho.

Coloquei minhas botas de cano longo sobre a calça jeans skinny, uma blusa regata branca e novamente minha jaqueta de couro preto. Como eu amava essa jaqueta.

Jane já estava me ligando pela terceira vez. Dessa vez para avisar que já estava na frente do meu prédio.

_ Segura por favor! - gritei e corri em direção ao elevador quando ouvi o seu barulho parando e abrindo suas portas, quase largando as chaves na porta do meu apartamento. - _Obrigada! - sorri para a pessoa que estava segurando as portas, ainda com a cabeça baixa para guardar minhas chaves na bolsa.

_ Vai sair hoje? - quando ouvi sua voz, me arrepiei da cabeça aos pés.

Olhei para a pessoa que ainda segurava a porta. Seu braço estava estendido em direção a porta, com as mangas de sua camisa social branca arregaçadas, era perfeitamente nítido o formato de seus músculos, enquanto sua outra mão estava enfiada no bolço de sua calça, com um relógio Rolex, que só fazia seu dono parecer mais sexy do que ele por si só, já era. Aron estava com os cabelos molhados e penteados para traz, sinal de que havia acabado de tomar banho. O que me fez lembrar dessa manhã, já sentindo o rubor em minhas bochechas por ainda não lembrar o que havia acontecido na noite anterior.

_ Sim... - encolhi os ombros envergonhada ainda pela minha imagem algemada em sua cama. -_... Jane quer fazer uma festa de boas-vindas.

_ Entendi... - pela primeira vez naquele elevador, ficamos desconfortáveis pela falta de assunto. -_ ... Preciso admitir, que eu não sabia que você morava aqui. Até ver seu currículo hoje na empresa.

_ Hmm. - acenei com a cabeça. Era óbvio que ele tinha me pesquisado depois de descobrir que eu era sua mais nova empregada.

Assim que o assunto morreu dentro daquele pequeno espaço, as portas se abriram no térreo. Nunca fui tão grata aos céus. Porém minha gratidão morreu assim que vi Jane correndo em minha direção.

_ Caramba menina, você tem quantos corpos para vestir, você demorou uma eterni... - a frase de Jane foi se dissipando no ar assim que ela avistou o ser que estava logo atrás de mim. -_... dade.

_ Desculpa! - exclamei, tentando voltar sua atenção á mim, mas Jane não conseguia nem piscar. Acho que ela havia entrado em choque. -_ Podemos ir? - eu disse já puxando-a pelo braço.

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