Capítulo 2

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Janeiro de 2011

Peguei a minha bolsa, me despedi da minha mãe e fui ao ponto de ônibus.
Eu estava triste devido às brigas com meu namorado, Ruan, mas felizmente ela nem notou. Ultimamente Ruan e eu estávamos brigando muito e as únicas coisas que eu sentia em relação a isso era tristeza e dúvida. Ele estava viajando com o pai a cerca de três meses e meio, sem data para voltar, e a nossa relação nunca havia se desgastado tanto. Eram brigas todos os dias, quando conseguíamos nos falar, já que eu não tinha mais a atenção dele, e já estava cansada de tudo.
Eu estava indo passar o fim de semana com os meus avós e obviamente estava sendo ameaçada de levar uns tapas caso não fosse visitar Fernanda. A nossa amizade tinha se intensificado muito desde a primeira vez em que conversamos. Conversávamos todos os dias e para mim já era um vício e conforto tê-la como uma das minhas melhores amigas. Ela sempre me fazia bem e me animava quando essas brigas aconteciam. Era tão carinhosa que eu a chamava de "minha flor de girassol". Não por um motivo qualquer, mas sim pelo fato de que quando não há sol, os girassóis viram-se uns para os outros e compartilham calor. Sem contar que tem um grande poder de limpar a radioatividade de um ambiente. Simboliza a empatia e é a minha flor favorita.
Ela sempre tentava me arrastar para a casa dela, mas nem sempre eu tinha essa disponibilidade devido o trabalho. Já havia ido à sua casa outras vezes, onde ficávamos sentadas conversando bobagens até a hora de eu ir embora. Sempre sentávamos na fachada da sua residência, que era escuro e nos garantia sigilo. Para mim era favorável, já que gostava da ausência de luz e não queria me expor para aquela gente fofoqueira.
Cheguei já a noite na casa da minha avó. Jantei e sentei um momento na sala com o meu avô. Ele era surdo, então o volume da TV ficava um pouco elevado. Mesmo assim consegui ouvir meu celular tocar.
– Oi, linda. Você vem?
– Como se eu tivesse outra escolha – nós rimos. – Estou indo. Beijos!
Fui até a minha avó e avisei que iria à casa da minha sogra, omitindo metade da verdade. Não podia ser sincera, já que achariam estranho eu estar indo na casa de uma lésbica à noite. E eu não queria que tirassem conclusões precipitadas demais a meu respeito.
Realmente passei na casa da mãe de Ruan para dar um abraço. Eu a adorava, e ela sempre fazia questão de deixar claro que eu era como uma filha.
Enquanto ia andando a pé até a casa de Fernanda, nós íamos trocando mensagem e o meu coração palpitava de nervoso. Sempre ficava nervosa quando ia vê-la. Era como se sempre fosse a primeira vez.
Quando estava chegando, avisei e pude vê-la me esperando em frente da sua casa. Ela estava em pé, com as mãos nos bolsos do short de moletom e com uma camisa preta do The Walking Dead. Fernanda era branca, tinha o cabelo tão curto quanto o de um homem e era gorda, o que eu adorava. Achava-a tão linda daquele jeito, e enquanto ia me aproximando, só conseguia admira-la.

Flor De GirassolOnde histórias criam vida. Descubra agora