Capítulo 1

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Novembro de 2020

Mais um dia exaustivo se passava e eu já poderia prever todos os passos do dia seguinte, sem sequer ter acabado o dia atual, já que nos últimos tempos tudo estava em um estado de repetição. E eu detestava muitas repetições.

Estava um pouco cansada de ler um romance clichê sobre uma adolescente que se dedicava muito para conseguir transar com o cara mais conhecido da cidade, almejando uma aprovação social.  A cada página que eu lia, perguntava-me quem teria coragem de escrever sobre esse tipo de história em que se coloca a mulher em um estado de inferioridade e humilhação, ao ponto de uma mulher se vender por status. 

Era humilhante, eu, feminista, em pleno século XXI ler um livro tão machista e sexista. Como alguém poderia deixar esse livro disponível? E como alguém poderia gostar desses romances misóginos? 

Eu só estava lendo esse romance por tê-lo iniciado com uma expectativa de que fosse algo que me agradasse, que prendesse a minha atenção durante os dias, e mesmo após saber que não era o que eu pensava, me obriguei a terminá-lo, pois não gostava de abandonar um livro pela metade, o pior que fosse e para que pudesse refutá-lo posteriormente, principalmente para quem em sua inocência o escolhesse diante de tantas outras alternativas mais interessantes.

Os gêneros que interessavam-me nos livros eram ficções científicas, fantasia, suspense e terror, porque me faziam pensar mais, exercitando o meu cérebro a resolver enigmas e até me ajudava na minha relação com as pessoas, já que eu conseguia decifrar muitos gestos e expressões faciais. Além disso, esses gêneros literários tinham uma narrativa bem mais elaborada, com um enredo pensado com inteligência. Era disso que eu gostava: histórias inteligentes. Histórias mal pensadas e mal elaboradas me deixava muito irritada, porque eu conseguia pensar em mil alternativas para aquela história dar certo e realmente poderia dar, mas que por preguiça ou falta de criatividade do escritor saiu uma grande merda.

Não era que todos os escritores de romance não tivessem bons argumentos. Na verdade, os romances mais clichês como esse que eu estava lendo é que não me agradavam e realmente não deveria. Aliás, até mesmo as histórias de terror não estavam mais chamando a minha atenção tanto quanto antes, já que a maioria tinham os protagonistas com atitudes estupidas e que morriam em situações em que poderiam continuar vivos se fossem mais inteligentes, deixando a trama muito mais interessante. Apesar de tudo, compreendia que é preciso ter no mínimo um personagem estupido para ocasionar algumas mortes. Porém, ainda acho que poderiam pensar em um enredo melhor para essas histórias, afinal de contas uma morte inevitável, contada de forma inteligente prende muito mais o leitor. 

Meu conhecimento e a minha criticidade diante dos livros foi resultado de trabalhar em uma das maiores bibliotecas da região, localizada no centro da cidade principal. A biblioteca fazia sucesso pela sua decoração rústica que dava uma sensação de calmaria e aconchego, principalmente quando exalava o cheiro dos livros e das plantas pelo local; e por ter alguns estofados espalhados pelo espaço com a finalidade de ter um maior conforto para os leitores.  A dona dali entendia a necessidade de ter uma boa leitura, e se contentava com o sucesso que os seus cuidados dava à biblioteca, além de me elogiar bastante pelas minhas dicas, como no caso das plantas que decoravam o espaço.

Eu era apaixonada por plantas, e quando fui contratada, que dei uma boa olhada naquele ambiente, percebi imediatamente que faltava plantas. Dessa forma, projetei alguns exemplos da biblioteca decorada com plantas, para que eu pudesse apresentar à minha chefe e ela amou, abraçando o meu projeto. Mas, não foi apenas nós duas que gostamos da ideia, as outras funcionárias e as clientes também amaram. Todas as vezes que eu entrava naquele espaço, me sentia radiante diante do verde que sorria para mim.

Flor De GirassolOnde histórias criam vida. Descubra agora