PRÓLOGO

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 "Valentina, ou você dá um jeito na sua vida ou eu vou cortar todos os benefícios que você recebe! Vou mandar congelar sua conta e você não terá acesso a nenhum capital da família. Nós temos uma reputação a zelar Vale".

O ultimato de Eva ainda ecoava nos ouvidos de Valentina que estava sentada em sua cama encarando a garrafa de Gin fechada a mais tempo do que gostava.

"Vale, nós amamos você. Todos sabemos o quão difícil foi passar por tudo o que passamos, mas você não pode entregar sua vida assim. Você tem a mim, aos seus irmãos, terapeutas excelentes. Por favor Valentina, você é uma mulher incrível e eu tenho certeza que seu pai imaginou para você uma vida muito melhor do que essa que você está levando".

Lucía, sua jovem madrasta, era mais carinhosa nas palavras do que sua irmã Eva e era quase milagroso o fato de as duas estarem de acordo em algum assunto. Mas suas palavras lhe atingiam muito mais fundo, afinal, não se importava tanto com as aparências, como Eva, mas se importava muito com o que o pai pensava.

Já Guille, seu irmão do meio, a quem ela fora reclamar de Eva querer tirar seu dinheiro, não ficou do seu lado como sempre ficava.

"Vale, você sabe que eu te amo minha irmã e só quero te ver bem. Eva não pode fazer o que disse, mas no fundo eu concordo com ela e Lucía. Você precisa mudar sua vida Valentina, está cavando um poço muito fundo e eu não sei se algum de nós será capaz de te tirar de lá um dia".

Valentina pegou o porta-retratos ao lado da cama em que tinha uma foto sua abraçada ao pai. Como sentia falta dele, o tempo todo, a ponto de sentir os pulmões comprimirem por falta de ar.

Fazia quase um ano que León Carvajal, a pessoa favorita de Valentina em todo o mundo, havia morrido. Foi uma morte encomendada que até então não haviam descoberto o mandante.

Todo o país ficou em choque com a morte do homem mais rico e mais influente do México. A economia ficou balançada, a bolsa de valores afetada, o mundo dos negócios consternado com o falecimento do quinto homem mais rico do planeta. Mas Valentina só conseguia pensar em quem sentaria em sua cama para lhe dar conselhos, quem daria beijos e abraços de carinho, quem se preocuparia com sua vida além de si mesma, quem lhe mostraria os caminhos a seguir.

Valentina, após o ocorrido, acabou entrando em uma grande espiral de ansiedade e depressão e dentro do círculo de amizade que mantinha descobriu grandes festas para virar dias e noites e uma gigantesca lista de bebidas que a tiravam dos pensamentos dolorosos e o vazio dentro de si.

A jovem Carvajal sabia o quão prejudicial era todo aquele consumo de álcool – que logo se tornou seu maior vício – quando o dia seguinte vinha junto da ressaca. Mas a sensação que vinha quando estava fora de si era tão boa, que Valentina não conseguia abandonar. Por que trocar a alegria e euforia para viver em tristeza e dor constantes?

A garota até tinha um namorado, que era de se esperar que a ajudasse, mas ela nem mesmo era apaixonada por ele. Só era conveniente demais para si e para as famílias estarem juntos e Lucho nunca reclamava de lhe acompanhar nas festas e bebedeiras.

Lucho era verbalmente violento, Valentina no fim das contas, nem passava tanto do seu tempo com ele, pois não tinha muita paciência. Por que ainda estavam juntos? Nem ela sabia direito, talvez o comodismo, talvez o fato de ser mais fácil procura-lo quando precisava de algum tipo de conforto que ele podia lhe dar, já que se conheciam a tanto tempo.

Sobre os amigos, era mais fácil contar com eles para encher seu copo do que passar um tempo ouvindo-a falar de seus problemas.

A verdade é que a perda do pai fez Valentina perceber o quanto estava só. A princesinha do império Carvajal era admirada e seguida por todos, mas não tinha ninguém real para contar.

Valentina encarou os olhos do pai na foto e parecia que podia ouvir sua voz dando um de seus conselhos aos filhos "Vocês tem a obrigação moral de fazer o melhor que puderem com a vida privilegiada que lhes foi dada".

Foi então que Valentina levantou da própria cama subitamente e caminhou decidida até o banheiro com a garrafa de Gin na mão, abriu o recipiente e despejou todo o líquido na pia enquanto se encarava no grande espelho à sua frente.

— Você vai mudar Valentina – decretou ao próprio reflexo. – Você vai dar orgulho ao seu pai, onde quer que ele esteja!

Saiu dali com a ideia fixa de se acertar como todo mundo pedia, mas faria por si mesma e por seu pai que sempre lhe incentivara a ser melhor. Ligou para Eva para saber onde estava e então a encontrou no escritório do casarão e pediu ajuda a irmã.

Na manhã seguinte ela já estava de pé logo cedo arrumada em uma saia lápis azul e uma camisa de seda branca, saltos pretos e uma pequena pasta ao lado, disposta tomando café da manhã e esperando por Eva e Lucía.

— Olha só, milagres realmente acontecem – debochou Guille sentando ao seu lado e colocando o guardanapo sobre a perna. – O que faz acordada tão cedo, sem cara de ressaca e nem de ter virado a noite?

— Quieto, eu estou bem – respondeu revirando os olhos. – Dormi uma noite toda, pensei com clareza por muito tempo e estou aqui determinada a mudar.

— Quem é você e o que fez com minha irmã? – Guille debochou mais uma vez tocando na testa de Valentina.

— Essa Guillermo – Eva entrou na sala dizendo. – É Valentina Carvajal, a nossa nova chefe de redação.

E mesmo com todo o nervosismo que sentia pela responsabilidade recentemente atribuída, Valentina não pôde se conter em sentir um certo orgulho em ouvir a irmã falando daquela forma sobre ela pela primeira vez na vida.

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