Meio sonolento e cheio de ressaca da noite anterior, Eu...Miguel, vou arrastar o meu corpo até o trabalho.
Na minha rotina, tenho que estar bem cedo na estação para tomar o primeiro trem, caso contrário o atraso é uma realidade na qual o meu chefe não admite, pelo contrário me demite!
Saindo, bato o portão e dou aquela conferida se não estou esquecendo nada.
- Marmita, ok!
Carregador, ok!
Cartão de passagem, ok!
Celular, ok!
Sinto muito a cabeça girando e ouço as batidas repetitivas da noite anterior, o corpo só pede água e cama, mas tenho a responsabilidade que preciso ir trabalhar para poder ajudar a coroa nas despesas de casa.
- Nunca mais eu vou beber na minha vida!
Repetia pela milésima vez.
Antes de alcançar a esquina, uma leve inclinação na rua fez o rapaz perceber algo fora do comum.
- Calma, eu não tenho dinheiro! Estou indo para a creche.
Dizia um homem que estava coagido por um motoqueiro.
- Um assalto!
Pensei, me escondendo na lateral do muro e usando a inclinação da rua para não ser notado.
- NÃO TEM É O CARALHO!
VOU ENFIAR UMA BALA NA TUA CARA E, DEPOIS VOU ENFIAR OUTRA NA CARA DA MENINA...
Foi então que já abrigado, notei que havia uma criança em toda aquela confusão.
Foi então que o jovem teve a ideia brilhante que a maioria das pessoas tem hoje em dia, enfiou a mão no bolso e com o seu celular, começou a filmar tudo o que estava acontecendo.
Em silêncio ele capturava a expressão de medo da vítima e a cara do assaltante que com uma violência atrás da outra, ameaçava a vítima sem se importar com absolutamente nada.
Tremi a imagem ao ver o soco na cara que o rapaz tomou quando virou a face para proteger sua filha atrás das suas pernas.
- Calma, não precisa me bater não.
Implorava o coagido homem, com uma arma apontada na sua cara.
O monstro em cima da moto não ficou muito contente com o que sua vítima tinha, parece um celular antigo e um cartão de crédito, não sei ao certo, como tudo isso poderia acabar?
Não sei porque, mas me veio repentinamente a imagem do meu passado, eu sentado no banco da igreja, ouvindo o pastor pregando, com a bíblia no meu colo e dando glória.
Algo então me chamou a atenção e despertei da minha lembrança, algo se movia, era um homem que parecia estar buscando uma posição...
- Meu Deus, ele também está armado!
Falei baixinho.
Aguardando o pior, apertei os olhos, assim quando você espera um barulho e involuntariamente os seus olhos se fecham sabe?
E foi assim que aguardei o som de tiros, minhas mãos tremiam, eu suava frio e foi então que o inesperado aconteceu, atingido com dois tiros o bandido caiu, paralisado assim como eu, a vítima se manteve alí.
Vejo o responsável pelos disparos correndo na direção do rapaz e da menina e os retirando de perto do corpo.
Nesse momento, eu encerro a filmagem e meu corpo não atende os comandos do cérebro, volto em direção a minha casa, abro o portão, sento no sofá e alí fico por horas com uma mistura de pânico e dormência no corpo.Adilio Roza
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Olhares
AçãoOlhares é uma sequência de textos, onde vamos mergulhar na visão do protagonista, porém, esse protagonista irá se alterando e então teremos um novo olhar do mesmo acontecimento. Não entendeu? Toda quarta-feira lançarei um novo olhar e verás que temo...