Sétima parte

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- Perdão Senhor, pois eu pequei!

Dizia com voz trêmula e muito tímida a jovem.

- Diga-me, qual é o seu pecado minha filha?

Com o tom de voz envelhecido, a voz saltava entre o espaço confinado.

Esfregando as mãos a jovem tomava coragem para poder contar um dos seus maiores pecados.

- Será que Deus perdoa através da minha confissão?
Se perguntava mentalmente a moça.

- Coragem filha!
Não precisa temer, seja lá qual for o seu pecado, Deus irá te perdoar!
Afirmou com fé e muita convicção o padre.

- Posso contar tudo do início padre?

- Mais é claro que sim!

Meu nome é Carolina, sou católica desde que nasci, acredito muito em Cristo Jesus e na intercessão da virgem Maria.

Mas uma questão vem me tirando o sono ultimamente padre.
Eu sou repórter, estava dois anos buscando emprego na área, porém, ninguém quer contratar jovens sem experiência profissional, independente do seu currículo extenso e cheio de cursos bons.

Duas semanas atrás, Deus abriu uma oportunidade de emprego pra mim, o salário é ótimo e tenho todos os benefícios que sonhei em ter com esse trabalho.

Entretanto, meu chefe me persegue e me cobra matérias que fogem da minha conduta cristã, dentro dessas matérias, ele faz sempre suas sugestões tem uma manipulação da massa, distorção dos fatos, exagero na ação, fazendo tudo ser muito maior do é, eu me recusava a escrever dessa maneira, me recusava a assinar as minhas próprias matérias que passavam por suas mãos antes de ser publicadas e voltavam para a minha cheias de sensacionalismo barato.

Um dia, o meu telefone tocou.
Era um rapaz que não queria se identificar dizendo que havia filmado um assalto com uma morte no final.

Logo pensei: - Minha chance de ganhar destaque dentro do meu trabalho!

Pedi para que o rapaz não divulgasse o conteúdo para ninguém, que eu iria dar uma boa bonificação.

Marquei um lugar e peguei com ele um pendrive.

- O que é um pendrive filha?
Perguntou o padre prestando atenção em cada detalhe da confissão.

- Pendrive, é um dispositivo onde guardamos arquivos, e reproduzimos em um computador.

- Entendi.

- Pois bem, levei o pendrive até o meu trabalho e assisti várias vezes o conteúdo.

Entre uma violenta abordagem do bandido e o fim merecido, eu fiz um levantamento dos nomes envolvidos no assalto e diante do fato ocorrido fiz uma matéria forte e com muita seriedade.

- Muito bem, isso mostra que você é profissional e tem caráter!

Elogiou o padre envolvido na história.

- Mas havia um problema.

- Qual minha filha?

- Para a matéria ser publicada, antes ela deveria ser aprovada por meu chefe.

- Mas não havia outra maneira, outra pessoa para buscar essa aprovação?

Perguntou indignado o sacerdote já totalmente envolvido na história.

- Infelizmente não.
Fui caminhando até a sua sala, bati na porta, não estava nem um pouco entusiasmada.

Aquela matéria iria me dar nome dentro da minha profissão.

- Com licença!
Posso entrar?
Com a cabeça a amostra eu perguntei.

Sem olhar para mim, ele apenas disse:
- Sim, entre Carolina!
- Diga, o que quer?

- Eu fiz uma matéria e gostaria da sua aprovação.

Erguendo a cabeça, ele retirou os óculos que caiam da ponta do seu nariz e perguntou-me:
- Que tipo de matéria é essa?

- Uma fonte me mandou um vídeo gravado de celular onde um marginal aborda um pai com sua filha e o assalta, por fim, um policial militar que saia do seu trabalho passou e viu o ocorrido, sem muito o que fazer efetuou os disparos e baleou o assaltante.

- Você tem essa matéria pronta?
Totalmente empolgado o diretor do jornal perguntou elevando o tom de sua voz.

- Sim, tenho a matéria as fotos dessa filmagem todas já dentro dessa matéria.

- Me mande imediatamente para que eu a revise.

E apertando apenas alguns botões do meu celular, mandei a matéria para o e-mail dele, ele começou a ler e eu me levantei para deixar que ele pudesse ler com calma.

- Senta aí!
Com a expressão não muito boa ele gritou me dando ordem.

- Não, não, não!
Isso não vai dar audiência, está tudo errado.

- Mas senhor, está tudo relatado aí tu...
Antes que eu pudesse terminar, ele cortou a minha fala.

- Você vai voltar até a sua mesa e vai refazer essa matéria, não quero um policial militar como herói, eu quero uma vítima da sociedade morta pelas mãos do estado capitalista e desigual, entendeu?
Eu quero os direitos humanos pocesso e caindo de "pau" na atitude desse policial.

Quero as imagens do rapaz que no ato que foi alvejado, isso vai fazer os leitores sentir raiva do policial, imagina você amanhã fazendo outra matéria sobre o que a galera dos direitos humanos falaram sobre essa matéria?

Eu não sabia o que fazer, então tentei argumentar mais uma vez.

- Mas o que o senhor está me pedindo pra fazer não é certo!

- Certo?
E você por um acaso sabe o que é certo?
Olha aqui garota, ou você faz o que eu mandei ou vai para o olho da rua!

Saí da sala totalmente desanimada, eu sabia que não era uma atitude cristã mentir e manipular os fatos, porém, era o meu emprego que estava  em jogo.
Fui até o banheiro, e chorei muito.
Mas por fim, resolvi manter o meu emprego.

Duas horas depois eu enviei a matéria que meu chefe pediu.

No dia seguinte a minha matéria era a capa do jornal.

Eu não consegui nem pegar no jornal de tanto nojo que eu sentia de mim mesma.

E foi por essa atitude que eu estou aqui padre, quero pedir perdão para Deus por essa atitude não cristã.

- Minha filha, Deus conhece o seu coração.
Por mais você tenha feito algo fora de sua conduta cristã, Deus te ama e sabe o quanto você relutou para não mentir.

Eu, perante o poder que a igreja me deu, te absorvo de todos os seus pecados vá e não peques mais!

- E foi pensando em não pecar mais, que hoje eu pedi a minha demissão.

Adilio Roza

OlharesOnde histórias criam vida. Descubra agora