Quarta parte

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Depois de uma noite mal dormida, o celular desperta e dona Marlene acorda para mais um início de semana.

Aposentada e viúva, dona Marlene não teve tempo de ter filhos, pois conheceu o amor da sua vida com idade avançada.

Em sua casa, ela ostenta a proeza de criar sete gatos, talvez na falta de uma experiência materna, quem sabe?!

O amor que ela tem por seus bichanos faz com que a sua vida se volte nos cuidados e na atenção para com os mesmos.

Na manhã dessa segunda-feira, ela levantou como de costume, desativou o despertar do celular sem muita habilidade com o eletrônico, abriu aos poucos os olhos e sentiu ao seu lado o seu filho mais novo que sabia que era hora do café da manhã.

- Chico, meu amor!
Bom dia, vamos tomar café, vamos?!

Falou a senhora rouca por ter acabado de acordar, porém, tentando entoar doçura e meiguice.

Podemos pensar que dona Marlene é a típica senhora que ama os animais e tem compulsão por bichos que são abandonados, mas não é bem assim!

Dona Marlene ama os seus gatos, somente os seus!
Se houver outro na rua ela despreza e se puder até chuta o coitado, isso serve para os cães também.

Em sua rua, existe um vira-latas que fica a expreita aguardando o momento certo de entrar na garagem da senhora e comer a ração dos seus gatos, dona Marlene o chama de lixão, devido ao hábito de revirar o lixo.

Ao se levantar, dona Marlene se expreguissa e busca com os pés sua sandália no chão frio, caminha em direção ao saco enorme de ração felina, antes de encher as sete cumbucas ela liga o seu rádio, o loucutor que parece conhecer a rotina de dona Marlene diz logo de cara:
- Bom dia pra você que está levantando agora, bom dia pra você que já está a caminho do seu trabalho, que o Senhor possa abençoar o seu dia meu irmão, minha irmã, vamos iniciar o dia com esse lindo louvor a Deus, muito bom dia povo de Deus!

Nesse momento, todos os gatos já se encontram acordados passeando e miando próximo dos pés de sua amada dona.

Cantarolando o hino de louvor e falando o nome de cada um, dona Marlene sobrepõe a tigela no chão.

Incrível perceber que os gatos sabem quem é quem e aos poucos se direcionam as suas respectivas refeições.

Ao colocar a última tigela no chão, dona Marlene percebe que o seu maior inimigo está deitado na rua, ela percebe isso pela fresta que existe no seu portão.

- É agora que dou um jeito nesse vira-lata!
Disse a senhora voltando alguns passos e pegando a vassoura. Em passos curtos e silenciosos dona Marlene destranca o portão sem fazer barulho, seu objetivo era acertar o máximo de vassouradas no pobre cão.

Antes de abrir o portão, ela ouviu passos e aguardou.

- Você não precisa ter medo do cachorro. Eu estou aqui e nada de ruim vai te acontecer. E se acontecer eu vou te proteger.

A senhora quieta quase sem respirar ouvia uma voz masculina caminhando do lado de fora, e com som de passos a voz se misturou a outra e aos poucos se distanciava.

- Chute no "auau", pai?

- Se ele vier morder, o pai da um chute no " auau".

O silêncio surgiu novamente, então dona Marlene pensou:
- Vou recolher algumas pedras, se o lixão me ver saindo com essa vassoura vai correr com certeza.

Então, ela foi até os fundos de sua casa e se municiou com algumas  pedras, caminhou novamente até o portão e lá estava o pobre lixão, dormindo e totalmente indefeso, dona Marlene caminhou lentamente em sua direção e antes de desferir as vassouradas, olhou para a sua esquerda e constatou que não havia ninguém, a sua direita e mesmo sem ter a visão em completa perfeição avistou um homem armado na esquina de sua rua, seu corpo paralisou.

- SÓ TEM O CELULAR DE VALOR?
AH, NÃO! SUA FILHA VAI FICAR SEM PAI.
ESSA É PRA VOCÊ APRENDER A NÃO BRINCAR COM LADRÃO, SEU VIADO!

Ouvindo os gritos, dona Marlene se pegou testemunhando um assalto e quem sabe um assassinato.

Dois tiros.
E o pobre lixão assustado com o som, se pois a correr, dona Marlene se jogou no chão e como os seus felinos, engatinhou até a sua casa.

- Meus Deus!
Senhor, tenha misericórdia pai!

Clamando, dona Marlene entrou e trancou sua casa protegendo os seus filhos peludo e cantando louvores ali permaneceu o dia todo.

Adilio Roza

OlharesOnde histórias criam vida. Descubra agora