Capítulo Quarenta e Nove

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Cada verso vai rasgando minha alma aos poucos. De forma lenta, tornando o sofrimento insuportável.

— Ele vai volta mãe, tenho certeza disso. — Mumuro mais pra mim mesma, do que para ela que afaga meus cabelos.

— Enzo está abalado emocionalmente filha, não sabe o que está fazendo. Ore, porque nesse momento é a única coisa que podemos fazer. — Limpa as lágrimas que teimam em cair molhando minhas bochechas.

Nenhuma palavra que busque  para definir o que estou sentindo nesse instante, pode definir o que realmente estou sentindo.

Por que ele não me esperou acordar para conversarmos sobre isso?
Por que ele não me deu pelo menos a chance de olhar em seus olhos pela última vez.
Por que isso está acontecendo de novo meu Deus?
Eu não queria me apaixonar, sabia que corria o risco de sofrer de novo, mas ele chegou e quebrou todas as barreiras de proteção que tinha. Então, todas as portas foram escancaradas, Enzo entrou e pensei que ficaria para sempre. Contudo, assim como o Tom, me deixou sem pelo menos ouvir minha opinião. O pior de tudo é que Tom, jamais falou em casamento, nunca me iludiu com uma vida a dois, não era cristão, não orava comigo, não chorou por mim, e Enzo que fez tudo isso, fez a mesma coisa. Me deixou, sem ao menos perguntar a minha opinião, foi embora apenas com suposições sobre minha reação.

Como fui idiota. Como me deixei enganar assim. Me privei tanto para que não viesse me magoar de novo, e olha onde estou. Em uma situação pior que a primeira.

Quero que ele volte. Contudo quero esmurrar aquele rosto perfeito, por está me fazendo sentir essa aflição terrível.

Enzo por que está me decepcionando assim?
Onde você está agora?
Por que me prometeu um beijo no altar, se não vai poder cumprir?
Por que fez uma festa de noivado, se no dia seguinte iria dilacerar meu coração?
Por que orava para ser o companheiro que tanto precisava, se não estaria aqui para viver isso.

Como isso é doloroso. Nem as milhões de lágrimas que inundam a blusa da minha mãe são o suficiente para aliviar a dor.

A culpa é minha se tivesse acordado mais cedo, talvez tivesse impedido dele ir embora. Que droga!

Deus, fiz tudo certo, orei, jejuei, esperei tua confirmação, não dei nenhum passo sem o teu direcionamento, mesmo cansada acordava pela madrugada para orar, procurei viver a tua palavra nesse relacionamento, e por que tudo isso está contecendo?

Por que permitiu esse sentimento que tanto rejeitei entrar em meu coração, se sabia que ele iria me fazer sofrer assim? Tu não sabes de tudo? Tu não ouves o que teus filhos oram? Então por que não me ouviu? Eu perguntei do Senhor e disseste que era ele. Quando fiz tudo errado, sabia que estava colhendo o que plantei, mas agora, busquei dar o meu melhor nesse relacionamento, fazendo tudo de acordo com a tua vontade, não entendo o porquê de está permitindo isso.

Deus, não leve em conta o que estou dizendo agora, estou desmoronando por dentro. Não sei o que fazer a não ser questionar. Buscando assim uma resposta para entender tudo isso, para encontrar um escape para essa coisa destruidora que estou sentindo.

Calma meu amor. Não se desespere, tudo irá ficar bem. Ore filha, ore. — Mamãe suplica olhando em meus olhos.

— Agora... Não consigo, mãe. — Minha voz sair quase inaudível, pois os urros de dor, impedem delas saírem com clareza.

Me solto dos seus braços indo em direção ao meu quarto. O chão parece ter sumido de sobre meus pés, não sei como estou caminhando, tudo está no automático. Não estou no controle do meu próprio corpo. É tão torturante tudo que estou vivendo novamente, que apenas me jogo em cima da cama esmurrando meus travesseiros.

Ainda Existe Vida (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora