Capítulo Cinquenta e Seis

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Artur está a cada dia mais louco. Os federais estão na cola dele, os desvios de dinheiro público, os laranjas e as propinas já foram descobertas. Faz meia hora que ele saiu daqui, só consigo sentir ódio desse corrupto. Destruiu tudo que meus bisavós demoraram anos para construir.

Dora não pôde mais descer e nem trouxe o que me prometeu. Sei que ela não tem culpa, mas seja lá o que fosse trazer para que o ódio que estou sentindo diminuísse seria bem-vindo. Suas palavras sempre aquecem meu coração.

— Você vai assinar essa porcaria, agora! — A porta entra em contato com a parede causando um pequeno estrondo. Artur entra furioso com os olhos vermelhos e o cheiro de bebida alcoólica inunda o lugar.

— Foi beber para criar coragem para mim torturar para assinar esse papel? — Estou sem forças para lutar com ele, mas não vou me intimidar. Não vou mostrar a minha fraqueza como sempre fiz por ele ser meu pai.

— Garoto não me venha com afrontas. Sabe que posso acabar contigo no piscar de olhos. — Sorrir sarcástico.

— Sempre preponte né Artur? — Levanto ficando cara a cara com ele.

— Sei usar do poder que tenho Garoto. Já tive muita paciência, esses meses todos deixei você aqui, pensando e pensando, ainda assim não assinou essa porcaria. Não diga que não avisei quando aquela ruivinha gostosa estiver aqui nesse porão.

A raiva chega no ápice de tudo. Arranco o papel de suas mãos, começando uma sessão de socos em seu rosto depois de consegui jogá-lo contra a parede. Artur não demostrar dor ao parar de socá-lo. Quero matá-lo mais algo dentro de mim impediu.

— É máximo que consegue fazer? — Pergunta limpando o sangue do canto da boca. — Até que enfim sua máscara de crente caiu Enzo. Sabia que você não era diferente de mim. Você. — Aponta para meu rosto próximo ao seu. — Tem o meu sangue e no final se tornará pior do que eu. É de família querido filho. — Gargalha.

— Eu nunca vou ser igual a você. — Gritei.

— Não se preocupe o que está sentindo por mim nesse momento vai ser o responsável de levar você a ser como eu. É assim que começa. Agora, assina a porcaria do documento. — Fala tão perto do meu rosto que sou obrigado a virar o rosto para não inalar o cheiro podre de álcool que sai da sua boca.

— Acabou com tudo que seus avós construíram. Tudo que você toca destrói Artur. — Vocifero. — Foi o que fez com minha mãe, comigo e com a empresa.

— Não sabe o que está falando. Se não fosse por mim, você nem estaria vivo agora. — Pela primeira vez nesses meses todos suas palavras chegam a mim como uma verdade. — A sua mãe me destruiu, quando a gravidez foi confirmada tentei me tornar uma pessoa melhor para vocês dois. Até que ela tentou um abordo no terceiro mês. Depois de muita conversa, eu... está me ouvindo... Eu. — Grita. — Eu convenci ela a ter você. Se não fosse por mim, não estaria aqui. Depois que nasceu, Ela te amou tanto e por anos me fez pensar que éramos uma família de verdade. Até descobrir que ela continuava a visitar o túmulo daquele desgraçado, ela já tinha se tornado uma crente como você, no começo não me importava, mas a incapacidade dela de deixar o passado para trás estragou tudo. Pedir para ela parar de ir naquele cemitério, mas não parou, foi então que percebi que nossa linda família existia apenas na minha mente. Pensava que ela tinha aprendido a mim amar, pensei que pelo menos uma vez na vida alguém me amava, mas não, nem um filho fez ela me amar de verdade e esquecer aquele defunto. — O desepero no rosto de Artur causado por tudo que está vivendo nos últimos meses prestes a perder tudo misturado com as sensações que lembrar do passado causa dentro dele, mostrar  que pela primeira vez ele está falando a verdade. O olhar é diferente do que tinha na noite do meu noivado. Naquela noite tinha um olhar de superioridade, agora mesmo em meio a pose de durão, há fragilidade em seu olhar.

— Ela te aguentou durante 13 anos, acha mesmo que ela não te amou? Tentou me abordar sim, sabe por quê? Porque ela me fez bêbada, não estava em sã consciência, devia está desesperada... — Sou interrompido por suas risadas sarcásticas.

— Sempre defendendo a sua querida mãezinha.

— Independentemente de qualquer coisa. Ela é minha mãe. — Afirmo entre dentes.

— Uma mãe que preferiu um defundo a família que sempre esteve ao seu lado? — Começa a bater palmas. — Que mãe do ano.

— Não fale assim dela. E outra você acha que nunca foi amado? Eu te amei desde que me entendo por gente. Sempre fiz tudo pra te agradar, ser o filho perfeito pra você notar que te amava, e você vem me dizer que nunca foi amado? — Balanço a cabeça mostrando como estou cético diante disso. — Você nunca vai saber quando alguém te ama, sabe por quê?  Sabe o porquê, Artur? — Grito e o vejo engolir em seco. — Porque quem não tem amor dentro de si, não sabe reconhecer quando é amado. Por isso nunca percebeu o quanto minha mãe te amou, eu te amei e o amor que seus pais tinham...

— Meus pais? Você vem me dizer que eles me amavam? — Pergunta e vejo a ira em seus olhos se acender. — Amar é espancar um filho por ele não ser o mais popular na escola, por não ser o mais inteligente ou por não ter nenhum talento visível ou por ser agredido ao dizer que não queria seguir a carreira do Pai e sim ser um cartunista, porque a única coisa que sabia era desenhar? Ou amar é ver o marido maltratando o filho e não fazer nada e ainda concordar com tudo que o marido dizia. Isso é amor Enzo? Ou ser obrigado a se deitar com prostitutas em festas de negócios na frente dos filhos dos amigos dos do Pai, apenas para que seu pai exibisse o quanto homem você era? Isso é amar? Amor é torurar o filho até ele fazer o que você quer? Então meu pai fez um belo trabalho me ensinando sobre o amor. Pelo visto Enzo Gabriel, eu amo você.

Suas palavras penetras meu coração como espadas perfurantes. É por isso que ele agia daquela forma comigo. Ninguém pode dar aquilo que nunca recebeu. Suas lembranças de família são de traumas e rancor...

✴✴✴

Um pequeno Capítulo para entendemos um pouco o Artur. Todo vilão já foi um ser humano bom, que foi obrigado a se tornar uma pessoa perversa, não por escolha própria, mas por traumas causados principalmente na infância onde a criança ainda não tem defesas intelectuais. Adultos já possuem essa dificuldade de se proteger ainda mais crianças. Nós seres humanos temos apenas cinco segundos para debelar um foco de tensão emocional para que ele não seja registrado de maneira doentia na memória. Agora explique isso para uma criança é bem complexo, por isso a maioria dos traumas que levamos para a vida toda acontece na infância. Mas nenhum trauma resiste ao sangue de Jesus. Nenhum trauma é maior que o sacrifício da Cruz. Em Jesus todo trauma tem cura, nEle podemos substituir lembranças traumáticas, por memórias de superação.

Ainda Existe Vida (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora