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Lidar com uma perda não era fácil.

Na realidade, nada é exatamente fácil, independente do que seja.

No meu caso, no entanto, eu estava lidando com a perda de algo que nunca me pertenceu.

Ser fã, significa amar alguém incondicionalmente. E levando em consideração o fator distância, eu amava alguém incondicionalmente de ele sequer saber da minha existência.

O amor tem dessas pegadinhas.

Eu havia decidida a não me deixar abalar mais. Se era parte daquele destino maluco que eu conhecesse meu ultimate para depois assisti-lo desaparecer diante dos meus olhos, era melhor que eu guardasse as breves memórias boas que tinha daqueles dois momentos no coração e seguisse em frente. Ao menos não seria um final tão triste para o meu momento feliz.

No entanto eu ainda não era capaz de ouvir as músicas sem chorar.

Era assim que as Armys que haviam ido a um show se sentiam? Se fosse o caso, eu entendia melhor do que ninguém o sentimento de perda.

Me mantive otimista, minha mãe não ficaria tranquila se eu tivesse mais uma crise de choro repentina. Não me sentia capaz de explicar para ela o que havia acontecido, mas deixá-la preocupada também não era uma opção.

Admito que algumas vezes coloquei a mim mesma para dormir depois de ouvir as músicas em meio a um choro abafado no travesseiro, mas ninguém é de ferro.

Já faziam alguns dias que tudo havia acontecido, uma semana hoje, para ser exata.

- Maria! Atende a porta pra mim, por favor! - minha mãe falou da cozinha, enquanto eu estava passando os canais da televisão, completamente entediada.

Me levantei e fui em direção à porta.

- Já vai! - disse quando tocaram a campainha pela terceira vez.

- Malu! - ouvi a tia Ariane dizer empolgada, jogando os braços ao redor do meu pescoço em um abraço apertado. - Sua mãe está, querida?

- Na cozinha - forcei um sorriso, mesmo estando nervosa. Das últimas vezes que encontrei minha tia de consideração os desfechos acabaram sendo motivos de lágrimas sofridas.

- Ok, querida! Obrigada - minha tia deu um sorriso amplo e atravessou a porta, deixando os sapatos num canto e indo em direção à cozinha sem a menor cerimônia.

- Conceição! Eu acabei de voltar da feira! O que tem pro almoço? - falou sorridente, colocando as diversas sacolas que trazia em cima da bancada.

- Nem sei, querida - minha mãe riu. - Só sei que estava checando a geladeira ainda agora em busca de algo pra fazer.

- Pois então eu vim na hora certa! - respondeu puxando duas sacolas para longe do restante e retirando o conteúdo das mesmas.

Batatas e carne.

- Que tal fazer um bife com batata-frita? - deu um sorriso ladino como se estivesse desafiando minha mãe, que rapidamente aderiu à ideia.

Em pouco tempo a casa estava cheirando à bife e haviam cascas e fatias de batata por toda cozinha. Minha mãe acendeu o fogão novamente para colocar o óleo e meu coração saltou ao ouvir o chiado das batatas sendo colocadas na panela.

- Precisa se acalmar, Malu - tia Ariane riu quando me viu ofegante e de olhos arregalados levando a mão ao peito numa tentativa pouco eficaz de regular meus batimentos cardíacos.

- Estou calma, tia, só não tem sido uma semana muito tranquila - murmurei em resposta.

- Sei bem, querida - respondeu descascando as últimas batatas que tinha em mãos. - Nosso coração costuma se apegar muito rápido às coisas... Mas isso não é de todo ruim.

Eu encarei minha tia de consideração surpresa. Ela continuava descascando a dita batata, alheia ao meu olhar... Não, ela não teria como saber o que havia acontecido.

O almoço foi silencioso, minha mãe e tia Ariane conversavam sobre diversas coisas, e tudo que eu me sentia com vontade de fazer era mergulhar minhas batatas na poça de ketchup que eu havia montado no canto do prato.

- ... não é, Malu? - perguntou minha mãe e eu quase engasguei com o pedaço de bife que mastigava preguiçosamente, tendo uma crise de tosse.

- E-eu... Não prestei a-atenção... Do que estão falando? - soltei, ainda tossindo depois de beber quase dois copos inteiros e suco.

- Sua tia acabou de dizer que tem uma feirinha com artigos diversos e algumas coisas que ela queria comprar, e me perguntou se você iria querer vir conosco - sorriu minha mãe.

- Ah... - soltei, tentando forçar um tom alegre, mas não estava realmente com a mínima vontade sair. - Acho que dessa vez eu passo, mãe...

- Uhm... - ela e minha tia trocaram um olhar antes que minha mãe assentisse na minha direção. - Tudo bem querida... se importa se eu for?

- Não, tudo bem mãe - sorri para ela. Minha mãe merecia um tempo livre, e nas últimas semanas era tia Ariane a responsável por ela conseguir fazer isso, então para mim não poderia haver o menor problema.

Minha mãe subiu as escadas em direção ao seu quarto enquanto tia Ariane e eu esperamos na cozinha. Em determinado momento, tia Ariane sorriu para mim e se levantou, indo em direção à pilha de sacolas que tinha deixado em cima da bancada mais cedo, e puxou uma sacolinha pequena de lá.

- Eu esqueci de te entregar - sorriu me estendendo a sacolinha lacrada. - Chegaram ontem no final da tarde, estou andando com eles o dia todo! O valor ficou em R$15,00 cada, mas eu vou te dar um descontinho de cinco reais por batom!

- Tia, eu não quero eles - respondi séria. - Todas as vezes que a senhora traz um desses produtos que eu pedi eu tenho um dos melhores momentos da minha vida, e então tudo desaparece! Eu realmente não quero!

- Querida - tia Ariane falou baixinho, se sentando ao meu lado e envolvendo meus ombros com o braço livre. - Eu sei que as coisas parecem difíceis agora, mas você precisa entender que parte do encanto é dizer o que se sente, sabe?

- E eu estou dizendo que não quero mais nenhum produto da coleção! - respondi ainda mantendo a seriedade na voz. - Pode vender os perfumes Jequiti pra minha mãe, tia! Ela vai adorar! Mas eu não quero mais nada!

Ela suspirou e olhou na minha direção, enquanto eu me afastava dela com passos firmes e me encolhia no sofá. Minha mãe desceu as escadas logo depois e sorriu para ela.

- Vamos, Ariane? Estou pronta! - sorriu puxando o braço da amiga e a levando em direção à porta.

- Claro! Claro! - minha mãe calçou os sapatos e tia Ariane fez o mesmo, ainda com a sacolinha em mãos. E então num rompante ela se aproximou de mim e colocou a sacolinha à minha frente. - Lembre-se do que estou dizendo. Diga o que sente. É a sua chance, então não desperdice, porque ela vai durar pouco.

E assim ela e minha mãe saíram pela porta e eu fui deixada encarando a sacolinha. Em um impulso, mais como raiva mesmo, eu puxei a sacola e abri o lacre, então sete batons coloridos estampados com os personagens do BT21 caíram dali. Eu respirei fundo observando os pequenos adornos em cada uma das peças e senti meu coração palpitar. Corri até o quarto e os organizei ao lado de cada tubo de creme e em frente à cada perfume.

Observei um por um e a frase da minha tia de consideração voltou à minha mente.

"Diga o que sente."

- Eu sinto medo - murmurei para mim mesma. - Medo de ter algo que não é meu por tempo suficiente para me apegar e então sentir que foi arrancado de mim - suspirei, os olhos lacrimenjando. - E se eu me apaixonar um pouco mais não vou ser capaz de conter esse sentimento! Então o que eu faço?

Minha mão alcançou a respectiva embalagem do batom que pertencia aos dois itens que eu havia utilizado anteriormente.

- Se essa é minha última chance de vê-lo... Eu não quero me arrepender - suspirei.

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2|3 - Seokjin
2|1 - Yoongi
1|9 - Hoseok
2|0 - Namjoon
2|4 - Jimin
2|2 - Taehyung
1|8 - Jungkook

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