Defesa Russa

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Nós nos encarávamos através do vidro à prova de balas, até que ele pegou o interfone sorrindo largamente.

- Duas vezes na mesma semana? Estou começando a gostar do meu plagiador. – Ele puxou o rosto para o lado em sinal de leve adoração.

- Ele jogou os peões no pequeno centro e então o cavalo, mas algo está errado. Ele deu uma dica de truque de mágica, acho que ele quer me enganar, particularmente eu.

Meu pai me olhou orgulhosamente. Eu não entendia porque com ele minhas palavras saiam livremente, nossos pensamentos tinham uma conexão inexplicável, diferente do que eu tinha com Bella. Eu odiava admitir, mas me sentia bem desabafando com aquele assassino.

- Lia não se culpe demais. Você precisa parar de pensar que você é o centro das atenções, olhe de uma perspectiva externa. Que jogada você faria?

- Eu não sei, eu jogaria o cavalo preto em defesa, mas estaria jogando a defesa Petrov, é obvio demais. Estou com medo de que a intenção dele seja o obvio, ou seja, você pensa que ele está fazendo uma jogada, enquanto ele começa outra, sem tempo de fazer você rebobinar a sintonia de pensamentos. Mas isso seria errado, seria jogo sujo.

- Talvez o xadrez não seja o objetivo principal para ele querer complicar, talvez ele queira provocar você? Você pode saber como ele vai fazer a jogada final, mas quem são as peças? Você está vendo tudo de uma perspectiva amadora.

Ele adivinhava perfeitamente bem. Por que eu aceitaria conselhos de um lunático? Até que provem o contrário ele estava no jogo também, mas não sei, algo tirava a arte que ele imprimia nas vitimas. As vitimas que eu estava presenciando estavam superficiais, não existia nenhum tipo de adoração, não tanto quanto tinha nas vitimas de meu pai, a atenção parecia mais voltada ao jogo, mas não o xadrez e sim o psicológico que ele fazia comigo.

Aquele pensamento me alertou, o cara na minha frente era um lunático, eu não tinha que escutá-lo. Eu odiava sentir afeição por aquele monstro, isso me embrulhava o estômago todo momento.

Eu estava prestes a colocar o interfone no gancho, quando eu ouvi a voz embargada dele de um sentimento que eu não consegui decifrar.

- Eu não matei sua mãe.

O que? Isso era impossível. Por quanto tempo ele iria tentar me manipular? Aquilo já tinha passado dos limites, mas não conseguia me desgrudar da cadeira depois daquela alegação.

- Se não foi você, quem foi? – Disse com amargura na voz.

- Só quero que me perdoe um dia, por não ter conseguido proteger vocês, eu paguei pelos meus pecados.

Ele colocou o interfone no gancho e eu pulei da cadeira, fazendo um estrondo quando ela caiu. O policial na porta me olhou com suspeita apoiando imediatamente a mão na arma em sua cintura, então sai em um ritmo acelerado da sala.

Bella estava parada na porta como eu imaginava, mas eu passei reto por ela.

Como meu pai podia ser tão egoísta? Com tanta coisa em minha mente, não podia aguentar mais essa.

Bella correu para me acompanhar e ficou em silêncio ao meu lado.

Quando chegamos ao lado de fora, Bella fez menção de abrir a porta do carro para me acomodar e eu a interrompi, então ela parou e esperou eu entrar. Em seguida ela calmamente entrou e deitou a cabeça no encosto enquanto respirava fundo.

- Você vai acabar me matando desse jeito Lia. Tem noção da força que eu fiz para não correr atrás daquele canalha e acabar com o que ele chama de rosto? – Bella, respirou fundo, carregando sua voz com mais calma, ela estava com uma aparência de obvio sofrimento, então segurou minha cabeça com ambas às mãos e sussurrou em minha direção, o que me eletrizou novamente e isso já estava me irritando.

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