Movimento

113 12 55
                                    

Uma peça é dita ameaçada se estiver ocupando uma casa controlada pelo oponente.

Bella e eu entramos no carro em silêncio e o constrangimento me subiu a mente. Como exatamente eu pudera prender a única pessoa que respeitava e confiava em mim?

- Bella eu acho que lhe devo mais que desculpas. – Eu a olhei esperando uma indicação que eu podia seguir com a aquele assunto, porém não veio.

 Nós saímos do estacionamento da delegacia e Bella parecia incomodada, enquanto dirigia, não parava de olhar para o retrovisor e batucar os dedos da mão no volante.

- Lia já disse que tudo bem, eu só pensei em te proteger e esqueci que você pode se proteger muito bem sozinha. – Eu a olhei estarrecida, porém Bella não desgrudou os olhos da estrada.

- Aonde vamos? – resolvi dizer finalmente.

- Padaria, eu estou com fome. – Bella virou uma avenida enquanto falava e seguiu rumo ao nosso refúgio familiar.

Ela estava do jeito de sempre, mas era o jeito de sempre que ela era com outras pessoas, ela nunca foi assim comigo antes e eu não deveria me importar, mas um peso no meu peso antes pequeno começou a aumentar e eu resolvi olhar o trânsito pela janela ao invés de encará-la.

Nós chegamos à padaria e o lugar estava completamente diferente, por ser noite, provavelmente madrugada, o local estava vazio. Rostos que eu não conhecia trabalhavam lá, outro turno, pensei enquanto Bella abria a porta de entrada para mim. O cheiro estava mais gorduroso, menos saboroso que de manhã e os poucos clientes que lá estavam eram trabalhadores noturnos, ao lado da nossa mesa de costume estavam alguns profissionais da saúde ainda com avental do serviço de algum hospital próximo, tomando café e comendo lanches enormes. Precisava anotar mentalmente qual era o hospital mais próximo para não ir lá nunca, sabe lá Deus quantos tipos de bactérias aqueles profissionais estavam levando para dentro do hospital usando um equipamento de segurança na rua daquele jeito.

 - Vai querer o que Lia? – Perguntou Bella enquanto sentávamos na nossa mesa de costume.

Isso não é nada bom. Eu nunca faço meu pedido. Eu a encarei, ainda desatenta aos movimentos ao meu redor, quando notei pessoas aproximando de nós.

- Ora, ora, se não é nossa fujona favorita. – Disse Luana sentando ao lado de Bella e empurrando a cadeira para trás deixando ela mal se equilibrasse em dois pés.

- Não fala assim Luana, Lia só estava pensando no nosso bem. – Julia colocou a mão no meu ombro esquerdo e se sentou ao meu lado.

- Já que o clube da Luluzinha está todo reunido, precisamos voltar ao trabalho. – Bella falava rispidamente como sempre, mas agora eu me sentia inclusa na turma, sem me sentir protegida ou menos atingida como sentia das outras vezes.

Uma atendente se aproximou com uma caderneta velha, mastigando um chiclete provavelmente velho também e um olhar insinuador para Bella. Por que todas olhavam para ela assim? Não parecia óbvio para mim que Bella gostasse de mulheres. Parece que o resto da humanidade discordava de mim.

- Vão querer o que? – A atendente falava no plural, mas o olhar não saia de Bella.

- Quero um café com três colheres de leite em pó desnatado, dois cubos de açúcar mascavo e creme Machiatto, por favor. – Os pedidos de Júlia nunca eram simples.

            Por mais que a atendente não parasse de encarar Bella, foi Luana quem começou seu pedido interrompendo um começo de frase da Bella que até então pareceu não perceber as investidas visuais da mulher em pé à nossa frente.

Batalha de RainhasOnde histórias criam vida. Descubra agora