À primeira vista a casa do nosso provável suspeito era comum, era uma branca de alvenaria, com um jardim mal cuidado e lamacento.
- Uma casa por aqui? Eis ai uma coisa rara. – disse Bella olhando para o lamaçal que um dia fora um quintal grande. - E tem até uma área recreativa. - continuou ela olhando com uma sobrancelha levantada para o lugar destruído.
Bella tinha razão, a cidade era feita de prédios, uma casa era coisa rara.
Nós saímos do carro e eu senti minhas pernas querendo falhar, ainda estava balançada com a coisa de outro mundo que acontecera no estacionamento da padaria. Pergunto-me se essas já eram as intenções de Bella, por isso não queria que o Lucas fosse conosco.
Uma onda de ódio preencheu todo meu corpo, e eu senti vontade de chorar, eu nunca tinha vontade de chorar, esse caso estava acabando comigo, Bella estava acabando com todo meu autocontrole e iria me pagar por me causar tantos sentimentos estranhos e horríveis. Assim que acabasse o caso eu me transferiria. Não tinha mais condições de trabalhar com Bella, não dessa forma pelo menos.
Eu ainda estava parada ao lado da porta do carro quando a encarei e vi Bella dando risada do meu recém-congelamento, completamente descontraída. Ela revirou os olhos ao andar em minha direção e eu a ignorei, andando quase correndo em direção a casa.
Deixei Bella para trás com as mãos no ar como se estivesse prestes a agarrar algo, então entrei na casa, apinhada de policiais em uma pequena sala mais abafada que o normal.
- Aí está você, precisamos te mostrar algo inédito. – Disse Luana se aproximando de mim.
Eu estava ainda confusa e perdida em pensamentos, mas notei que era comigo que Luana estava falando.
- Você não faz ideia do que tem no porão. – Continuou Júlia, comandando a situação.
Luana a olhou como se tivessem roubado seu ursinho de pelúcia e desconfiava que fosse Júlia
- O que acontece aqui crianças. – Disse Bella entrando dramaticamente na sala. Às vezes Bella deixava a situação tão premeditada, calculando todos os passos, como se a vida fosse um palco de teatro. Tenho que admitir era sempre impactante olhar para ela.
- Nada demais, só Lia, estrelando como atração principal do nosso tabuleiro humano. - disse Luana com a cabeça inclinada em direção a uma porta logo em frente, como se algo lá dentro explicasse sua frase.
Eu imediatamente me arrepiei dos pés a cabeça, e puxei o ar para tentar aliviar a dor, o que me fez sentir uma latejante pancada no peito.
- Ok. Coelho Branco mostre-nos o que tem atrás da porta? - Disse Bella com um gesto teatral, fazendo analogia com um dos personagens de Alice no país das maravilhas que transportava pessoas de um mundo para o outro.
Luana revirou os olhos ao comentário, e fez menção de responder, mas parou assim que seus olhos cruzaram com uma provável sobrancelha levantada inquisidoramente logo atrás de mim.
- Por aqui. - Disse ela balançando rapidamente a cabeça de um lado para o outro, como se estivesse apagando uma imagem colada à sua mente.
Quando atravessamos a porta, um cheiro forte de mofo e umidade impregnaram minha mente e tudo se anuviou no instante que a escuridão bloqueou minha visão.
-Existe um lance de degraus logo
à frente, cuidado, - Disse Júlia do mesmo jeito que um guia de museu faz ao direcionar crianças a uma incursão pelo local.
Os olhos demoraram alguns segundos para se acostumar à penumbra, e assim que eles entraram em foco suas primeiras imagens capturadas foram um choque. Ondas vibraram pelo meu corpo e se instalaram em minha cabeça que agora estavam vibrando com pontadas latentes.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Batalha de Rainhas
General Fiction[ CONCLUÍDA] E lá estava ela, sem saber que sangue tinha circulando em suas veias, nem tão pouco em quem confiar. Ja há um tempo não muito distante, quase no presente, ela acreditava saber o significado da palavra ficção, ato ou efeito de fingir, s...