2 - Bem-vindo a Nouha

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[Koen]

Parecia mais um dia qualquer para quem não tem ocupações. Foi o que pensei ao levantar da cama após ser acordado por minha mãe, a manhã está quente apesar de ainda ser cedo, pouco antes das sete horas, abri a janela do quarto para que a ventilação e luz natural entrasse. Arrumei minha cama como de costume, Dobrei os cobertores e os coloquei perto da cabeceira. Parti para o banheiro, escovei os dentes, lavei meu rosto e depois de uma breve conversa sobre vagas de emprego em locais próximos com minha mãe, ela me encarregou de comprar os pães para o café da manhã. Fui para o quarto com um misto de sono e preguiça, vesti uma camisa azul coloquei meu cordão e sai de casa.

O dia estava claro e sem nuvens no céu, o caminho não é muito longo, o local ficava a três quarteirões de casa e a essa hora tinha poucas pessoas na rua, ao chegar no estabelecimento pedi três reais de pão como o habitual. Enquanto voltava da padaria pensei em como era frustrante não passar para nenhuma faculdade, pior que isso seria não conseguir um emprego, estive bastante tempo a procura de um. O que não esperava desse dia não tão qualquer era cair em outra dimensão, literalmente cair e a julgar pelo tempo da queda, aproximadamente uns cinco quilômetros. Enquanto caia passando por dentro de algumas nuvens senti uma dor ardente em todos os músculos e ossos do corpo, e a cada segundo mais desespero me atingia ao ver o chão se aproximar. De quinze a dez metros do solo um vento muito forte fez a velocidade da queda se tornar quase zero, o que fez o impacto da queda ser de poucos metros, alguns galhos de árvore reduziram ainda mais o tombo. Quando bati no chão senti alguns ossos quebrarem e todo o meu fôlego ir embora, a única coisa que vi foram os olhos verdes de uma garotinha em cima do meu rosto e logo em seguida me vi perdido na escuridão da inconsciência.

{Nine}

Desde que fui expulsa de casa e estou vivendo na floresta evito ao máximo o contato com humanos, sempre que algum aventureiro se aproxima de onde estou me mudo ainda mais para o coração do bosque, é claro que às vezes me sinto só, mas sei que nenhuma pessoa hesitaria em me matar. Ao menos a floresta me aceita, me dá o que preciso para sobreviver e apesar de ser perigosa é muito bonita. Vivo tranquilamente da caça e pesca, pelo menos ganhei alguma coisa de útil da mulher que me gerou. Provavelmente se ela não fosse professora e ensinasse sobre sobrevivência na academia de aventureiros, não passaria de ossos em algum canto da floresta, li muitos livros sobre como viver na selva, e trouxe alguns materiais quando fugi de casa, mas o que mais realmente me mantém viva é minha capacidade mágica, vinda de meu pai, um demônio que se disfarçou de humano e enganou a todo do vilarejo.

É meio dia o sol bate forte nas folhas verdes das copas árvores, altas e milenares, com seus troncos tortos e cheios de musgo o que atribui um ar sombrio ao meu lar, a grama verde serpenteia por entre as árvores se misturando com as folhas secas caídas no chão, banhadas pela chuva que caiu mais cedo dando um cheiro de terra molhada. Na floresta é sempre possível ouvir som da natureza, os animais, o vento na vegetação, a água corrente e os pássaros em sua maioria multicolores, uns voam alto, outros fazem seus ninhos ou posam em seus ninhos já prontos.

Ao me abaixar para colher ervas senti a temperatura baixar bruscamente e um silêncio que paira no ar como se o mundo inteiro estivesse estático, causando arrepios que sobem por minha espinha, porém a quietude dura poucos segundos. Escuto um grito desesperado vindo de cima e aumentando, não consigo reagir ao que estou sentindo, meu corpo está travado completamente, um vento que quase me arranca do chão passa por mim e vai em direção à copa das árvores e logo em seguida um garoto cai na minha frente, perto dos meus pés, e por um milésimo de segundo seu olhar encontrou o meu e ele desmaiou.

[Koen]

Estou perdido em uma completa e vasta escuridão. Consigo ver meu corpo com clareza, ando alguns passos na escuridão e começa a surgir algumas luzes ao meu redor, pequenos pontos roxos que caem vagarosamente como flocos de neve. Fico encantado com elas, traz uma paz inexplicável, uma desses flocos pousa em minha testa e dá uma sensação de descarga elétrica, acordo assustado.

Koen: A Punição DivinaOnde histórias criam vida. Descubra agora