Capítulo 1

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Naquela manhã David foi despertado pelo som ensurdecedor do amanhecer violento de nova iorque, era como se a cidade toda estivesse gritando na janela do seu quarto. Embora ele tivesse vivido toda sua vida ali ainda não estava acostumado a rotina da nova zona que era mil vezes mais agitada do que a anterior onde vivia com a ex-esposa e seu filho de quatro anos.pois,o maldito divórcio o fizera trocar uma penthouse enorme em Chelsea por um apartamento de classe média no Bronx onde mal podia dormir até as nove da mãe.

Tropeçou em um caixote mal caiu da cama, a mudança não concluída gerava uma bagunça enorme deixando um monte de coisas fora do lugar. Sua sala era basicamente um sofá comprado há dois dias ainda embrulhado em saco plástico e uma tv colada á parede que ainda cheirava á tinta fresca, o escritório no fundo do corredor tinha somente uma mesa acastanhada com um velho computador sobre ela, duas cadeiras giratórias e vários caixotes repletos de livros, havia uma cozinha que de tão vazia parecia bem maior do que realmente era onde existia uma enorme geladeira repleta de latas de cervejas e comidas congeladas, um micro-ondas encostado ao canto e várias garrafas de uísque espalhadas pelo Chão, podia se jurar que havia ali uísque suficiente pra embebedar dez escoceses.

Definitivamente David Jones precisava recomeçar sua vida, e ele nunca havia sido bom em recomeços, um motivo mais pra odiar sua ex-esposa, não passava por tanta bagunça desde que seus pais haviam decidido fugir da cidade pra que pudessem passar por uma velhice tranquila na quinta da família, David na altura com quase vinte anos precisou provar pra ele mesmo que podia marcar passos pelas avenidas da vida sem ter que se segurar nos ombros de alguém, foi assim até ter-se casado, parece que as vezes o casamento muda os homens tornando-os mais meninos em alguns aspectos.

-merda! Mal se pode dormir em paz nesse lugar!-praguejou se ressentindo de uma ligeira dor no lado esquerdo da cabeça, consequência das várias doses de uísque consumidas na noite anterior, nada que um copo de água e uma aspirina não resolvessem.

Deixou-se cair no sofá contemplando a tinta do teto como quem contempla uma pintura de Miguel Angelo,sobre o tapete uma tigela com flocos nadando no leite fresco e os papeis com informações sobre o mais recente caso correndo todos os riscos de serem lambuzados.

Na noite anterior havia descoberto o nome do agente que há vinte anos investigara o assassinato de Sara Parker, Jim Bone estava reformado agora vivendo num bairro sossegado há duas horas dali, pensou em encontra-lo logo em seguida, não seria pra ele uma tarefa difícil, so precisava de esperar mais um tempo, mal suas dores de cabeça decidissem lhe dar alguma paz iria ao encontro do velho Jim Bone e tentar arrancar dele qualquer informação que simplificasse sua busca.

Do outro lado da cidade Liliane Parker despertara ansiosa e estranhamente feliz, seus cabelos pareciam mais negros naquela manhã, sua pele mais macia ainda e sua consciência talvez duas vezes mais leve, pela primeira vez nos últimos anos soltou um sorriso pra ela mesma diante do espelho, um sorriso natural, não aqueles ensaiados diante das camaras fotográficas.

Numa pequena chávena serviu-se de um pouco de café enquanto mastigava as crocantes torradas feitas por Dona Anne Marie sua fiel governanta desde quando começara a ganhar os primeiros dólares em desfiles e campanhas de moda. Na verdade Liliane Parker possuía uma alma de menina presa em um corpo de mulher, apesar de sua beleza a impedir de ser discreta nunca foi o tipo de mulher que vive empinando o nariz, talvez as pessoas se deixassem intimidar por sua aparência e pelo mundo glamoroso em que os artistas fingem viver, mas depois de conhecê-la melhor era impossível não se deixar cativar pelo seu carácter.

-Parece que você acordou bem disposta hoje-disse-lhe Anne com alguma doçura enquanto a observava devorando tudo o que via pela frente.

Anne Era uma mulher já a caminho dos cinquenta com algumas rugas espreitando em seu rosto e uns poucos fios de cabelo esbranquiçados surgindo em sua cabeça fruto da sabedoria que a gente carrega quando a vida nos ensina a aprender.

À SETE CHAVESWhere stories live. Discover now