Capítulo 8

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Um sol preguiçoso espreitava por entre os longos edifícios, era estranho vê-lo ali quando a madrugada toda fora fria e húmida dando a sensação de que aproximavam-se outros dias cinzentos.

Na mesa de uma lanchonete David desfolhava o jornal enquanto esperava pacientemente que seu café arrefecesse na companhia de finas torradas e um pequeno prato de salsichas alemãs. Mais uma vez topou com o rosto de Jason Harrigan bem na primeira página com escrita em enormes letras garrafais "procurado pelo FBI" pra seu espanto o caso havia sido entregue agora oficialmente ao FBI.

No final da tarde anterior, numa reunião de emergência, o próprio ministro do interior obrigou a polícia de Nova Iorque a simplesmente seguir ordens de uma equipe do FBI chefiada por Jack Mcalister, um homem duro e implacável conhecido por resolver seus problemas com os criminosos à base da bala, pra Jénnifer foi frustrante, ela amarrou o rosto engolindo toda a raiva que sentia, ainda assim não havia nada que ela pudesse fazer.

David se questionava agora se o arrogante Jack e sua equipa seriam capazxes de pegar Jason Harrigan, principalmente quando eles quase nada sabiam a respeito do homem que procuravam.

-filho da mãe!-murmurou antes de elevar a chávena até aos lábios.-eles nem se quer fazem ideia do que o maldito Harrigan é capaz.- pôs-se agora a mastigar um pedaço de pão.

Deslizou os dedos sobre o ecrã do telemóvel após ele ter vibrado sobre a mesa como um pequeno terramoto. Era uma mensagem de sua ex esposa "o aniversário de seu filho é na próxima semana, me avise se você tiver algo mais importante por fazer, assim ninguém precisa se dar o trabalho de esperar por você" cerrou os dentes morrendo de raiva, ela de facto tinha o poder de tirá-lo do sério sem fazer o mínimo esforço pra isso.

-vá pra o inferno.- largou o telemóvel com alguma violência.

Permitiu que o café amargo e quente passeasse pela sua língua e continuou mergulhado naquelas enormes páginas como buscando por algo específico.

Instantes depois Jénnifer sentava-se de frente a ele. Ela retirou o longo casaco e pousou-o apressadamente sobre a cadeira, ainda com o ar de quem acabava de ter uma péssima noite, olhou pra garçonete abrigada detrás do balcão e gesticulou com os dedos magros pedindo por um café.

-você viu as notícias?- perguntou pra David que continuava com o olhar fixo às páginas daquele jornal.

-estou vendo agora.-ele respirou fundo.-como aqueles idiotas tiraram o caso das mãos de vocês pra entrega-lo aos palhaços do FBI?-questionou revoltado.

-não era de se esperar algo diferente-ela respondeu -era so questão de tempo até isso acontecer.sempre foi assim, a gente faz o trabalhinho sujo e quando estamos a um passo de pegar os mauzões os homens de fato entram em cena e ficam com os créditos.

-o idiota do Mcalister está chefiando a operação?

-você nem imagina como foi chato vê-lo revirando o meu distrito, dando ordens ao me pessoal com aquele ar arrogante e prepotente, se achando o dono do mundo quando mal consegue controlar a própria esposa.-ela abanou a cabeça.

-eu nunca acreditei em cooperação com aquele bando de urubus.- com a ponta dos dedos ele ergueu a chávena de café.- não me diga que você deu pra eles as informações sobre Harrigan e Clint.- parecia preocupado agora.

-não, não dei.- ela abanou a cabeça em negação- Mas por instante pensei sobre isso, eu não posso guardar comigo informações que podem ajudá-los a resolver o caso e colocar tanto o Harrigan como o Clint detrás das grades.

-e dar ao FBI a glória de ter resolvido mais um caso que o preguiçoso departamento de polícia de Nova Iorque foi incapaz de resolver? Porque é exatamente assim que a imprensa vê a coisa cada vez em que você abre mão de um caso e entrega de bandeja ao Mcalister.- fitou-a nos olhos com alguma seriedade.- olha Jénnifer,quando eu...quando a gente começou investigando sobre a morte de Sarah Parker era tudo um caso arquivado, ninguém dava a mínima pra isso! Agora que a gente chegou onde chegou, agora que um assassino à solta faz manchetes em todos os jornais, parece que todo o mundo quer ter a glória de resolver o enigma, como se andassem atrás do assassino de John Kennedy . A gente não pode permitir que esses filhos da puta ganhem promoções às custa de mortes de pessoas inocentes.

Com uma bandeja entre as mãos a garçonete aproximou-se em passos lentos e pousou sobre a mesa um café pra Jénnifer. ela, calada por curtos instantes ia girando a pequena colher açucarando o café, David a acompanhava igualmente em silêncio.

-há outra coisa que você precisa saber.-ergueu a colher até à boca sentindo o açúcar.

-o que foi?- ele pergutou com alguma curiosidade.

-eu segui seus conselhos. Nesse momento tenho dois homens vigiando os passos do maldito Henry Clint, e o mais importante, temos o telefone dele sob escuta.-ela esticou o braço até o outro lado da mesa alcançando um pedaço das deliciosas torradas.- Ele andou falando com o Harrigan nessa madrugada, e pelo teor da conversa arrisco em dizer que temos provas suficientes do envolvimento dele pelo menos nas mortes da ex esposa e de Sarah Parker.

-parece que nem tudo está contra nós.- David respirou de alívio.

-mas nem preciso te dizer o quanto tudo isso é ilegal. Precisaremos convencer um juiz a aceitar tais gravações como provas.

-até onde sei você sempre foi boa em convencer pessoas.-ele soltou um sorriso.

-droga Dave, eu estou falando sério. Se você quer realmente que a gente meta as mãos naqueles dois antes do FBI, eu te aconselho a ir pensando em alguém que nos ajude na legalização dessas provas.

Ele lançou o olhar pra os lados.

-e você conseguiu rastrear a chamada?- falou agora em tom baixo, com algum receio de ser ouvido.- alguma informação sobre a localização do Harrigan?

-não chegamos a tanto...mas tenho quase a certeza de que ele não abandonou a cidade, ele não vai sair no Nova Iorque, não sem antes eliminar todas as pontas soltas que o ligam ao Clint.- ergueu a pequena chávena – numa coisa você tem razão Dave, Jason Harrigan estaria disposto a dar sua vida em troco da de Henry Clint caso seja necessário. Ainda que a gente o pegue, ele nunca confessará o envolvimento de seu velho amigo em nenhum de seus crimes nojentos.

-Clint é o alfa. De alguma forma manipula o Harrigan a seu belo prazer, e ainda assim o idiota tem por ele uma devoção doentia.

-isso é muito comum entre adolescentes...é raro que aconteça com homens feitos como os dois.

David deu uma olhadela em seu relógio.

-preciso que você me faça um pequeno favor.-disse.- coloque alguém pra cuidar de Liliane Parker, eu estou receoso de que a vida dela esteja correndo perigo.

-eu vou tratar disso. Mas você devia estar mais preocupado com você mesmo.- ela deu um gole no café queimando ligeiramente a ponta da língua.- o Harrigan está claramente decidido a acabar com você.

-eu sei cuidar de mim Jénnifer, e você sabe disso melhor que ninguém.- respondeu tranquilo.

-é que as vezes olhando assim pra você, não parece. Não depois do seu divórcio.

-quando eu estiver precisando de fazer alguma terapia eu te aviso.- ajeitou a fina gravata encarnada e despediu-se de Jénnifer apenas com o olhar,ela por sua vez  acenou com os dedos da mão direita e exibiu um sorriso pequeno e tranquilo.  

À SETE CHAVESWhere stories live. Discover now