Chegava o final de mais um dia cinzento com o frio se misturando ao tímido chuvisco lentamente banhando a cidade, parecia o inverno se anunciando. Gente agasalhada com pequenos guarda-chuvas marcavam passos pela calçada, algumas mulheres, mas na sua maioria homens com fatos quase húmidos e gravatas amarradas ao pescoço.
Abrigado sob um guarda-chuva David aguardava por Jénifer ansioso em um banco á beira de um parque em Brooklyn, rodeado por gigantescos edifícios observava o céu cinzento pouco depois de ter acendido um cigarro.
Haviam passado cinco dias desde a noite em que confrontara aquele homem, mas era como se não tivesse passado um único minuto, seu corpo estava recuperado, como novo, mas sua mente ainda estava naquele beco, naquela noite chuvosa. Lembrava de cada detalhe do seu rosto, desde a pele negra ligeiramente enrugada aos olhos sombrios, podia imaginá-lo ali bem na sua frente com as gotas de chuva caindo sobre ele.
-desculpe pelo atraso Dave- Jénifer aproximou-se. Equilibrava-se sobre os saltos negros, usava um sobretudo acastanhado cobrindo-a quase por completo e um guarda-chuva preto protegia seus cabelos amarelados das pequenas gotas que caiam do céu.
David num suave aperto de mãos sentiu a pequena mão dela tremendo de frio.
-da próxima vez me avise pra que eu chegue duas horas depois.- irónico ele soltou uma nuvem de fumaça.
- Como você está?- ela perguntou enquanto se sentava.
-eu estou bem. Meu único desejo agora é colocar as mãos no pescoço daquele homem.
-vamos com calma. Eu trouxe o que você me pediu, mas daqui pra diante quem trata disso sou eu. Isso é um caso da polícia de Nova Iorque. Aquele homem matou duas pessoas na minha jurisdição. Você acha mesmo que vou ficar de braços cruzados?
David simplesmente a observava em silêncio, fingindo uma obediência da qual ele mesmo se recusava a acreditar. Era um homem teimoso, irresponsavelmente persistente, nada nesse mundo o impediria de continuar sua busca.
Ela colocou a mão debaixo do sobretudo e retirou do profundo bolso interior um envelope branco com o carimbo avermelhado por cima "FBI-confidencial" pousou-o lentamente sobre o colo de David.
-porque demorou tanto tempo?- ele questionou enquanto elevava o já curto cigarro até aos lábios pra em seguida deixar cair a beata e esmaga-la com a sola dos sapatos negros.
-eu tive que mandar a digital recolhida naquela medalhinha ser analisada na base de dados do FBI. O meu contacto levou dias pra fazer isso sem dar nas vistas.-ela deu uma olhadela pra os dois lados- Pelo sim pelo não você nunca viu esse documento, a última coisa que preciso é de ser acusada de estar passando informações pra um civil.
-eu não sou propriamente um civil, e você sabe que pode confiar em mim.
Ele abriu cuidadosamente o envelope e avistou o retrato quase que ameaçador daquele homem logo na primeira folha de papel.
-é ele?- Jénifer o questionou curiosa.
Por instantes David perdeu-se encarando aquela fotografia como se estivesse de caras com aquele homem, estava com um ar mais jovial, talvez vinte ou trinta anos mais novo, mas seu rosto era inconfundível.
-é ele, definitivamente é ele.- Respondeu com alguma raiva a mistura.
O nome do homem era Jason Harrigan, um ex militar que participara em várias missões pelo mundo até no final dos anos oitenta, momento em que desertara do exército e por fim desaparecera como fumaça sem deixar rastos. Aquele magro relatório do FBI não possuía nada além disso, um rosto, um nome e várias datas de arriscadas missões na América do sul, África austral, Vietname ou no leste da Europa, definitivamente Jason Harrigan era um daqueles homens que perseguia o perigo onde quer ele fosse, um mito dentro das forças armadas norte americanas e ainda assim o homem continuava sendo um fantasma.
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À SETE CHAVES
Misterio / SuspensoO detetive David Jones é contratado pela jovem Liliane Parker na esperança de encontrar o responsável pela morte de sua mãe passados vinte anos, um caso aparentemente simples que se revela numa verdadeira teia de crimes muito mais complexos do que e...